A cadeira de rodas motorizada é um instrumento de mobilidade para pessoas que perderam ou nasceram sem essa capacidade. Atualmente, é possível controlar computadores e aparelhos eletrônicos por meio dos sistemas de controle mais sofisticados, mas uma importante questão permanece sem resposta: quando o usuário não está na cadeira de rodas motorizada repleta de tecnologia, o que ele consegue controlar? Norteado por tais dificuldades, Marcelo Archanjo José, pesquisador da Escola Politécnica, abraçou o desafio de conceber e desenvolver uma interface humano-computador capaz de capturar os movimentos do lábio inferior. O fruto da pesquisa, patenteado em 2014, ainda aguarda o interesse de indústrias que se proponham a produzir o Sistema de Controle pelo Lábio.
Pessoas com deficiência motora podem ter dificuldades não somente na interação com o mundo ao seu redor, mas também com as tecnologias que deveriam reduzir algumas das desvantagens causadas pela deficiência. Além disso, o processo evolutivo da tecnologia deixou o usuário em segundo plano. Ou seja: a tecnologia é da cadeira motorizada, e não do usuário. Marcelo, que imaginava utilizar seu conhecimento sobre processamento de imagens para automatizar o controle de cadeiras de rodas motorizadas, repensou seu projeto ao entrar em contato com Marco Antônio Pellegrini, portador de tetraplegia: “percebi que era mais importante capturar os comandos da pessoa, contribuindo para sua autonomia, do que automatizar a cadeira”. Essa mudança de foco foi essencial para o desenvolvimento de sua pesquisa.
Como funciona
O Sistema de Controle pelo Lábio funciona através de um joystick semelhante a um controle de videogame, controlado pelo lábio inferior. Os movimentos são monitorados e convertidos para operar um mouse Bluetooth no computador, tablet ou celular. Para a criação do sistema, foram selecionados componentes de baixo custo, robustos e com alta disponibilidade, para que o produto final fosse economicamente acessível. O trabalho foi direcionado às dificuldades das pessoas com tetraplegia por lesão medular, mas seus resultados poderão em portadores de outras deficiências, como a paralisia cerebral, distrofia muscular progressiva, amputados e pessoas com graves sequelas motoras.
Foto: Marcelo Archanjo José
As tetraplegias ocorrem em virtude de algumas doenças neurológicas, ou quando as vias motoras e sensitivas que percorrem a medula espinhal são interrompidas no nível da coluna cervical, entre a primeira e a sétima vértebras cervicais. O estudo de novas interfaces humano-computador que contribuem para a acessibilidade de pessoas com tetraplegia explora áreas como o movimento dos olhos (através de rastreamento), movimento do pescoço (com o uso de joysticks de queixo, boca, ou rastreamento dos movimentos da cabeça), movimento da língua, comandos de voz e por sopro ou sucção.
Pessoas com tetraplegia possuem controle sobre poucas partes do corpo, e têm grande dificuldade de interação com o mundo ao seu redor. Interfaces humano-computador, que utilizam a capacidade de controle muscular remanescente podem promover um acréscimo importante na autonomia do usuário com tetraplegia.