ISSN 2359-5191

02/12/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 109 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Alimento saudável reduz risco de câncer bucal mesmo para quem bebe e fuma
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Pacientes que consomem alimentos como banana, laranja, maçã, tomate, alface e cenoura com frequência  estão menos sujeitos a contraírem câncer de boca ou orofaringe. As frutas e os vegetais, ainda, são capazes de inibir os efeitos do álcool e do tabaco, fatores de risco.

Os estudos foram realizados por pesquisadores das Faculdades de Odontologia e de Saúde Pública da USP em parceria com quatro grandes hospitais¹ de São Paulo. Foram entrevistadas 296 pessoas com presença de câncer de boca (carcinoma epidermóide bucal) e outras 296 sem a doença. Os pacientes foram pareados de acordo com idade, sexo e unidade hospitalar depois de responderem questionários socioeconômicos e alimentares (que desconsideravam mudanças de dieta ocorridas nos últimos dois anos e que levavam em conta as devidas restrições) e questionários relativos ao consumo de álcool e tabaco ao longo da vida.

Por meio dessa prévia já se pôde detectar que a presença de câncer bucal foi mais frequente entre pacientes de baixas condições socioeconômicas e consumo reduzido de vegetais e frutas. Apesar de serem índices que não foram relacionados na pesquisa, “é sabido que pessoas com rendas mais baixas podem não ter condições de comprar os alimentos mais saudáveis e de maior qualidade”, conforme diz a professora do departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia Maria Gabriela Haye Biazevic, que esteve envolvida no trabalho. Também a partir das respostas, foram extraídos dados relativos ao consumo de alimentos que frequentemente são associados ao câncer, como o bacon e frituras.

A avaliação de consumo de tabaco considerou a frequência, a duração e os tipos de produto consumidos durante a vida. A exposição a ele foi calculada em termos de maços (20 cigarros) por ano. A média entre o tempo de vida consumindo tabaco entre fumantes (mais de 49 maços por ano) foi usada para definir o ponto divisor: pacientes abaixo da média  de consumo foram considerados fumantes leves, e os acima, pesados. Pacientes que disseram não ter fumado nem um cigarro por dia durante o ano todo foram considerados não-fumantes, assim como foram considerados não-bebedores aqueles que não consumiram nem uma bebida alcoólica em um mês regular.

A avaliação do consumo de álcool considerou a frequência, o volume, a duração e o tipo de bebida consumido durante a vida, e a ingestão de álcool foi medida em gramas de etanol, considerando que um litro de etanol contém 798 gramas e que cerveja contém 5% de etanol; vinho, 12%; licor, 30%; e bebidas destiladas, 41%. A exposição ao consumo de álcool foi expressa em gramas por ano. A média de consumo de álcool entre bebedores (2.754g/ano) foi igualmente considerada como ponto divisor: pacientes abaixo da média foram considerados bebedores leves e os acima, pesados.

Quase um terço dos casos e um quarto dos controles disseram não ter consumido laranjas em uma semana regular. As mesmas proporções de cada disseram também não ter o costume de consumir frutas diariamente. Ambas as variáveis que avaliaram o consumo de frutas foram associadas com câncer bucal e de orofaringe e obtiveram uma maior frequência de consumo indicando um gradiente inverso de risco. A mesma observação vale para o consumo frequente de cenoura, banana e tomates.

A associação inversa de doenças e índices de consumo de frutas e saladas permaneceu na avaliação estratificada de fumantes leves e pesados. A razão de chances estimadas para categorias de alto consumo de laranjas e maçãs classificaram números mais baixos para fumantes pesados do que os valores obtidos na avaliação da amostra total. O mesmo foi observado para o consumo de banana, alface e todas as frutas em consumidores de bebidas alcoólicas em grandes quantidades. A avaliação específica de não-fumantes e não-consumidores assíduos de álcool indicou associação estatística ausente para todas frutas e vegetais estudados.

Ainda que nenhum mecanismo biológico geral tenha sido estabelecido para explicar o efeito modulador da gordura na carcinogênese, há indícios convincentes de que lipídios na dieta podem alterar a membrana de ácidos graxos de células normais e neoplásicas. A exposição contínua do epitélio bucal às gorduras animais e saturadas pode influenciar as vias intra e intercelulares à absorção de carcinogênicos derivados do tabaco. Na ausência de uma exposição primária ao tabaco, a limpeza da mucosa oral proporcionada pelo efeito antioxidante de alguns micronutrientes não representou sintomas anticarcinogênicos significativos. Mas uma mucosa oral limpa, que se dá pela ingestão de beta-caroteno de cenouras, licopeno de tomates e vitamina C de laranjas, por exemplo, reduziria o ingresso dos carcinogênicos dissolvidos no tabaco. Isso explica porque efeito protetor de frutas e vegetais é mais eficiente em quem ingere a substância. Além disso, uma exposição igualmente contínua do epitélio oral a bebidas alcóolicas contribuiria para o efeito carcinogênico do tabaco porque o álcool também pode influenciar na absorção das vias intra e intercelulares.

 

 


¹Tatiana Natasha Toporcov, Giovanna Emann Tavares, Ligia Drovandi Braga Rotundo, Gabriela Fürst Vaccarezza, Maria Gabriela Haye Biazevic, Rosana Sarmento Brasileiro, Marcos Brasilino de Carvalho, Pedro Michaluart Junior, Luiz Paulo Kowalski & José Leopoldo Ferreira Antunes (2012): Do Tobacco and Alcohol Modify Protective Effects of Diet on Oral Carinogenesis?, Nutrition and Cancer, 64:8, 1182-1189

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