ISSN 2359-5191

01/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 30 - Saúde - Escola de Enfermagem
Enfermagem divulga métodos de alívio de dor em recém-nascido
Vídeo “Seja Doce com os Bebês” e curso para enfermeiros pretendem ensinar essas estratégias analgésicas
trecho do vídeo "Seja Doce com os Bebês"

Projetos para orientar pais e enfermeiros sobre métodos de aliviar a dor nos recém-nascidos são iniciativas do grupo de pesquisa Enfermagem e Cuidado Neonatal da Escola de Enfermagem da USP (EE-USP). Um deles é um vídeo didático chamado “Seja doce com os bebês”, (já disponível no Youtube por esse link https://www.youtube.com/watch?v=ZGLSNdYtppo&feature=youtu.be) e o outro consiste em um curso para capacitar enfermeiros. A iniciativa foi implantada devido à falta de informação tanto dos familiares quanto dos profissionais sobre as estratégias analgésicas em questão.

Apesar de já serem reconhecidos há anos pela comunidade científica, os métodos de alívio de dor nos bebês são pouco conhecidos. A professora Mariana Bueno, líder do grupo de pesquisa responsável pela iniciativa, constatou: “O que se tem hoje é uma distância muito grande entre o conhecimento científico produzido e os profissionais e pais”. A pesquisa posterior à exibição do vídeo também indicou o desconhecimento: apenas 20% dos pais sabiam de algum dos métodos de alívio de dor e menos de 10% afirmaram que os seus filhos já haviam recebido uma das intervenções. Porém, após assistirem ao vídeo educativo, 90% dos pais mostraram-se dispostos a utilizar os métodos indicados.

O vídeo produzido pela EE-USP divulga três estratégicas analgésicas que não envolvem a ingestão de medicamentos: solução adocicada, contato pele a pele e amamentação. Todos já foram estudados por inúmeras pesquisas por todo o mundo e revisões sistemáticas foram publicadas pela Cochrane, plataforma para estudos científicos. Esses métodos de alívio de dor são aconselhados para situações como exames médicos incômodos, vacinação e, especialmente, para recém-nascidos que são expostos a situações dolorosas frequentemente, como é o caso de alguns prematuros.

Solução Adocicada

A ingestão de açúcares é o mais conhecido e pesquisado destes métodos de alívio de dor em recém-nascidos. Tanto a glicose quanto a sacarose já foram testadas para este fim e mostraram resultados positivos. Segundo estudos, os sacarídeos estimulam as papilas gustativas dos bebês de forma que ativam o Sistema Nervoso Central, causando um controle endógeno da dor. Para maior eficácia, a solução adocicada deve ser ingerida cerca de dois minutos antes do procedimento doloroso.

Porém, alguns estudos vão na contramão dessa ideia. Pesquisa da University College London, publicada pelo The Lancet e pelo The Guardian, indicou que é possível que os açúcares não sejam tão eficientes em tratar a dor. Resultados de análise de dor via exame de observação cerebral mostraram alterações tanto em bebês que receberam sacarose para prevenir a dor quanto nos que não receberam. Todavia, a comunidade científica questionou essa pesquisa devido às inúmeras variáveis envolvidas no monitoramento do encéfalo (encefalografia) e ao número maior de descobertas favoráveis a solução adocicada para o alívio da dor.

Contato pele a pele

Não tão difundido, o contato pele a pele, também chamado de “cuidado canguru”, é um método importante destacado pela iniciativa da enfermagem. A estratégia consiste em posicionar o bebê em posição vertical contra o peito nu da mãe ou do pai, de maneira que ele fique aquecido, estável e seguro. Para manter a temperatura, é aconselhado o uso de cobertor cobrindo as costas da criança. Deve-se iniciar esse processo cerca de 15 minutos antes da situação de dor para melhor efeito.

O método começou a ser utilizado em prematuros que não tinham vagas em incubadoras. Assim, os bebês mantinham-se aquecidos e alimentados em uma só posição, de forma que ficavam estáveis. Mais tarde, descobriu-se que o procedimento também aliviava a dor nos bebês.


Amamentação

Além de alimentar perfeitamente o bebê, diminuir o risco de obesidade e contribuir para o sistema imunológico da criança, o aleitamento materno também pode aliviar a dor em recém-nascidos. O leite, solução adocicada de lactose, junto com o contato pele a pele materno que a amamentação proporciona, é a fórmula analgésica não medicinal perfeita. Além de juntar as duas outras estratégias, também mata a fome, eliminando outro incômodo, e distrai da dor.


No entanto, para poder aliviar a dor nos bebês é preciso saber diagnosticá-la. O curso promovido pela EE-USP tem essa finalidade. Dedicado a alunos na área da saúde e a profissionais que prestem assistência a recém-nascidos, o curso está em sua fase final de elaboração e deve ser oferecido a partir do ano que vem.

Nesse projeto, algumas formas de detectar a dor de recém-nascidos serão ensinadas. O choro é uma delas, por mais que também seja um sinal de qualquer outro incômodo do bebê, algumas frequências de gritos indicam dor. Outra forma é a análise das mímicas faciais: testa franzida, língua tensa e sulcos faciais marcados também são sintomas. Além disso, o aumento da frequência cardíaca deve ser notado. Esses indicadores, entre outros, serão contabilizados em escalas pré-estabelecidas por estudos já publicados, de forma que a dor seja diagnosticada.

 

A dor é ruim para o bebê não apenas devido ao incômodo momentâneo. “Episódios de dor não tratada e dor repetida podem afetar negativamente o desenvolvimento e o crescimento dos recém-nascidos” segundo a pesquisadora. Os danos podem ir de um prejuízo no aprendizado até uma diminuição na massa do sistema nervoso central da criança. Por isso, é importante que os métodos de diagnosticar e tratar a dor sejam difundidos. As iniciativas do grupo de pesquisa Enfermagem e Cuidado Neonatal da EE-USP colaboram para isso.


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