ISSN 2359-5191

08/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 96 - Saúde - Escola de Enfermagem
Idosos devem ser incluídos no combate ao HIV e à aids

Pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP aponta para a importância dos profissionais de saúde englobarem os idosos como sujeitos coautores das ações direcionadas à prevenção da aids para que haja um maior avanço na luta contra a epidemia. De acordo com a pesquisadora Rúbia Alencar, há um diagnóstico tardio do vírus HIV entre os idosos que está diretamente relacionado ao estigma que os profissionais de saúde apresentam em relação a esta faixa de pacientes.

Ao atuar como professora de saúde coletiva, a enfermeira Rúbia verificou que inúmeros profissionais de saúde que atuavam na atenção básica não solicitavam exame de HIV para pacientes da terceira idade, e que muitos deles foram diagnosticados somente após apresentarem doenças oportunistas. Motivada por essas observações e com o objetivo de conhecer qual o caminho percorrido pelos idosos até o diagnóstico de HIV, bem como compreender quais as situações que levam médicos e enfermeiros a solicitarem o exame, foi realizada a pesquisa O idoso vivendo com HIV/AIDS: a sexualidade, as vulnerabilidades e os enfrentamentos na atenção básica, orientada pela professora Suely Itsuko Ciosak.

O estudo foi desenvolvido em dois lugares distintos. As entrevistas com  idosos que vivem com HIV e que tiveram o diagnóstico com 60 anos ou mais ocorreram no Serviço de Ambulatórios Especializados de Infectologia “Domingos Alves Meira” (SAEI/DAM) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) veiculada à Universidade Estadual Paulista (UNESP) e foram ouvidos 11 pacientes que se enquadravam nesses requisitos.Os profissionais de saúde foram contatados em todas as unidades com saúde da família do município de Botucatu e 11 enfermeiros e 12 médicos que atuam no modelo assistencial Estratégia Saúde da Família participaram das entrevistas.

Segundo Rúbia, a maior dificuldade no desenvolvimento do estudo foi a realização das entrevistas, pois durante elas os pacientes relembravam todo o contexto em que aconteceu o diagnóstico e muitos se emocionavam. “Após cada entrevista que realizava era preciso ter um tempo para assimilar todas aquelas informações, pois foi algo que mexeu muito comigo. Saia diferente após cada conversa. Foram muitas emoções”, diz.

O idoso e o HIV

A pesquisa chama atenção para necessidade dos profissionais de saúde compreenderem que o idoso tem vida sexual ativa e que ela precisa ser abordada: “O tema ainda está tão cercado de preconceitos e tabus que, muitas vezes, faz o profissional acreditar que estaria desrespeitando o idoso, no caso de perguntar sobre a sua vida sexual”, diz Rúbia. De acordo com os resultados, a transmissão, em todos os pacientes do estudo, aconteceu por via sexual.

Com a expectativa de vida cada vez maior, as pessoas tendem naturalmente a estender o período sexualmente ativo, o que precisa ser levado em conta no momento da consulta. Além dos profissionais de saúde muitas vezes ignorarem a vida sexual de seus pacientes, a pesquisa aponta que os próprios idosos não se previnem, pois não se consideram vulneráveis pela infecção do vírus. Para mudar essa mentalidade e educar sexualmente essa parcela da população, os serviços de saúde devem construir, em conjunto com os idosos e em seu real cotidiano, novas reflexões e novos planos de ação. De acordo com a enfermeira, deve haver envolvimento dos próprios idosos no desenvolvimento de ações educativas direcionadas para terceira idade e é preciso que ocorra a implantação de novos conteúdos de capacitação para os profissionais, a fim de quebrar tabus, estabelecer novos paradigmas e reorientar as práticas de atendimento a esses pacientes. “Há uma necessidade urgente das instituições que formam os profissionais de saúde investirem em conteúdos sobre a saúde do idoso com enfoque para sexualidade”, diz.

A pesquisadora afirma que, além das instituições responsáveis pela formação de médicos e enfermeiros, os programas de treinamento para a atuação na atenção primária devem incentivar um olhar para o idoso que o valorize como ser social e sexualmente ativo. “Acredita-se que, a partir do momento em que houver profissionais de saúde com esse olhar, será possível proporcionar ao idoso a sua emancipação.”

Mais informações com Rúbia Alencar, professora Assistente Doutora junto a Disciplina de Enfermagem em Doenças Transmissíveis do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP: rubiaalencar@usp.br ou rubia@fmb.unesp.br.

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