ISSN 2359-5191

25/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 52 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisa foca em cognição com base em homens e formigas

São Paulo (AUN - USP) - O Laboratório de Ciências da Cognição do Instituto de Biociências (IB) da USP trabalha com dois projetos que, por mais diferentes que possam parecer, procuram entender a mesma coisa: o funcionamento do sistema nervoso central em relação à memória e a atenção.

Em um dos ramos da pesquisa estuda-se a reação de pessoas a estímulos controlados em laboratório. Voluntários apertam botões e a probabilidade de cada botão ser acionado, uma vez que outro o foi anteriormente, é o caminho para entender como nosso cérebro aprendeu a executar tarefas. Transferindo o exemplo dos botões para situações cotidianas, um evento poderia determinar qual seria a ação adota pelo indivíduo e o evento que viria após essa ação. Quanto mais fácil é fazer essa aposta nas consequências, mais rápida a tarefa é executada. É assim que aprendemos e memorizamos, segundo o professor André Frazão Helene, coordenador do laboratório.

Com base nesse padrão de experimento, vários caminhos foram tentados. Inicialmente os pesquisadores envolvidos apenas descreveram o experimento: “Uma descrição pura e simples do que acontecia, do quanto as pessoas fazem apostas, de qual o problema que isso gera, de como que se dá a curva de distribuição das probabilidades, de qual o melhor jeito de se calcular essas probabilidades”, esclarece Helene. Com a descrição feita, o modelo estava pronto para ser aplicado a outras situações, pois conseguiram esclarecer quais os desafios que uma tarefa gera no cérebro. “Tudo isso pode parecer uma coisa meio estranha”, comenta o pesquisador mostrando que sua pesquisa apresenta um lado prático, “mas estamos tentando avaliar agora o quanto esse tipo de experimento pode ser útil em terapias nas quais seja necessária uma imobilização”. Além de terapias, esses experimentos também poderiam ser aplicados em esportes.

“Já que estamos dentro da biologia, questionamos o quanto poderíamos transferir desse tipo de entendimento sobre cognição para outros organismos.” Foi assim que surgiu a segunda vertente da pesquisa de Helene, que dessa vez trabalha com formigas. Mas as formigas não foram a primeira opção, o professor conta que primeiro testaram em ratos e depois pensaram em aranhas.

“Os estudos de cognição têm um histórico que sempre tentou separar a ideia de como funcionava o sistema nervoso central e de como a cognição, a consciência ou a inteligência se desenvolveram em pessoas e em todos os outros grupos de animais”, explica. “É uma obrigação nossa, como consequência de entender a vida como um processo evolutivo, criar modelos que sejam capazes de explicar tudo isso desse ponto de vista.” Os experimentos com ratos foram abandonados por que o modelo estava muito próximo do humano, as formigas são mais distantes e ajudariam Helene a fazer seu modelo evolutivo.

Dentre tantos outros animais, as formigas foram escolhidas por conta de duas características marcantes: a simplicidade do organismo e a sofisticação da ação coletiva. O pesquisador cogita que as soluções de problemas não sejam somente encontradas no sistema nervoso central, mas também em outros sistemas e o estudo da ação coletiva de formigas poderia provar esse ponto, “como se o coletivo fosse um superorganismo”, ou como se um formigueiro fosse um cérebro.

André admite que há um aspecto especulativo muito grande em sua pesquisa, mas afirma que trabalhar com formigas é bem mais fácil por uma questão de escala. Enquanto não é possível trabalhar separadamente com cada neurônio humano, as formigas são indivíduos que podem ser muito bem observados. “Talvez a gente consiga entender melhor como sistemas que são muito grandes e que tenham um poder que depende da interação de cada um dos elementos conseguem gerar soluções para problemas externos.”

André espera ver as formigas adotando soluções já adotadas por humanos de maneira mecanizada e entender esse comportamento seria esclarecer como as formigas se comunicam, uma vez que as soluções são adotadas por todo o formigueiro e não por indivíduos.

Atualmente, a pesquisa se encontra na etapa de provar que as formigas são capazes de gerar soluções complexas, ao contrário do que se acreditava até então. O pesquisador aposta que as trilhas de formigas não são resultado de uma marcação simples que são seguidas de uma única forma, como se acreditava até então. Mas ainda precisa de dados conclusivos, o que depende de um aparato tecnológico que ainda está sendo estruturado pelo laboratório em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC).

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