ISSN 2359-5191

12/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 97 - Sociedade - Instituto de Estudos Avançados
IEA, USP e Ipea investigam aparente apagão de engenheiros
Em artigo, pesquisadores concluem que não há risco de escassez generalizada de profissionais da área da Engenharia, ainda que se reconheçam alguns sinais de pressões de curto prazo no mercado de trabalho
A conclusão é que não há riscos de um apagão generalizado e que como os cursos da area voltaram a atrair alunos, a oferta de engenheiros vai aumentar. Foto: Mauro Bellesa

A discussão acerca do programa Mais Médicos suscitou especulações sobre a carência - ou não - de profissionais de outras áreas. Um dos Núcleos de Pesquisa do Instituto de Estudos Avançados, em parceira com outros pesquisadores da USP e do Ipea, resolveu explorar as causas desse aparante “apagão” desses profissionais. Os pesquisadores Leonardo Lins e Mario Sergio Salerno discutiram questões a partir dados coletados em pesquisas feitas no projeto EngenhariaData, cujo Núcleo de Apoio à Pesquisa Observatório da Inovação e Competitividade (NAP-OIC), da Pró-Reitoria de Pesquisa, apoia e no qual Lins é coordenador desde 2009. Tais dados serviram de base para a construção de um artigo que também subsidiou discussão sobre escassez de engenheiros, que aconteceu na última terça-feira, 5. O texto tem como autores os pesquisadores da USP Mario Sergio Salerno, Leonardo Melo Lins, Bruno Cesar Pino Oliveira de Araujo, Leonardo Augusto Vasconcelos Gomes, Demétrio Toledo e Paulo Meyer Nascimento, do Ipea. De acordo com os estudos feitos, o aumento da oferta de novos engenheiros, decorrente dos cursos da área voltarem a ser atrativos, deve resolver a aparente escassez, uma vez que os cursos da área voltaram a atrair os alunos.

Tais dados, em conjunto com entrevistas feitas em empresas e análise de dados de censos populacionais, mostram um aparente paradoxo: apesar do número de formados em engenharia crescer em números maiores do que os do Produto Interno Bruto (PIB) e da grande quantidade de empregos, enfrenta-se um aparente apagão na área. Os principais eixos do debate giraram em torno das questões relacionadas as áreas da engenharia em que há essa suposta carência, em quais locais, o porque disso e quais as perspectivas diante desse panorâma.
Lins iniciou a apresentação constatando que, independentemente se há ou não escassez de engenheiros no Brasil, é preciso formar mais profissionais nessa área, pois a atividade de engenharia está diretamente ligada ao desenvolvimento tecnológico. Apesar do número de formados e de empregos na área crescerem, a rápida obsolescência tecnológica é um dos motivos pela falta de profissionais qualificados. De acordo com a Embraco, empresa de pesquisa e desenvolvimento, para determinadas especificidades há dificuldades. Estas estão mais ligadas à evolução dos produtos do que com formação. “A velocidade do mercado fez com que houvesse um gap dentro da formação”, disse Lins.
Salerno, por sua vez, argumentou que a acusação de escassez de engenheiros feita em matérias de veículos midiáticos de grande alcance - Jornal Hoje, Folha de S. Paulo e Exame - é feita em torno de muitas especulações e poucos dados. Questões são analisadas sem muito rigor e formalização. Por isso, ele enfatizou a necessidade de estruturar a qualidade do engenheiro e analisar as múltiplas dimensões do debate. Para fazer dar às críticas que fez a outras notícias, Salerno trouxe à tona hipóteses para pensar no problema.
Salerno mostrou então que a questão gira em torno de quatro problemáticas distintas das propostas. A primeira delas gira em torno da qualidade dos cursos de engenharia, pois cerca de 40% deles, no Brasil, tem conceitos 1 ou 2 no Enade e menos de 30% dos formandos vem de faculdades de ponta. Outro problema encontra-se na lacuna geracional, em que se evidencia o envelhecimento dos profissionais que trabalham nas áreas típicas de engenharia, que deixou de ser um atrativo entre as décadas de 1980 e 1990, voltando a sê-lo somente em períodos mais recentes. O terceiro ponto elencado foi a escassez de certas especialidades: não faltam engenheiros em geral, mas sim de áreas específicas. O último ponto elencado foi a diferença de investimentos entre regiões - a concentração regional de formandos em engenharia reflete a distribuição dos bons cursos ao redor do país.
Em entrevista, Salerno disse acreditar que a USP cumpre o seu papel para que exista uma formação boa de engenheiros. “Não dá para reclamar da formação da USP”. Para ele, o problema maior consiste na quantidade de vagas. “Deveria haver muito mais vagas para engenharia na USP”. O professor levantou que alguns dos cursos dentro da Escola Politécnica possuem a mesma quantidade de vagas da década de 1970, o que é polêmico para muitos dos professores da unidade.
Após a exposição desse panorâma, os pesquisadores chegaram a duas conclusões: não há risco de “apagão” de engenheiros, como nos médicos, ainda que se reconheçam alguns sinais de pressões de curto prazo no mercado de trabalho. Entretanto, como engenharia voltou a ampliar vagas de emprego e a ser um curso que atrai alunos, tais pressões tendem a decrescer. Porém mudanças estruturais rumo a uma economia mais baseada em inovação poderiam causar de fato um apagão engenheiros, já que a maioria das universidades brasileiras não qualifica o suficiente seus alunos em inovação. Portanto, o Brasil precisa de mais engenheiros para mudar de patamar produtivo. E a pesquisa apresentada tem como objetivo, justamente, transformar dados do universo da Engenharia em indicadores de inovação e competitividades no Brasil.

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