Os impactos de meteoritos são fenômenos responsáveis por bruscas mudanças geológica, geoquímica e geofísica nas estruturas das regiões por eles atingidas. A tese de doutorado de Elder Yokoyama, pelo programa de pós-graduação em geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), procura entender os processos de formação das crateras geradas pelo choque de meteoritos, a partir da análise de duas dessas estruturas, localizadas na Bacia do Paraná.
As crateras estudadas por Elder são Araguainha, que com 40 km de diâmetro é a maior da América do Sul, e Vargeão, situada no oeste de Santa Catarina. A cratera Vargeão é especialmente interessante pois é um dos raros exemplos de estrutura de impacto em rochas basálticas, as quais são semelhantes às formações rochosas da Lua e de Marte. O geofísico explica que tais estruturas são raras pois normalmente estão localizadas na parte oceânica da crosta, que sofre constantes reciclagens, impedindo o registro de impactos mais antigos. "A formação de estruturas de impacto terrestres em rochas basálticas não é mais rara, o que é raro é a preservação desse tipo de estrutura", completa.
O estudo das crateras permitiu estimar que o choque em Vargeão ocorreu há cerca 123,1 milhões de anos, com margem de erro de 1,4 milhões de anos. Nas outras crateras estudadas ainda não foi possível calcular uma idade confiável para o impacto. Outra avaliação feita por Elder é com relação à profundidade das crateras formadas pelo impacto. Usando uma estimativa baseada em impactos reais e também artificiais o geofísico aponta que a profundidade é cerca de um vinte avos do diâmetro da cratera. Assim, Vargeão, com 12 km de diâmetro, teria aproximadamente 600 metros de profundidade, enquanto Araguainha teria profundidade de 2 km. Yokoyama faz uma ressalva para os dados: "esse valor é aproximado e pode variar dependendo do tipo de rocha, velocidade e ângulo de impacto".
O processo de crateramento gerado pelo impacto de meteoritos é um evento que ainda acontece na terra. Yokoyama comenta que o planeta é atingido diariamente por materiais extraterrestres e lixo espacial, mas geralmente são materiais pequenos que se desintegram na atmosfera, e o restante atinge a superfície sem causar grandes estragos. O geofísico destaca o impacto ocorrido em Carancas, Peru, em 2007, como o caso mais recente de choque de meteorito, cuja cratera tem diâmetro de apenas 13,5 metros. Há ainda, segundo Elder, casos em que os meteoritos causam estragos mesmo sem atingir a superfície, como aconteceu na Rússia em fevereiro de 2013. A explosão do meteorito deixou 950 feridos e cerca de 100 mil metros quadrados de vidros de janelas quebrados devido à onda expansiva.
Os meteoritos atingem a superfície do planeta com velocidade mínima de 11,2 km/s. Essa é a velocidade de escape de um objeto lançado para o espaço a partir da superfície terrestre. De acordo com Elder, estima-se uma velocidade média entre 15 km/s e 25km/s para os choques na terra. Ele aponta que a velocidade máxima com a qual um meteorito poderia atingir a Terra é aproximadamente 70km/s, que seria a soma da velocidade de escape do Sistema Solad e a velocidade orbital da Terra ao redor do Sol.
Os impactos de meteoritos têm alto poder de destruição. Uma cratera de 120 metros de diâmetro, formada por um meteorito de cerca de 6 metros de diâmetro liberaria uma energia de um megaton, o que corresponde à bomba de Hiroshima. O geofísico também faz a estimativa para um dos casos estudados por ele: "Vargeão com 12 km, possivelmente formada por um meteorito de 600m a 1000m de diâmetro, liberaria uma energia de 20 mil megatons, o equivalente à maior explosão vulcânica registrada na Terra, a do vulcão Tambora na Indonésia em 1815".