O Grupo Metrópole Fluvial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), especializado na pesquisa de infraestruturas fluviais, articula, juntamente com o governo do Estado de São Paulo, a implementação de uma hidrovia na Grande São Paulo. O projeto consiste em criar uma rede navegável que integre os rios Tietê e Pinheiros, e as represas Billings e Taiaçupeba, as quais seriam interligadas por um canal artificial. Além disso, 20 eclusas — estruturas de elevação de embarcações — seriam construídas para conectar os rios e represas do percurso, que conta com 170 quilômetros. O hidroanel suporta o transporte de cargas como entulhos, lixo urbano, produtos comercializáveis (como hortifrutigranjeiros) e passageiros.
Um dos coordenadores do grupo, Alexandre Delijaicov, exemplifica as melhoras que um percurso fluvial traria ao tráfego urbano. "Na margem esquerda da [Represa de] Guarapiranga moram uma série de pessoas que, provavelmente, podem trabalhar na margem direita", diz. "Mas, só tem um eixo para sair da margem esquerda. Tudo afunila, vira um congestionamento crônico". O professor defende, em casos parecidos com esse, o uso das travessias lacustres. "Se, com o Bilhete Único, tivéssemos a ligação ônibus e barco, reduziria significativamente o tempo gasto dentro de um transporte".
O professor diz que, em São Paulo, já existem cinco hidrovias latentes: o canal do rio Tietê, que possui 44 quilômetros de extensão e que, junto à barragem móvel do Cebolão, tem uma eclusa instalada; os canais, inferior e superior do rio Pinheiros, desnivelados em 5 metros um do outro, de 25 quilômetros conjuntos de extensão; e as Represas de Guarapiranga e Billings. Tais hidrovias poderiam possuir redes de transporte de cargas e passageiros, não seriam necessários investimentos ou projetos novos.
Porém, pouco se utiliza o transporte público por rios devido à supervalorização das rodovias. "O modal rodoviário sufocou os outros. Não é verdade que a navegação é uma tecnologia ultrapassada", afirma o pesquisador. "A dimensão multimodal sempre existirá. Focar em somente um modelo não é inteligente". Delijaicov ressalta que a predominância dos automóveis deve-se a um reflexo da prioridade que as cidades dão ao mercado. Uma cidade baseada no transporte privado sinaliza um desvio na proposta social urbana. É uma metrópole que centraliza seus trabalhos no individualismo do mercado capitalista.
A utilização múltipla do modal fluvial, porém, não se restringe à navegação. "Os rios urbanos são estratégicos para a saúde pública, para a formação do cidadão e para o bem estar", ressalta Delijaicov. O hidroanel possui também uma dimensão de cais cultural. Seu projeto inclui a construção de áreas de lazer e convivência, na forma de 60 Eco-portos. "Usamos palavras-chave: o parque e o porto, a praia e o cais. O projeto promove o encontro das diferenças".