ISSN 2359-5191

02/12/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 109 - Sociedade - Faculdade de Odontologia
Medidas da face do brasileiro diferem da média mundial
Miscigenação presente no País pode ter causado diferenças sutis
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A formação facial do brasileiro é bastante semelhante à do resto da população mundial, mas a grande miscigenação presente no país pode ter causado diferenças sutis. Para a odontologia Legal, esses detalhes são imprescindíveis na reconstrução da face de um indivíduo de identidade desconhecida e não atribuída a ninguém. Essa prática objetiva reavivar a memória de pessoas com entes desaparecidos após sua divulgação, gerando um reconhecimento.

De acordo com o que foi estabelecido pelo Conselho Federal de Odontologia, “a odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis”.

Para colaborar para as pesquisas na área, estudos realizados na Faculdade de Odontologia comprovaram que a distância entre os dentes caninos em homens brasileiros correspondeu a 75% do valor total da largura da boca, o que coincide com os números já conhecidos para ambos os sexos. Mas, nas mulheres, este valor foi de 80%, variando 5% do esperado.  A proporção entre a altura da zona vermelha (também conhecida como o vermelhão dos lábios, literalmente sua região rosada, “onde se passa batom”) sobre largura da boca foi de 26% para toda a amostra, dado também coincidente.  Foram comparadas as medidas em tecidos ósseos (de sustentação) com as medidas em tecidos moles (entre a epiderme e as vísceras, com exceção dos ossos).  

Pôde-se verificar que a distância entre o ponto craniométrico localizado na parte mais anterior da crista óssea, entre os dois dentes incisivos centrais inferiores (infradentale), e o ponto na depressão entre a eminência mentoniana e as raízes dos incisivos inferiores (supramentale) correspondeu a 55% da altura da zona vermelha dos lábios para toda a amostra. A distância entre o ponto abaixo do nariz e acima do lábio superior (philtrum medium) e o ponto supramentale correspondeu a 85% e 88% da altura da zona vermelha dos lábios para homens e mulheres, respectivamente. Até então não havia estudos que determinassem as relações diretas entre tecidos moles e tecidos duros com finalidade forense.

Com isto, foram reunidas informações de interesse sobre a morfologia labial em brasileiros e também detectadas proporções em tecidos ósseos que podem ser úteis para a reconstrução dos lábios, especialmente em casos de crânios fragmentados ou com perdas de dentes pós-morte. Segundo explica Paulo Miamoto, aluno do programa de Doutorado em Ciências Odontológicas com concentração em Odontologia Legal da FO e responsável pela tese, tentou-se reunir informações que permitissem estimar o tamanho da boca somente a partir dos tecidos ósseos, ainda que estes pudessem ter sofrido uma perda de estrutura óssea ou dentária durante a decomposição.

Durante as medições, feitas por meio de um software aberto, foi mantida sob controle uma série de variáveis relacionadas a fatores que podem modificar a morfologia dos lábios e dos tecidos ósseos próximos. Determinados tratamentos odontológicos protéticos, indivíduos com ausências dentárias que pudessem atrapalhar as medições, patologias e casos de trauma e/ou cirurgias ortognáticas são alguns deles. Miamoto explica que, como a indicação para estas tomografias era tratamento eletivo odontológico ou diagnóstico, apenas 322 do acervo inicial de 815 tomografias se adequaram aos critérios de inclusão. Estavam no grupo homens e mulheres acima de 18 anos. 

Como conta o pesquisador, as similaridades esperadas com outras populações se confirmaram. Todavia, algumas das diferenças detectadas apenas reforçaram a necessidade de se desenvolver mais estudos específicos para a população brasileira, que é, de certa maneira, única do ponto de vista da antropologia forense, já que há, no Brasil, uma grande miscigenação e migração populacional.

Para fazer sua parte, o Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da Faculdade de Odontologia da USP (OFLAB-FOUSP) desenvolve uma parceria com o designer especializado em reconstrução facial forense, Cícero Moraes, e oferece um curso de introdução à reconstrução facial forense com softwares livres. Neles, os alunos aprendem todo o processo da técnica computadorizada sem a necessidade de aparelhos complexos de imaginologia como scanners e tomógrafos. As próximas turmas serão oferecidas na Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia, ligada à Faculdade de Odontologia (Fundecto-FOUSP).

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