ISSN 2359-5191

29/08/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 48 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Estudos genéticos com leveduras ajudam a diminuir amplitude dos testes com animais
Através da toxicogenômica com microrganismos é possível prever eficácia e problemas de um fármaco e direcionar testes com seres mais complexos
A Saccharomyces cerevisiae conhecida como levedo de pão, podendo ser usada na fermentação de cerveja e outras bebidas alcoólicas.

Em janeiro de 2014 foi proibida no Estado de São Paulo a realização de testes de produtos cosméticos em animais. Em junho, uma lei semelhante foi sancionada pela Câmara dos Deputados. Para acompanhar essa tendência, muitos pesquisadores tem buscado alternativas para a realização de verificações de segurança. A professora Gisele Monteiro de Souza, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP), desenvolve um trabalho com a levedura Saccharomyces cerevisiae, que permite caracterizar o alvo molecular de uma droga e prever fatores como sensibilidade, resistência e toxicidade, antes de realizar testes em organismos mais complexos.

Esse tipo de estudo faz parte de uma área conhecida como toxicogenômica, dedicada a reunir informações de genes e atividade proteica em resposta ao contato do organismo com determinadas substâncias. O genoma da Saccharomyces cerevisiae foi sequenciado em 1996. Foram feitas deleções todos genes, produzindo uma coleção de aproximadamente cinco mil mutantes viáveis diferentes, cada um com gene específico “deletado” ou alterado. Com a exposição desse conjunto ao fármaco a ser testado, se faz uma varredura inicial conhecida como screening, que ajuda a determinar marcadores genéticos para os alvos do medicamento, ou seja, para os genes sensíveis a sua ação.

Esse trabalho, é claro, não dispensa as avaliações dos produtos em animais, necessário para conseguir resultados mais próximos daqueles em seres humanos, mas direciona esses testes futuros de forma a torná-los menos amplos e extensivos. "Em ratinhos de laboratório, nós já descobrimos a cura do câncer umas trezentas vezes. Mas na hora do teste em humanos, nem sempre é possível transpor essa informação", explica a professora.

O grupo da professora tem estudado as drogas carboplatina e gemcitabina, medicamentos antitumorais que levam a alterações no DNA, inibindo a replicação do material genético e levando à morte celular precoce. Como as células cancerosas se multiplicam com mais rapidez que as saudáveis, elas são mais prejudicadas. Certos pacientes, no entanto, apresentam ou desenvolvem resistência a esses produtos. Alguns desses marcadores genéticos que levam à aquisição dessa resistência foram identificados no estudo de toxicogenômica com as leveduras, permitindo que a pesquisa siga para a etapa de validação em organismos mais complexos.

A tecnologia atual permite desenvolver a cultura das cinco mil leveduras simultaneamente. A toxicogenômica gera uma quantidade imensa de dados, mas que permitem comparações eficientes.Com duas coleções de microrganismos, uma exposta a gemcitabina e a outra não, é possível notar quais leveduras tem seu crescimento interrompido, indicando quais genes são responsáveis pela resistência da célula ao medicamento. Através do identificador específico de cada gene, é possível prever os genes responsáveis pela sensibilidade, que precisam estar ativos no organismo para que o medicamento faça efeito. Se, comparado ao grupo de controle, algumas das leveduras crescem mais, os genes alterados desses exemplares da coleção podem estar associados auma boa resposta a droga.

 

O gráfico acima mostra o crescimento de células na presença do antitumoral carboplatina. WT = linhagem de levedura sem nenhuma modificação genética. Outros = genes únicos deletados, isto é, RIM101 (levedura com ausência do gene RIM101).

Os estudos com microrganismos também podem ser acionados em uma etapa posterior, durante os testes clínicos mais avançados. “Quando, em estudos com humanos, se detecta um possível marcador molecular que pode se relacionar a determinada alteração no efeito do medicamento, é possível voltar a levedura em busca de um marcador preditivo equivalente”.


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