ISSN 2359-5191

23/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 55 - Saúde - Escola de Educação Física e Esporte
Lesão causada por AVC não é o único elemento a afetar reaprendizado motor
Segundo pesquisa, complexidade das tarefas realizadas também influencia
Nintendo Wii foi utilizado para analisar reaprendizado motor. Crédito: Arquivo/Giordano Bonuzzi

Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Educação Física e Esporte da USP estudou como o lado da lesão em pacientes com AVC (Acidente Vascular Cerebral) influencia no aprendizado motor desses indivíduos. As conclusões, ao contrário do que se esperava, mostraram que não há nenhuma diferença em tarefas de complexidadade baixa, mas os atingidos no lado direito apresentam mais dificuldade em exercícios mais avançados.

O AVC acontece a partir de problemas no sistema circulatório. Ela se manifesta quando o fluxo sanguíneo que vai para o encéfalo é interrompido ou se rompe, e toda a área que deveria ser irrigada acaba perdendo sua função. As consequências são muito variadas, dependendo da área atingida. O estudo feito por Giordano Bonuzzi, em sua dissertação de mestrado, se debruçou sobre o grupo que apresenta o chamado AVC isquêmico, aquele que não chega a romper, além de ter restringido às pessoas que tiveram problemas motores. “Eu comparei indivíduos com lesão à direita e à esquerda, para ver como eles reaprendiam o controle postural e verificar se tinha influência do hemisfério na aprendizagem dessas tarefas”, explica o pesquisador.


Buscando uma atividade que fosse nova e, ao mesmo tempo, estimulante, Giordano acabou escolhendo um jogo de realidade virtual. “Como a pessoa que tem um AVC geralmente é idosa, ela não vai ter intimidade com um jogo desse tipo mas, por outro lado, por ser extremamente motivante, eu garantia que as pessoas estivessem engajadas o suficiente pra aprendê-la”, diz. A plataforma escolhida foi o Nintendo Wii Balance (veja foto), que detecta os deslocamentos do centro de pressão do corpo e, a partir disso, é possível controlar um avatar na tela. “Considerando que eles têm uma perna sadia e outra não, isso os colocava a trabalhar melhor a distribuição do peso nas duas pernas e, com isso, o equilíbrio”, completa.


A pesquisa foi feita com cinco dias de exercício, seguido de um tempo sem praticá-los a fim de ver se o paciente conseguiu aprender mesmo - o chamado teste de retenção. Os resultados vistos, segundo o pesquisador, foram surpreendentes. O esperado era que os pacientes com lesão à direita tivessem mais dificuldade para aprender as tarefas, já que é nesse hemisfério do cérebro que estão estruturas responsáveis pelo senso de verticalidade e equilíbrio. “Quando a gente observou os dados, porém, vimos que não teve diferença nenhuma”, conta Giordano.


O pesquisador, então, foi observar outros aspectos da análise e verificou que a complexidade da tarefa exerce uma grande influência nos resultados. Como se tratava de um jogo de realidade virtual, a dificuldade crescia conforme o paciente ia passando os níveis e o que a pesquisa viu foi que, quanto maior o nível, mais essa diferença entre os dois grupos aparecia. “Nós vimos que não é apenas o lado da lesão que influencia, então não é tão simples quanto vinha sendo dito”, explica.


Ele ainda ressalta a importância que sua pesquisa pode ter para a área, contribuindo com a reabilitação dos pacientes. Segundo ele, seria interessante trazer tarefas complexas para aqueles que sofrem AVC à direita, já que é aí que residem suas principais dificuldades. “Ele não vai ter problemas em ficar em pé, mas ele vai ter para caminhar num corredor enquanto faz contas matemáticas, por exemplo. É nesse momento em que o equilíbrio é mais prejudicado e os exercícios devem partir disso.”

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