ISSN 2359-5191

23/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 55 - Saúde - Faculdade de Medicina
Gestantes em tratamento para Aids têm chances de gerar filhos hipertensos
Droga utilizada no combate ao vírus pode ser responsável pelo problema, identificado já na adolescência
Reprodução

O tenofovir, um dos principais remédios utilizados no tratamento da Aids nos dias de hoje, é um forte atuante na inibição do progresso da doença. Agindo de forma a evitar que o vírus se multiplique, o remédio é o responsável por manter saudável grande parte dos portadores do vírus HIV, assim como impedir que novas pessoas contraiam a doença. Os bebês de mães infectadas já conseguem nascer sem ela. Isso se dá pela administração do tenofovir durante a gestação. Pensando no caso dessas gestantes, o médico nefrologista Pedro Henrique França Gois em sua tese de doutorado defendida pela Faculdade de Medicina da USP, constatou que esses bebês podem se tornar hipertensos já na adolescência por causa do uso da droga pelas mães durante a gestação.

O estudo surgiu a partir de teses passadas que já mostraram que o tenofovir afeta o rim do paciente com Aids, causando problemas como perda de fósforo, diminuição da vitamina D e aumento de colesterol. Tudo isso foi aplicado e testado em ratos, já que é esse  o melhor modelo animal para testar os efeitos colaterais de drogas nos rins. O professor do departamento de nefrologia e orientador do doutorado de Pedro, Antônio Carlos Seguro, explica que os resultados dos estudos anteriores envolvendo o tenofovir foram verificados no homem, de modo que a ideia para esse doutorado era mostrar que, assim como em outras situações, essa droga usada durante a gestação pode repercutir no bebê.

Pedro conta que o estudo foi feito com dois grupos de ratas: as que receberam doses de tenofovir e as outras que não ingeriram a droga (grupo de controle). Foi feito um acompanhamento dessas fêmeas enquanto gestantes, e logo em seguida, de seus filhotes, que foram amamentados pelas mães controle. O pesquisador constata que, a partir da observação dos animais, viu que “na mãe, durante a gestação, não acontecia muita coisa, a função do rim continuou a mesma. Mas na prole, a partir do primeiro mês de vida, a gente começou a ver que eles começaram a apresentar hipertensão arterial”.

De acordo com as análises da pesquisa, a prole - cuja mãe foi submetida ao uso do tenofovir - teve um tamanho menor em comparação aos do grupo de controle em seus três primeiros meses de vida. Em compensação, após o terceiro mês, eles tiveram um “crescimento compensatório”, chegando na fase adulta (a partir dos seis meses de vida) obesos. Além disso, o pesquisador percebeu que logo depois do segundo mês, eles já apresentavam hipertensão arterial e alta taxa de colesterol. Ele acredita que o motivo de se tornarem hipertensos tão cedo seja a retenção de sódio pelo rim e constrição dos vasos sanguíneos.

Mesmo com efeitos colaterais tão drásticos, o tenofovir faz parte de um tratamento para pessoas com Aids que não pode parar. Segundo o professor Seguro, a droga, além de ser usada durante a vida do portador do vírus, também é administrada para impedir que esses bebês não nasçam infectados. “O tenofovir é a droga mais importante no tratamento da Aids, as pessoas têm que tomar e não podem parar. Se o remédio é suspenso, a doença volta a se manifestar”, explica o professor.

Dessa maneira, a solução para o problema dos filhos de mães com Aids seria o controle e a prevenção dessas possíveis doenças. “Achamos agora que o estudo futuro deve ser nos filhos de pacientes que tomaram a droga, acompanhando a pressão arterial deles corretamente, por exemplo. A repercussão maior vai ser daqui uns cinco anos quando esses filhos já vão estar mais próximos da adolescência.” diz Seguro. Outro ponto de alerta, afirma Pedro, é sobre o descontrole que se tem sobre o uso do tenofovir. De acordo com ele, tanto a Anvisa como a OMS não têm uma restrição formal ao uso da droga durante a gestação, de forma que ela acaba sendo ministrada sem um acompanhamento específico aos filhos dessas gestantes.


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