ISSN 2359-5191

27/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 72 - Meio Ambiente - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Pesquisa relaciona aumento do registro de tornados com maior cobertura jornalística
Fenômenos são cada vez mais noticiados, mas isso não necessariamente indica que aumentaram de frequência

Um tornado atingiu a cidade de Taquarituba, a 320 km de São Paulo, e causou duas mortes, além danos à estrutura física do município que levarão anos para serem reparados. O fenômeno ocorreu no dia 22 de setembro, quando se iniciou a primavera no Hemisfério Sul. Acontecimentos como esse parecem ser raros no Brasil, mas seus registros vêm aumentando com o passar do tempo.

Uma pesquisa realizada pela professora Maria Assunção Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, abordou o aumento da incidência desse fenômeno em nosso País. No artigo An Increase in the Number of Tornado Reports in Brazil, a professora aponta para a relação entre a densidade demográfica de determinadas regiões do País e o registro de tornados. Mais do que efetivamente estarem ocorrendo com maior frequência, esses fenômenos naturais estão sendo mais percebidos pela população. Por terem uma duração curta – dificilmente passam dos 20 minutos – os tornados só costumam ser registrados se ocorrerem em regiões povoadas, casos em que também causam as maiores destruições.

Maria destaca a importância da mídia local na cobertura de casos de tornados. Por terem equipes pequenas, uma simples ligação mobiliza pessoal a tempo de registrar o fenômeno, o que garante que ele será divulgado na região e mesmo noticiado em cadeia nacional. A região Sul, por exemplo, tem a maior concentração de afiliadas da Rede Globo por quilômetro quadrado e também o maior registro de tornados no país. Além da maior cobertura noticiosa, a região é a mais próxima geograficamente do norte da Argentina, área de maior incidência de tornados na América do Sul. A região Sul também possui a segunda maior densidade demográfica do país, o que é mais um fator que contribui para que os tornados sejam notados e contabilizados.

O monitoramento desses fenômenos acaba sendo feito principalmente por meio do trabalho da imprensa, uma vez que o país não possui um órgão especializado nessa questão. “Não existe monitoramento pois para o registro objetivo são necessários radares de alta resolução que existem em apenas alguns locais e não cobrem as regiões com maior incidência de tornados”, afirma a professora do IAG. Os tornados são fenômenos relativamente pequenos, apesar de toda destruição que podem provocar, e os radares existentes no Brasil não conseguem detectá-los. Sem essa detecção não é possível fazer um registro das regiões onde a incidência desses fenômenos é maior, o que compromete esforços de prevenção de desastres naturais. “Identificar regiões de maior incidência motivaria a instalação de atividades de monitoramento específicas com alertas que poderiam salvar vidas”, aponta.

Tornados são formados por colunas de ar que vão do solo até uma nuvem e giram no formado de um redemoinho. O ar presente do interior do tornado pode se movimentar a mais de 400 km/h. O que atingiu Taquarituba teve ventos de mais de 100 km/h, classificando-se na categoria F1 da escala que vai até F5, quando os ventos passam de 420 km/h. Como demonstra a sua classificação, o tornado de Taquarituba pode ser considerado um fenômeno de baixa intensidade, mas o fato de ter ocorrido em uma área habitada multiplicou seu impacto e os danos causados por sua passagem.

O estudo realizado por Maria Assunção aponta, ainda, para a possibilidade do número de tornados no território brasileiro estar realmente aumentado, devido a mudanças climáticas. Porém, não há como se ter certeza sobre esse fato, uma vez que grandes porções do país ainda permanecem sem cobertura da imprensa para registrar os tornados ou estações meteorológicas que coletem os dados sobre essas ocorrências. Enquanto não houver uma distribuição mais uniforme das informações sobre a incidência desses fenômenos, fica difícil confirmar se eles estão aumentando em número ou apenas sendo mais notados.

A professora finaliza a pesquisa destacando a importância de se ter um registro oficial dos tornados no país. A contagem realizada por veículos não governamentais, como sites dedicados a relatar a ocorrência desses fenômenos, aponta para um número maior de tornados do que o registrado na literatura científica. O caso de Taquarituba comprova que mesmo tornados de baixa intensidade podem provocar danos graves.  Continuar sem ter nenhum tipo de controle sobre a incidência desses fenômenos facilita que a vida e propriedade dos brasileiros fiquem em risco.

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