ISSN 2359-5191

27/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 41 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Células saudáveis podem colaborar com metástase do câncer de pele
Elas podem colaborar expressivamente com as células tumorais, ajudando-as a escapar do sistema imune
Fernando Frazão/Agência Brasil (fotospublicas.com)

Células saudáveis da pele, quando no ambiente cancerígeno, podem colaborar expressivamente e até promover o escape de células tumorais do sistema imunológico. Ultrapassando essa barreira, elas atingem a corrente sanguínea, indo para outros órgãos e gerando metástase. Essa foi a principal descoberta de uma recente pesquisa realizada na Universidade de São Paulo, que estudou os melanomas – tipo mais agressivo do câncer de pele.

A metástase é a disseminação do câncer para outros órgãos, por meio do sangue ou do sistema linfático. Ela acontece quando o sistema imunológico deixa de combater o tumor e começa a tolerá-lo. A molécula quinurenina (do inglês kynurenine), é uma das principais responsáveis por ‘desarmar’ o sistema imune do organismo e permitir que células tumorais consigam atingir a corrente sanguínea – o chamado imunoescape.

Renan Orsati Clara, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, provou que as células saudáveis da pele, como fibroblastos e melanócitos, são capazes de produzir tanto quanto ou mais quinurenina do que as células tumorais de melanoma. Esses testes foram realizados em laboratório – in vitro.

Em resultados preliminares, com amostras de pele retiradas de pacientes, foi observado que o microambiente cancerígeno sintetiza aproximadamente 400 vezes mais quinurenina e outros metabólitos do triptofano do que a pele normal. “Realmente, ali no microambiente tumoral, esse metabolismo [da quinurenina] parece ser essencial para que essa célula [tumoral] consiga escapar”, disse Renan.

Para realizar o trabalho, Renan estudou cinco linhagens diferentes de melanoma, células normais da pele como fibroblastos, melanócitos e queratinócitos e os principais tipos celulares do sistema imunológico.

Origem das quinureninas

Aminoácidos essenciais são aqueles que o organismo não produz naturalmente e que precisam ser adquiridos pela alimentação. O triptofano é um deles, sendo essencial na síntese de serotonina – um hormônio relacionado ao humor e sono. No corpo humano, o triptofano pode tomar três caminhos diferentes, ou seja, possui três vias metabólicas.

Em uma delas, o triptofano é transformado em quinurenina, pela ação da enzima IDO, que pode ser produzida por células tumorais ou por células do sistema imunológico.

Além dessa via metabólica que é considerada pró-tumoral e produz quinurenina e outros compostos, existem mais duas: uma considerada anti-tumoral, na qual o triptofano é transformado em compostos antioxidantes, que podem proteger as células normais do tumor, e outra muito pouco estudada.

A pesquisa conseguiu elucidar ainda, pela primeira vez, essa via metabólica pouco estudada do triptofano em melanomas. Ela é ativa no câncer e produz algumas substâncias, entre elas, a TRY (triptamina) e o DMT (dimetiltriptamina). Renan ainda não sabe qual a função do DMT e da TRY no metabolismo dos melanomas, mas especula que estejam relacionados à indução da proliferação de células tumorais.

“Não sabemos ainda por que ela sintetiza isso. Mas sabe-se, na literatura, que essa molécula [a TRY] tem capacidade de se ligar a um recepetor que se chama AHR, que é um receptor que tem na membrana das células. Ele é translocado para o núcleo quando é ativado. E no núcleo, ele está envolvido com diversos processos, como a proliferação celular e síntese da melanina na pele”, afirma o pesquisador.

Estudo em pacientes

Os próximos passos da pesquisa tentam fechar o cerco sobre o melanoma, para poder detectar qual tipo celular contribui mais com o metabolismo de triptofano no tumor. “A gente estudou qual o metabolismo de quase todas essas células do microambiente. E agora, estamos estudando nas amostras clínicas, qual é o metabolismo real, ali na pele, no paciente que realmente tem esse tipo de tumor”, conta Renan.

Isso pode fazer grande diferença, pois a pele é uma estrutura muito mais complexa do que a cultura de células in vitro. “É isso que queremos comparar: o metabolismo da amostra clínica com as diferentes células que podem compor o microambiente tumoral”. As amostras estão sendo retiradas de pacientes com o câncer, advindas do hospital colaborador na pesquisa, o A.C. Camargo Cancer Center.

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