ISSN 2359-5191

27/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 41 - Educação - Instituto de Física
Física aplica método de ensino que aumenta participação dos alunos
Metodologia de aprendizagem ativa, implementada no ciclo básico do ensino de física, é aposta para um maior engajamento dos calouros
A aprendizagem ativa possibilita que os alunos interagem com os professores e ente si/ Fonte: Assessoria do IFUSP

Aumentar a participação e melhorar o desempenho dos alunos é o objetivo do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), que, para este fim, implementou a aprendizagem ativa no ensino de conteúdos de física básica. Inspirado no “Scale Up”, sistema idealizado por Robert Beicher na Universidade Estadual da Carolina do Norte, a metodologia se caracteriza pela maior autonomia do aluno no processo de obtenção do conhecimento e foi responsável por aumentar o engajamento em sala de aula.

Aulas em formatos de palestras com uma hora e meia de duração e turmas esvaziadas, prejudicadas por taxas substanciais de evasão, e professores sem saber se o conhecimento transmitido estava de fato sendo absorvido. Tal cenário, observado nos primeiros anos dos cursos na área de física, somado à facilidade crescente de acesso à informação, acendeu a preocupação sobre a reformulação dos métodos tradicionais de ensino.

Carmen Prado, coordenadora da disciplina que aplica o método de aprendizagem ativa, identifica os problemas da relação entre professor e aluno nos métodos tradicionais de ensino. Para ela, quem leciona fica com a parte menos complexa do processo: resumir aquilo que já aprendera, escolher um recurso ou plataforma e repetir aquele conjunto de informações previamente preparado. Ao aluno, sobraria a parte complicada: estudar os detalhes, identificar dúvidas, fazer exercícios. Ou seja, toda a fixação e aplicação sendo delegada como tarefa do aluno.

O objetivo da nova forma de aprendizagem é inverter essa relação. Propõe-se que o aluno tenha o primeiro contato com o conteúdo antes, mediante textos, estudando sozinho, realizando atividades. Antes das aulas, materiais de leitura (há um livro-texto) e textos complementares são disponibilizados. Os alunos têm também de responder questionários e problemas mais simples previamente, por meio da plataforma Moodle (software de apoio à aprendizagem).

O horário de aula é preenchido, portanto, com atividades que vão auxiliá-los a compreender o assunto discutido, identificar dúvidas, e desenvolver o raciocínio critico sobre seu processo de aprendizado, bem como uma visão mais ampla da ciência. As atividades em sala consideram os aspectos conceituais mais complicados e os tipos de erros dos alunos na absorção daquele conteúdo.

Os 300 ingressantes (provenientes dos cursos de bacharelado, licenciatura e do Instituto de Astronomia e Geofísica) do ciclo básico são divididos em turmas de 72 alunos. Nelas, trabalham em grupos de três e têm a tarefa de cooperar entre si para a melhor compreensão dos temas abordados. A discussão promovida em sala auxilia o aluno a fixar o conceito que estudou para explicar a um colega que tenha mais dificuldade. “Isso tem duas vantagens: força quem explica a amarrar as pontas do que estudou, o que melhora a compreensão. E quem recebe a informação, tem acesso a pontos de vistas mais próximos dos seus”, destaca André Vieira, um dos responsáveis pela implantação do método.

Para Vieira, o esclarecimento de dúvidas também seria facilitado. Entre pessoas mais próximas de seu convívio, o aluno estaria mais disposto a se abrir sobre suas dificuldades em cada tópico.

Aplicado pelo primeiro ano em  todas as aulas da grade da disciplina Física I, o método promoveu também melhorias na relação docente-aluno. Com o auxílio de monitores, pós-graduandos contratados com o intuito de prestar atendimento individualizado aos grupos, o professor tem de estar em reflexão permanente sobre os conteúdos expostos, bem como das dificuldades dos alunos, e pode manter uma relação mais próxima de quem aprende. “Fazia muito tempo que eu não terminava o semestre sabendo o nome de tantos alunos”, pontua Carmen. “A grande maioria é uma grande incógnita. Você não tem ideia se está entendendo. Acaba-se tomando a opinião dos mais participativos como a da maioria e só na prova se tem um retorno”.

Os professores entrevistados afirmam que é cedo para conclusões acerca da implementação do método. Ainda não foi realizado nenhum tipo de avaliação estatística mais detalhada. No entanto, alguns aspectos notadamente já sofreram alterações. “Há uma permanência maior. Havia uma tradição de perder a aula, buscar as informações em livros, ver na internet, pegar com o colega, o que levou os cursos a passarem a não exigir muito a presença em classe”. As alterações motivaram uma mudança de postura por parte dos recém-chegados. Para a coordenadora, estes “são obrigados a manter um ritmo de estudos mais regular”.

A fim de obter feedback, abriu-se espaço no Moodle para que os alunos, de forma anônima e espontânea, colocassem seus pontos de vista sobre sua experiência no curso. “As respostas foram muito positivas”. Foi questionado se os alunos achavam que aprenderiam melhor com o método tradicional ou com o novo método. A maioria (de 60% a 70%) disse acreditar que aprendeu melhor com as mudanças. A segunda pergunta instigou os alunos a optarem pelo modo tradicional ou pela aprendizagem ativa. 50% dos alunos ficaram com a segunda opção. “Como primeiro ano de experiência, achamos que foi um resultado excelente”, finaliza Carmen.


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