ISSN 2359-5191

03/10/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 94 - Sociedade - Instituto de Biociências
É preciso aproximar o saber científico do popular, diz professor da Biociências

São Paulo (AUN - USP) - “O conhecimento popular é tão válido quanto o conhecimento cientifico”, afirmou Paulo Takeo Sano, professor do Departamento de Botânica, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), durante a palestra Botânica e conhecimento popular: aproximações e distanciamento.

Para o pesquisador, é comum que, no meio acadêmico, exista uma atribuição de valores aos conhecimentos e que os saberes científicos sejam considerados melhores que os populares. “Nós [pesquisadores] temos uma tendência a considerar o popular como um saber menor, que é quase obscuro, e que, nós, homens da ciência, deveríamos iluminar as pessoas”, disse.

Apesar disso, ele acredita que é preciso buscar uma aproximação entre os dois saberes e pensar de que maneira isso será feito. Para o professor, o conhecimento gerado e discutido no ambiente acadêmico pode passar a ser de domínio público e o conhecimento geral pode ser útil para ampliar o conhecimento científico. “É preciso desfazer esse preconceito de que existe um saber científico versus um saber popular”, afirmou.

Desde o início de nossa formação escolar, encaramos o conflito entre saber popular e científico, explica Takeo Sano. De acordo com ele, ainda quando somos crianças, o conhecimento adquirido a partir de nossa vivência no mundo entra em choque com o que é ensinado na escola. “Começamos a criar paralelos: um saber operacional, somente para as provas, e o saber que vem do que eu vejo. Essas duas coisas raramente dialogam”.

Projetos de pesquisa
Como exemplos de possíveis aproximações entre os saberes, o professor apresentou projetos de pesquisa que se propunham a lidar com questões biológicas de uma forma mais humanizada. Ele admitiu que, às vezes, os pesquisadores ficam tão centrados nas questões científicas que se esquecem de olhar ao redor e prestar atenção na realidade que os cercam. “Isso pode ser muito mais rico que nosso mundinho”, opinou.

Em uma das iniciativas, o Projeto Galheiros, a equipe de pesquisa tinha como desafio diminuir o impacto da principal fonte de renda das famílias da região: o extrativismo das sempre-vivas. Essas plantas são usadas em arranjos florais, principalmente por terem aspecto de vivas, mesmo depois de arrancadas do solo.

O primeiro passo da equipe foi sugerir que os coletores buscassem plantas alternativas, que pudessem substituir a espécie ameaçada de extinção. Apesar do preço de venda muito baixo das sempre-vivas, a condição econômica das famílias tornava difícil esse processo de troca.

Segundo o biólogo, as famílias saíam de casa cedo e passavam o dia coletando. Um dia de trabalho equivalia a aproximadamente 1 quilo de sempre-vivas, que era vendido por apenas R$ 1 para os depósitos em Diamantina (MG). “Na Alemanha, chegamos a encontrar um maço de 100 gramas por US$ 400”, contou o biólogo.

Takeo Sano afirma que foi preciso entrar em contato com a realidade das famílias para encontrar uma forma de resolver o problema. “Tínhamos o desafio de interferir na cadeia produtiva, para que eles fossem mais do que extrativistas, e sim artesãos”, disse. Para apresentar alternativas, a equipe teve auxílio da ONG Terra Brasilis e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O professor conta que, com o dinheiro das vendas do artesanato, a região teve um salto na qualidade de vida, por exemplo, com a construção de uma escola para a comunidade. “As crianças tinham que andar 3 quilômetros para pegar um ônibus que as levaria para a escola. E depois voltavam direto para o campo, onde ajudavam na coleta das sempre-vivas”, relatou. “Com uma escola mais perto, a evasão escolar diminuiu drasticamente”.

Para o pesquisador, com a presença do projeto, a comunidade teve um ganho que não pode ser estimado. “O que acho muito importante é que oferecemos para eles uma nova perspectiva de futuro. Eles tiveram uma mudança no olhar, que é impagável”, afirmou.

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