ISSN 2359-5191

05/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 9 - Sociedade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Pesquisa mapeia Unidades Territoriais Metropolitanas a fim de melhorar implantação de serviços públicos
Trabalho propõe uma divisão da região metropolitana de São Paulo em grupos de acordo com demandas, carências e dinâmicas socioeconômicas similares

Com o objetivo de melhorar a implantação e o monitoramento de serviços públicos na região metropolitana de São Paulo, os pesquisadores Andreína Nigrielo, doutora em Estruturas Ambientais Urbanas, e Rafael Henrique de Oliveira, graduando em arquitetura pela FAU, realizaram um trabalho que delimita Unidades Territoriais Metropolitanas em São Paulo, as UTMs. Elas representam recortes espaciais com características comuns relacionadas à demanda e carência de serviços e dinâmicas socioeconômicas.

"A mensagem mais importante a ser veiculada é que, cada vez mais, é necessário associar a definição de políticas públicas para implantação de serviços e melhoria da qualidade de vida aos aspectos territoriais", esclarece a pesquisadora. "Você pode definir uma política habitacional de melhoria do saneamento ou da oferta de transporte como 'política como um todo'. Mas se você não associa a uma análise do território, para identificar onde as carências são maiores, a implantação dessa política pode não ser tão eficiente", justifica.

A seleção das variáveis utilizadas no trabalho foi estabelecida por meio das informações sobre a Região Metropolitana de São Paulo armazenadas no banco de dados do Sistema de Informações Geográficas para Planejamento Metropolitano – SIGPLAM, da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo. As fontes são o Censo Demográfico de 2000 e as Pesquisas Origem e Destino de 1997 e 2007.

Para delimitar as UTMs, foram selecionados dois conjuntos de variáveis: as que definem a demanda de serviços públicos – densidade demográfica, densidade de empregos e renda média per capita e as variáveis que definem carência de habitações ou de serviços – quantidade de domicílios tipo cômodo, domicílios sem rede de água ou de esgoto e domicílios sem acesso à coleta de lixo. As informações relacionadas às variáveis foram associadas a 134 recortes territoriais (distritos do município de São Paulo e demais municípios da região metropolitana), identificados como unidades básicas de análise. As informações foram trabalhadas com uma técnica exploratória de análise multivariada, conhecida como Análise de Cluster. Trata-­se de um procedimento dividido em quatro etapas: coleta de dados, redução de dimensão, geração de agrupamentos e modelo de classificação.

Demanda e carência

Na análise de dados levantados com o material de pesquisa, foi possível estabelecer e analisar as relações entre variáveis, como a concentração de demanda por serviços públicos em áreas de alta densidade de empregos. Exemplos que se encaixam nesta classificação são os distritos da Sé, República e Bela Vista. Outro destaque da pesquisa é a observação da carência de habitações em função da alta densidade de domicílios tipo cômodo, que é verificável nos distritos da Sé, República, Brás, Bom Retiro, Bela Vista, Liberdade, Brasilândia, Jardim Ângela, Cidade Ademar e no município de Diadema.

Em relação ao agrupamento territorial relacionado à carência de serviços, a pesquisa estabelece que a maior concentração de domicílios sem rede de água está nos distritos de Parelheiros e Jardim Helena, embora a falta desse serviço seja marcante também em outras regiões. Domicílios sem rede de esgoto concentram-se nos distritos de Grajaú e Pedreira e o município onde a ausência de coleta de lixo é mais expressiva é o de Francisco Morato. A relação completa de regiões que apresentam carência significativa desses serviços pode ser encontrada na pesquisa.

Na identificação das UTMs, tanto as variáveis de demanda de habitações quanto de carência de serviços públicos foram utilizadas, com o objetivo de estabelecer grupos homogêneos em relação às suas necessidades, que resultaram em oito diferentes grupos. A combinação dessas informações foi, posteriormente, associada à classificação da dinâmica socioeconômica região metropolitana de São Paulo, resultando em uma nova divisão espacial do território e, portanto, em novas UTMs.

Dinâmica socioeconômica

A dinâmica socioeconômica foi analisada considerando as faixas de variação da densidade populacional e de empregos.

 


Fonte: Região Metropolitana de São Paulo: Delimitação e Caracterização de Unidades Territoriais Metropolitanas
Andreína Nigriello, Rafael Henrique de Oliveira
Cadernos de Pós­Graduação Em Arquitetura e Urbanismo v. 13, n. 1 (2013)

 

O que a pesquisa estabelece é que os recortes territoriais que apresentam maiores variações no crescimento das densidades de população ou empregos – como Anhanguera, Capão Redondo, Cidade Líder, Grajaú, Iguatemi, Itaquaquecetuba, Itaquera, Lajeado, Vila Sônia, Diadema, Jandira, Taboão da Serra e Vila Jacuí - estão afastados da Sé, centro original da metrópole, entre 11 e 33 quilômetros. Segundo os autores, "por sua dinâmica, é previsível que neles ocorra a consolidação da ocupação urbana existente e a formação de novos polos".

Outro destaque da análise é a percepção do aumento da densidade de empregos em regiões como Barra Funda, Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, República, Santa Cecília, Santo Amaro, Saúde, Sé, Vila Mariana e Vila Leopoldina, todos no chamado "centro expandido da metrópole", ou em locais próximos a esse perímetro, como Campo Grande, Ipiranga, Jabaquara, Santo André, São Caetano do Sul, Tatuapé e Jaçanã. Nesse caso, "trata-se de dinâmica urbana que leva à expansão de polos já consolidados, cujo adensamento de empregos é acompanhado por uma redução da densidade populacional, ou crescimento da mesma abaixo do apresentado pela Região Metropolitana".

Em regiões em geral afastadas do chamado centro expandido, como Perus, Sapopemba, Brasilândia, Cidade Tiradentes, Ferraz de Vasconcelos, Itaim Paulista, Jaraguá, Jardim Ângela, Pedreira, São Rafael e Vila Andrade, o crescimento da densidade de população é superior ao registrado na média metropolitana, mas a densidade de empregos não apresenta crescimento significativo, o que faz com que esses locais sejam classificados como “áreas dormitório”.

 

Fonte: Região Metropolitana de São Paulo: Delimitação e Caracterização de Unidades Territoriais Metropolitanas
Andreína Nigriello, Rafael Henrique de Oliveira
Cadernos de Pós­Graduação Em Arquitetura e Urbanismo v. 13, n. 1 (2013)


Resultados relacionados

Na última etapa do trabalho, as análises de demanda e carência habitacional de serviços públicos foram relacionadas à classificação das dinâmicas socioeconômicas, resultando no último mapa da pesquisa, que divide a região metropolitana de São Paulo em sete Unidades Territoriais.

 

Fonte: Região Metropolitana de São Paulo: Delimitação e Caracterização de Unidades Territoriais Metropolitanas
Andreína Nigriello, Rafael Henrique de Oliveira
Cadernos de Pós­Graduação Em Arquitetura e Urbanismo v. 13, n. 1 (2013)


No mapa (foto), é mais fácil identificar um conjunto de UTMs que "formam um anel ao redor do 'centro expandido' de crescimento de população e de empregos, mas, em geral, com carência de serviços públicos, merecendo prioridade na aplicação de políticas setoriais em escala regional (UTMs do Grupo 5)", como aponta o trabalho. Esse anel de UTMs apresenta um "processo de consolidação da ocupação urbana existente, com adensamento das áreas residenciais e das áreas de concentração das atividades econômicas". As Unidades que constituem esse grupo estão intercaladas a outras que carecem de empregos e serviços públicos, mas apresentam um aumento de densidade populacional superior ao índice médio metropolitano (Grupo 6).

O último mapeamento permite delinear, como mostra a imagem, as regiões menos carentes de serviços e mais dinâmicas em termos socioeconômicos. São elas: Alto de Pinheiros, Barra Funda, Butantã, Consolação, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Lapa, Moema, Morumbi, Pinheiros, Santa Cecília, Santana Santo Amaro, Saúde, Vila Mariana, Campo Grande, Tatuapé e Vila Leopoldina.

Também é possível identificar áreas que não apresentam carência marcante de serviços e as que mais necessitam de serviços públicos. Nesta última categoria, as unidades se dividem em grupos que representam áreas dormitório – como ocorre em Brasilândia, Jardim Ângela e Pedreira – e áreas estagnadas em termos socioeconômicos - caso de Arujá, Fanco da Rocha e Mogi das Cruzes, entre outras.
O trabalho de delimitação de grupos que tenham características similares procura apoiar as atividades de planejamento e fundamentar a elaboração de políticas públicas mais adequadas, tanto em termos de aproveitamento do espaço quanto na eficiência para reduzir a segregação residencial e a desigualdade de acesso a serviços e equipamentos urbanos. "O certo seria, inclusive, que as variáveis utilizadas para fazer as análises espaciais fossem definidas não apenas por um grupo de pesquisadores mas, inclusive, por representantes da sociedade", finaliza a pesquisadora.

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