São Paulo (AUN - USP) -No dia 5 de novembro, a Agência de Comunicações ECA Jr. promoveu a primeira palestra do Ciclorama 9, evento tradicional que acontece desde 2004 na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Com o tema Interação ou não? As novas formas de comunicação entre marca e consumidor, o evento buscou neste ano explorar de que forma as organizações tem estruturado os processos comunicacionais para se relacionar com um consumidor cada vez mais exigente, informado e ativo.
Na abertura, o convidado foi Luli Radfahrer, professor da ECA especialista em comunicação digital, que ministrou a palestra “A publicidade morreu. O que você está fazendo aqui?”. Para ele, a fórmula das propagandas está esgotada e é preciso pensar em novas maneiras generalistas e pragmáticas para atrair consumidores.
Radfahrer apresentou casos de como as propagandas historicamente possuíram sempre os mesmos valores, caracterizados por ele como fúteis, preconceituosos e efêmeros. “A publicidade cria o mais o que há de mais podre na sociedade. Esqueça as agências e empresas. Os melhores produtos não precisam de propaganda”, apontou. Como exemplos, ele citou grandes empresas como o Google, o Facebook e o Youtube, além da própria Internet. “Qual foi a última vez que um anúncio de televisão mudou a sua cabeça? Quem muda a sua cabeça são essas ferramentas. E você nunca viu um anúncio que te fez usar alguma delas”, disse.
Para ele, além de sua ineficiência, a propaganda criou ao longo do tempo diversas tendências na sociedade de consumo, que a tornaram mais fútil e consumista. Uma delas é o Personal Hacking, que faz com que as pessoas fiquem descontentes com sua própria aparência e busquem maneiras de se equiparar às celebridades. Outro problema é o Cyber Bullying, no momento em que ela cria modelos que discriminam quem não se adeque ao padrão. “Países onde a publicidade é mais forte possuem mais casos de depressão”, contou o professor.
Com isso, fica claro a falência das atuais formas de propaganda, já que uma sociedade mais dinâmica e consciente exige novos relacionamentos com o cliente. Em um ambiente global saturado de informações e anúncios, torna-se cada vez mais difícil atrair a atenção das pessoas com propagandas tão desgastadas e cheias de estereótipos. A mesma ideia é utilizada inúmeras vezes, sempre se valendo do senso comum e reforçando as desigualdades. Para Radfahrer, “as pessoas estão tentando diminuir a quantidade de estímulos que recebem e, por isso, começando a fugir do mundo da propaganda, que é muito irritante”.
Ele propõe que se observem experiências de ponta ao redor do mundo e que se invista em transparência, em música, vídeo, transmídia, redes sociais, internet e colaboração. Com a preponderância do meio digital sobre todos os outros, torna-se vital que ele seja utilizado de modo acrescentar novas visões e ideias para o mundo dos comerciais, investindo em uma relação colaborativa que interaja com o consumidor. “A antiga fórmula já não cabe mais em um ambiente social personalizado e contextual. Se nos anos 80 a cultura egoísta era guiada pelo just do it [faça isso], a sociedade do século 21 pode estar caminhando para umi’m sick of doing it[estou cansado de fazer isso]”.