ISSN 2359-5191

31/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 35 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Tradição e saber científico são debatidos na Semana de Ciências Sociais

São Paulo (AUN - USP) - A metalinguagem marcou a segunda mesa da oitava Semana de Ciências Sociais da USP, que teve como tema Formas de conhecimento: ciência moderna, conhecimento tradicional e tradição oral. Presentes, estavam representantes do “suposto” saber científico em contraposição com um representante do conhecimento tradicional.

No entanto, o debate questionou e derrubou esses conceitos. Os convidados eram os professores Stélio Marras, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), e Dominique Gallois, da Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Também estava presente Sinei Martins, membro da Comunidade Quilombola do Cantinho, localizada em Paraty, Rio de Janeiro.

Em sua fala, Stélio Marras questionou a normatização da dicotomia entre conhecimento científico e conhecimento tradicional. Segundo ele, existe a falsa noção que a tradição trabalha com um sistema fechado e em permanência, enquanto a ciência representa uma abertura em constante mudança.

Stélio desmonta essa normatividade ao apontar como exemplo a física newtoniana, desenvolvida há três séculos e ainda em uso, e o fato de que as tradições possuem períodos de mudança e adaptação durante a história.

Dominique Gallois debateu o tema por meio da visão das políticas públicas que incidem no patrimônio cultural e na tradição de povos vítimas do colonialismo e do neocolonialismo. Para ela, essas políticas causam problemas e oportunidades. De um lado, existe o resgate de uma identidade cultural contraposto com a errônea normatização do conceito de tradição.

Ao normatizar o conhecimento tradicional como algo fixo e local, as autoridades acabam por impor uma perpetuação cultural que não corresponde à fluidez da tradição. Para ela, a “tradição aparece quando desaparece”, ou seja, se renova com a sua perda. Além disso, as políticas públicas acabam inibindo a universalização desse conhecimento, uma característica importante da tradição, que é capaz de circular entre os povos.

Mas foi na fala de Sinei Martins que o debate acadêmico sobre tradição e ciência alcançou o patamar da realidade. Membro de uma comunidade quilombola que hoje está em sua sétima geração, ele deu seu depoimento sobre como foi o resgate da identidade cultural de seu povo.

A Comunidade Quilombola do Cantinho vive distante do centro de Paraty, é sustentada pelo turismo de base comunitária e tradicional, mas é cortada pela rodovia Rio-Santos.

Seu testemunho vai ao encontro das falas de Marras e Gallois. A vida na comunidade e a transmissão de sua cultura de geração em geração contrapostas com a interferência do mundo exterior confirmam a adaptabilidade do conhecimento tradicional, a importância no resgate de uma identidade supostamente perdida e a capacidade de universalização da cultura.

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