ISSN 2359-5191

11/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 99 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Conceitos da psicologia em ações socioeducativas diminuem reincidência
Trabalho deve se aprofundar mais em questões subjetivas de cada jovem para conseguir tirá-lo de um ciclo de violência
Foto: viablog.org.br

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) divulgou em 2014 que a população carcerária brasileira, excluindo as prisões domiciliares, conta com 563.526 presos, sendo mais da metade deles abaixo da faixa dos 30 anos. Esse número alarmante de penitenciários jovens pode ser compreendido um pouco melhor através da tese de doutorado de Rose Meire Mendes de Almeida. O estudo, defendido no Instituto de Psicologia da USP (IP/USP) em 2014, investiga os fatores que levam jovens infratores à reincidência, sendo um dos principais responsáveis encontrados a atual abordagem do trabalho socioeducativo brasileiro.  

A pesquisa se desenrolou através de entrevistas com jovens do interior do Estado de São Paulo que se encontravam ou em Liberdade Assistida (LA) ou em medida de privação de liberdade (internação). Através dos dados assim obtidos, Rose Meire pôde detectar sentimentos comuns à maioria de seus entrevistados e relacioná-los com conceitos teóricos que pudessem ajudar no encontro de novas possibilidades de trabalho. Dentre esses sentimentos, destacam-se a raiva e a vergonha, que dão, inclusive, título à tese. De acordo com a pesquisadora, momentos de vergonha não trabalhados ou significados podem resultar na raiva que leva a muitos dos atos violentos e delinquentes. "São situações de humilhação, onde a vergonha é um sentimento tão impossível de ser traduzido pelo sujeito que a raiva surge como uma forma de expressão", explica. "A raiva toma força porque está apoiada numa situação de humilhação anterior, que não foi elaborada, criando um ciclo humilhação-vergonha-ódio".

A abordagem socioeducativa predominante no Brasil não costuma levar em conta, de maneira aprofundada, as questões subjetivas que levam cada um desses adolescentes a essa situação. Seguindo as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são priorizadas ações que ajudem na reinserção social e no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, pensando, futuramente, tanto na escola quanto no trabalho. O foco nessa última instância, no entanto, acaba muitas vezes por ser exagerado. "A forma tão acentuada como as medidas focalizam no trabalho dão a entender que ele é um regulador psíquico, mas ele não cumpre de forma solitária essa função", explica Rose Meire. "A inserção no mercado de trabalho deve ser uma das dimensões do trabalho socioeducativo, mas não é nem a mais importante, nem a maior".

De acordo com a estudiosa, na hora de procurar entender a história desses adolescentes, não se deve levar em conta nem só o aspecto social, nem só os aspectos pessoais. Levando em conta a singularidade de cada um deles, deve também atentar às questões mais estruturais. Uma sugestão seria, de acordo com ela, a inclusão e validação no PIA (Plano de Atendimento Individual) de uma proposta singularizada. "As ações propostas no PIA devem propiciar aos adolescentes oportunidades de conquistas através de pequenos e sucessivos sucessos, do desenvolvimento da capacidade de resistir às adversidades, analisar problemas, de trabalhar em grupo, avaliar, ser avaliado, liderar, relacionar-se com os outros e atribuir valor às suas decisões", conclui.

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