ISSN 2359-5191

31/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 29 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Método em vídeo complementa avaliação em crianças com dificuldade para engolir
Transtorno da disfagia é analisado com maior exatidão com uso da videofluoroscopia
Natalie Majolo

Engolir, um ato tão natural durante a alimentação, se torna um sufoco - literalmente - para quem possui disfagia. Este transtorno pode comprometer a nutrição e o prazer de se alimentar em pessoas de qualquer idade. Em bebês ou crianças com alterações no desenvolvimento, a taxa de disfagia, que é a dificuldade de engolir, é de até 80%. A pesquisadora Lenice de Fátima da Silva-Munhoz, diante de diversas análises, identificou que apenas a avaliação clínica para o diagnóstico pode não ser acurada para identificar as alterações na fase faríngea, local em que ocorre o ato de engolir. A videofluoroscopia, o método em vídeo complementar à avaliação clínica da disfagia, surge para analisar com maior exatidão a causa e o grau de intensidade do transtorno.

Um dos objetivos da pesquisadora foi identificar os sinais clínicos como tosse, engasgo, desconforto respiratório, entre outros, observados na avaliação clínica fonoaudiológica da deglutição, associados à presença de alterações na fase faríngea constatadas na videofluoroscopia. O foco foi, especificamente, a penetração laríngea isolada, a aspiração laríngea e o resíduo em recessos faríngeos em crianças com suspeita de disfagia. Mas o que tudo isso significa?

O transtorno da deglutição

A disfagia em bebês e crianças pode ter diversas causas, como distúrbios neurológicos, síndromes, e doenças cardíacas e respiratórias. O déficit no crescimento e o baixo ganho de peso podem ser os primeiros sintomas. Silva-Munhoz recomenda observar os engasgos frequentes durante a alimentação, e outros sinais como perda de peso, recusa alimentar, e infecções respiratórias recorrentes, como pneumonias e bronquiolites. Ao apresentar estes sinais, “[as crianças] podem estar com algum transtorno na deglutição. Nesses casos, é recomendado procurar um fonoaudiólogo especializado em disfagia infantil para uma avaliação”, recomenda.

O profissional de fonoaudiologia, por meio da avaliação clínica, analisa o grau do transtorno, a capacidade do paciente em proteger as vias aéreas e recomenda métodos alternativos de alimentação. Para o diagnóstico, são feitas análises das estruturas orais e das funções alimentares como a sucção, a mastigação, a deglutição, e a coordenação entre essas com a respiração. A doença de base, o histórico alimentar da criança e os utensílios de uso habitual, como mamadeiras e os tipos de bico, também são levados em conta. Entretanto, somente a avaliação clínica pode deixar passar despercebidas alterações da fase faríngea que são importantes para o tratamento e para a saúde pulmonar da criança.

Disfagia pesquisada à fundo

Silva-Munhoz analisou as alterações nas fases oral, faríngea e esofágica da deglutição em 55 crianças, de um mês a sete anos de idade, por meio da comparação entre a videofluoroscopia com a avaliação clínica . “A videofluoroscopia é o método padrão ouro de avaliação instrumental, pois permite classificar tanto as estruturas quanto os detalhes das fases da deglutição, assim como a dinâmica entre elas, o que não é possível somente com a avaliação clínica”. Segundo a pesquisadora, as fases faríngea e esofágica da deglutição não podem ser verificadas de forma acurada e a presença de aspiração silente pode não ser identificada na avaliação clínica.

Existem dois tipos de entrada de alimentos nas vias respiratórias: a penetração laríngea, quando ocorre a entrada do alimento na laringe mas sem ultrapassar o nível das pregas vocais; e a aspiração laríngea, quando há passagem do alimento abaixo do nível das pregas vocais, atingindo a traqueia. A aspiração silente acontece quando, na ocorrência de uma aspiração laríngea, o paciente não apresenta nenhuma resposta a esse evento, como engasgo e/ou tosse.

Por meio da videofluoroscopia, é possível identificar a aspiração silente, e outros casos, como refluxos gástricos com penetração nas vias aéreas. “Contudo, esse método apresenta algumas desvantagens como exposição à radiação, tempo limitado de exame (o que não simula uma refeição real), e a necessidade de cooperação do paciente, a qual também interfere nos resultados”. Lenice Silva-Munhoz também previne que, além disso, esse exame pode não estar disponível para os profissionais no serviço que precisam definir suas condutas baseados apenas na avaliação clínica.

Os sintomas mais observados nas crianças durante a avaliação clínica foram alterações na ausculta cervical, tosse, engasgo e dessaturação de oxigênio. “Ao verificar a associação entre esses sinais e os achados da videofluoroscopia, apenas o engasgo foi associado à penetração laríngea isolada com líquido fino”. O que pasma são os números: 38% dos pacientes apresentaram aspiração laríngea, das quais aproximadamente 86% foram silentes. Com base nesses resultados, a pesquisadora ressalta para os profissionais fonoaudiólogos que atuam na área da disfagia infantil a estarem atentos a presença de engasgo na avaliação clínica, pois ele é indicativo de penetração laríngea, principalmente com líquido fino. “É importante complementar a avaliação clínica com uma avaliação instrumental sempre que for possível, devido à alta ocorrência de aspiração silente nessa população”, finaliza Silva-Munhoz.

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