ISSN 2359-5191

24/11/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 109 - Ciência e Tecnologia - Museu de Arqueologia e Etnologia
Pontas de flecha de São Paulo dão pistas sobre a identidade de caçadores pré-históricos

São Paulo (AUN - USP) - Ao contrário do que é dito no meio arqueológico desde a década de 70, as pontas de lança ou flecha feitas em pedra pelos homens que viviam no Estado de São Paulo há cerca de 10 mil anos não fazem parte da mesma cultura daquelas produzidas pelos habitantes do Sul do Brasil no mesmo período. Estudos anteriores classificavam toda a produção das pontas dentro de uma tradição arqueológica denominada Umbu, mas ela foi perdendo a precisão, por abranger um espaço e um período de tempo muito extensos.

“O problema é que isso saiu do controle e todos os sítios arqueológicos que eram escavados e se achava qualquer ponta, não importando a aparência da ponta ou a cronologia do sítio, se dava o nome de Umbu”, conta Mercedes Okumura, pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE). Seu projeto tem como objetivo principal estudar as pontas de lança e identificar diferenças entre elas, delimitando grupos regionais e cronológicos para classificá-las de forma mais exata do que a atual.

A manutenção do conceito de cultura Umbu como se encontrava antes da pesquisa de Mercedes era inviável do ponto de vista arqueológico, pois uma área que corresponde a quatro Estados brasileiros não poderia ter uma produção homogênea, como se acreditava. “Há 10 mil anos, ou que seja 5 mil anos, ou 500 anos, as pessoas são tinham televisão, nem facebook, não tinha nada disso. O jeito de fazer as coisas se difundia de uma maneira muito mais lenta”, explica Mercedes. “Então é quase impossível haver uma ideia que os gaúchos, os paranaenses, os catarinenses e os paulistas compartilhassem. Porque isso exigira um contato mais ou menos freqüente entre as pessoas”.

Além da questão espacial, o período de tempo muito longo também é um fator de enfraquecimento do conceito de Umbu. “É muito esquisito imaginar que as pessoas não mudaram o jeito de fazer as coisas durante 10 mil anos. Se a gente pensasse nisso, por exemplo, poderíamos dizer que somos ainda gregos – o que mesmo assim foi muito mais recente”, alerta a pesquisadora.

Por que pontas?
Não foi à toa que Mercedes escolheu as pontas de lança ou de flecha para sua pesquisa. Por meio delas é possível avaliar o estilo de cada grupo de pessoas, que está ligado à identidade desse grupo. Isso porque, além da função comum a todas as pontas, que é perfurar, elas possuem uma parte chamada pedúnculo, cuja função é prender a ponta à sua haste. Apesar de o pedúnculo ter também uma função fixa, sua forma varia bastante.

Entre as amostras de São Paulo, que são principalmente as do sítio arqueológico de Rio Claro, nota-se que a maioria dos pedúnculos é do tipo afilado, ou seja, meio triangular. Já na região Sul, predomina o tipo bifurcado. Essa acentuada diferença de estilo e, conseqüentemente, de identidade entre os paulistas e os sulinos é a primeira evidência concreta dos erros cometidos na delimitação da Tradição Umbu. “São Paulo é outro mundo, ao contrário do que os arqueólogos pensavam quando classificaram tudo dentro da cultura Umbu”, afirma Mercedes.

Esse resultado ainda é o começo da pesquisa de Mercedes, que está no primeiro ano de seu pós-doutorado. Seu próximo passo será tentar encontrar mudanças cronológicas nas amostras. Para tanto, ela está se utilizando de métodos estatísticos avançados, uma abordagem pioneira no Brasil.

E o resto do Sul?
A diferença entre São Paulo e a região Sul é sem dúvida a mais notável, mas os Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná também compõem uma área muito extensa para ser considerada homogênea arqueologicamente. “Como a análise é comparativa, São Paulo, que é tão estranho à região Sul, faz com que o Sul fique parecendo uma coisa só”, explica a arqueóloga. “Mas agora que já tenho claro que São Paulo é algo completamente diferente, pretendo rodar as análises estatísticas olhando apenas para o Sul e tentar ver diferenças entre elas”, conclui.

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