ISSN 2359-5191

27/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 41 - Sociedade - Escola de Educação Física e Esporte
Pesquisa aponta dificuldades para se deixar o esporte
Estudo com geração bicampeã mundial de basquete tem intenção de fornecer bases para compreensão desse processo hoje
Seleção Brasileira de Basquetebol campeã mundial em 1959 - Crédito: Reprodução/GloboEsporte

Uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos Olímpicos (GEO),  na Escola de Educação Física e Esporte da USP estudou a narrativa biográfica de dez atletas do basquetebol brasileiro. Eles protagonizaram um dos momentos de maior glória desse esporte no Brasil, sendo bicampeões mundiais em 1959 e 1963, além de terem sido medalhistas olímpicos em 1960 e 1964. A intenção desse estudo era avaliar como foi feita a transição de carreira desses atletas, a fim de fornecer suporte às instituições que queiram desenvolver programas nesse sentido, bem como contribuir com a ampliação das investigações sobre o tema.

Neilton de Sousa Ferreira Junior, autor da dissertação, conta que entrevistou a maioria desses jogadores, ouvindo suas histórias, desde o início da carreira até o final. “As últimas duas décadas foram marcadas pelo falecimento de muitos desses atletas, mas os remanescentes do grupo ainda têm muita história pra contar e muitas referências de uma época em que ser atleta significava muitas coisas, sendo que a última delas era profissão”, afirma. Isso acontecia, pois o basquetebol vivia ainda seus tempos de amadorismo, ou seja, órgãos reguladores do esporte à época entendiam ser imoral a profissionalização do atleta, e por isso o proibiam de receber qualquer espécie de remuneração pelo que faziam nas quadras, pistas e piscinas. Para garantir a própria subsistência e da família, o atleta tinha que ser um trabalhador comum.

A transição de carreira desses atletas acabou sendo influenciada pelo envolvimento com o basquete. “Mais da metade deles seguiram envolvidos com o esporte depois que encerraram suas carreiras de atleta, já que eles já estavam vivenciando uma área de atuação e só deram continuidade a isso”, diz, citando exemplos de pessoas que viraram professores de educação física, treinadores de basquete e dirigentes de clubes. Outros acabaram dando prosseguimento às profissões que já exerciam além das quadras. “Nós temos um médico, dois advogados e um engenheiro, além de um técnico que se tornou empresário”, exemplifica o pesquisador.

Hoje em dia, segundo ele, a transição de carreira é feita de forma um pouco mais “turbulenta”, pois antigamente os atletas vivenciavam o esporte com uma agenda mais reduzida do que hoje, o que lhes causava menos problemas relacionados à vida cotidiana. “Tanto os atletas de antigamente quanto os de hoje podem sofrer inúmeras dificuldades em sua transição de carreira por conta da falta de apoio", explica, acrescentando que, além disso, porém, hoje há uma implicação maior na questão da identidade, já que o compromisso que ele tem com a área é muito maior do que era antigamente.

A pesquisa dele, portanto, tem como objetivo auxiliar esse processo de transição, promovendo a reflexão sobre essa importante fase. Neilton acredita que os atletas hoje são “hiperutilizados” durante sua carreira, mas vivem um “esquecimento completo” após o fim dela, já que eles não serviriam mais. “Esse trabalho serve para chamar atenção para esse problema e também para oferecer suporte às instituições que queiram desenvolver programas nesse sentido”.

O pesquisador vê que há um interesse crescente das entidades graças a um processo midiático de exposição de algumas experiência negativas que os atletas apresentam na sua fase de transição. “Na medida em que a imprensa esportiva começa a se aproximar mais do atleta, de sua carreira e, consequentemente, do final dela, a sociedade começa a visualizar essas dificuldades por que os atletas passam”, acredita.

Ele cita o I Seminário de Transição de Carreira, que aconteceu em São Paulo, em 2009 e reuniu o Ministério do Esporte, atletas e a comunidade científica. O governo, inclusive, aproveitou isso para desenvolver um programa de “aposentadoria” para atletas campeões do mundo no futebol. “Isso tudo sinaliza pra mim um processo tímido, mas crescente, de preocupação em relação à transição de carreira”, comemora.

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