ISSN 2359-5191

18/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 135 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Cineasta roteiriza discussões de gênero e raça

São Paulo (AUN - USP) - O cineasta graduado bacharel em 2007, no curso superior do audiovisual da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Renato Cândido de Lima, desenvolveu uma pesquisa de mestrado em ciências da comunicação, realizada entre os anos de 2009 e 2011, que abordava os temas de desigualdade racial e de gênero na sociedade. A curiosidade ficou por conta do formato em que o trabalho foi montado e defendido, um roteiro de filme em longa-metragem, com o título de Menina Mulher da Pele Preta.

Atualmente um profissional da área de audiovisual, Lima comenta sobre suas motivações para a realização da pesquisa. “Este tema é oriundo da minha jornada na universidade. É muito comum para os afrodescendentes entrarem neste ambiente e se depararem com uma estrutura acadêmica que, na minha opinião, valoriza uma lógica branca, ou ‘embranquecedora’”, relata. “Isto pressupõe que você tenha que estar a par de certos códigos que são fruto de exercícios de poder envoltos na ideia de ‘branquitude.’”

Apesar de ter tido as observações potencializadas pelo universo acadêmico em que estava, o cineasta acredita que o problema não era exclusividade daquele espaço. “Na verdade, acredito que este tipo de lógica está presente na nossa sociedade de uma forma geral, minha experiência foi apenas acentuada por viver isso de perto na faculdade”. Com o tema em mãos, o pesquisador partiu para as buscas bibliográficas que possibilitassem maior entendimento. “Li Frantz Fanon, Gilberto Freire e Florestan Fernandes, por exemplo. Meus estudos me levaram a estreitar o alvo da pesquisa para o gênero feminino, o universo da mulher negra”, conta.

Outro fator que gerou interesse do autor em realizar um trabalho focado na mulher negra foi uma percepção pessoal “interessante”, conforme classifica. “Dadas as formas com que as mulheres negras são apresentadas, percebi que, na minha adolescência, só tinha me apaixonado por garotas loiras, sem nem cogitar viver com uma mulher negra. Se pensar bem, o comportamento da sociedade fez com que mulheres negras acabassem invisíveis para mim”. Ele também aborda o problema de maneira mais direta. “O que acontece é a presença do racismo em forma de linguagem da sociedade. É uma moeda de troca que você usa sem se dar conta, mantendo os lugares sociais rígidos, mesmo havendo interação.”

Desde a graduação sob orientação da professora da ECA, Esther Hamburger, Lima aproveitou projeto utilizado em seu trabalho de conclusão de curso, complementando-o para o mestrado. “Minha pesquisa trazia a roteirização da série Sociedade Anônima, na qual tinha duas histórias com protagonistas negras. Depois, escrevi outras três histórias e as reuni, sem cruzar as cinco histórias. São uma coletânea de curtas, no mesmo roteiro”, relata.

Com apenas uma das histórias já produzida, o pesquisador afirma que o objetivo é fazer o mesmo com as demais. “Mandarei a proposta para a Ancine [Agência Nacional do Cinema], quero fortalecer o projeto, acho que hoje é um filme necessário, pelas discussões que levanta, como o lugar da mulher negra no ideário das pessoas, ou o motivo de uma pessoa negra que ascende socialmente acabar preterindo contato com outros negros, por exemplo.”

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