É comum que um bebê que nasça prematuro - com menos de 37 semanas de gestação - apresente alguns problemas normalmente não verificáveis naqueles que nascem no tempo ideal, tais como dificuldades respiratórias e cardíacas. As alterações de linguagem, porém, também podem ser observadas em crianças que nasceram antes da hora esperada, como analisa um recente estudo feito pela Faculdade de Medicina da USP. “Muitos estudos já apontam os nascidos prematuros como grupo de risco para alterações de linguagem”, afirma a fonoaudióloga Telma Luperi. “Por isso, o esclarecimento das questões referentes às habilidades linguísticas é de suma importância para o melhor entendimento desses déficits, maior precisão diagnóstica e efetividade dos tratamentos.”
Estatisticamente, 55,6% dos prematuros participantes foram classificados com alterações de linguagem enquanto apenas 18% do grupo de crianças saudáveis (grupo controle) apresentou o mesmo desempenho. “Verificamos que independentemente do peso no nascimento ou a idade gestacional em que o parto tenha ocorrido, os sujeitos prematuros apresentaram esse maior risco”, conclui Telma. “Esses resultados são importantes para explicitar que mesmo o nascimento em melhores condições de peso e idade gestacional, quando prematuro, pode apresentar riscos para o desenvolvimento de linguagem.”
Interessada na área desde os tempos de graduação, Telma conta que elaborou o estudo em conjunto com ambulatórios de acompanhamento de prematuros e obteve a aprovação de comissões de ética. Para esse estudo, ela e sua equipe selecionaram pacientes com histórico de prematuridade até 36 semanas de gestação e até 2,5kg de peso de nascimento, que realizavam acompanhamento no Ambulatório de Prematuros do Hospital Universitário (HU) e no Ambulatório dePrematuros do Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas (HC). “A coleta de dados do grupo foi difícil, pois foi realizada durante as atividades de atendimento médico dos ambulatórios”, relata Telma. “A falta de um espaço físico exclusivo somada a curtos períodos de tempo nos quais os residentes discutiam outros casos com os supervisores foi um grande desafio. Foi necessário contar com a colaboração e paciência dos médicos.”
Ela explica que outro fator que dificultou a coleta do grupo de prematuros foram os critérios de inclusão na pesquisa, já que grande parte dos pacientes que realizavam acompanhamento foram excluídos por apresentarem alguma doença associada ou dados de nascimento fora dos padrões estabelecidos, por exemplo. A faixa etária selecionada também foi um limitador para a composição, pois a caracterização da população atendida pelos ambulatórios de acompanhamento de prematuros é predominantemente inferior aos 2 anos (idade mínima para a inclusão no grupo).
Paralelamente, foi selecionado outros dois conjunto de crianças de 2 a 6 anos de idade, um que apresentava indivíduos Alteração Específica de Linguagem (AEL) e outro (grupo controle) de desenvolvimento normal. “As manifestações linguísticas encontradas nas AEL são heterogêneas, pois dependem de diversos fatores como a gravidade do quadro e os subsistemas da linguagem que estão alterados”, esclarece Telma. “Uma AEL pode ser representada por um retardo ou um distúrbio, sendo o primeiro caracterizado por um atraso generalizado na aquisição ou expressão de todos os componentes da linguagem.” Após a inclusão nos três grupos, os sujeitos foram testados individualmente, em sala silenciosa e adequada em sessões de 20 minutos cada.
Telma ainda pontua que é essencial que as crianças nascidas prematuras sejam acompanhadas desde cedo, justamente para identificar precocemente as que eventualmente irão apresentar dificuldades de linguagem, já que a intervenção precoce nesses casos pode reduzir ou eliminar o impacto desses déficits no desenvolvimento dessa população.