ISSN 2359-5191

08/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 35 - Meio Ambiente - Faculdade de Saúde Pública
Impactos ambientais gerados pelas árvores possuem valor econômico
Pesquisa sugere que importância dos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta urbana devem ser considerados no cálculo do PIB das nações
Parque do Ibirapuera teve sua população arbórea investigada pela pesquisa. / Fonte: Liz Dórea (autoral)

O conceito de sustentabilidade nunca foi tão urgente para a gestão das grandes metrópoles como no atual momento de crise ambiental globalizada. Filiada a esse contexto, uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP investigou o impacto das áreas verdes para a saúde ambiental das cidades, e propôs atribuir um valor econômico aos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta urbana.

O estudo, dirigido pelo administrador de empresas Fernando Tolffo, demonstrou que o capital natural e seus benefícios são também detentores de valor monetário e precisam ser considerados na contabilidade dos processos de produção, no balanço das empresas e no cálculo do PIB das nações. Para o pesquisador, a expansão desta visão pode se transformar em uma estratégia de redução dos problemas ambientais vigentes, inclusive em áreas altamente urbanizadas.

“Como vivemos tempos em que boa parte das relações sociais são permeadas por processos de financeirização, pensei em realizar um exercício que evoluiu para uma proposta de valoração monetária dos serviços ecossistêmicos prestados pela vegetação arbórea de um parque em São Paulo. A experiência se revelou bastante satisfatória e passível de ser replicada no contexto de uma megalópole”, explica Tolffo.

Métodos de captação e resultados atingidos

Apurados no parque paulistano do Ibirapuera, os dados da pesquisa foram processados através do i-Tree ECO, um software que proporciona a análise da floresta urbana e, por consequência, dos serviços ecossistêmicos que ela provê. Empregada pioneiramente no Brasil, a ferramenta utiliza informações sobre a estrutura da vegetação arbóreo-arbustiva, além de outros elementos pertinentes a aspectos climáticos e atmosféricos do local estudado.

O banco de dados obtido, então transferido à equipe gestora do programa para análise e emissão de resultados, corroborou a relevância da conservação dos remanescentes arbóreos nas cidades. Foi possível verificar que as árvores e as áreas verdes urbanas cumprem funções análogas às rurais, filtrando poluentes, umidificando a atmosfera, regulando o microclima, arrefecendo o calor, diminuindo as enchentes e sequestrando o carbono.

Além disso, calcula-se que as 14.334 árvores do Parque Ibirapuera haviam armazenado 8740 toneladas de carbono da atmosfera em 2011. Dados sobre os volumes totais de poluentes atmosféricos removidos do ar, por intermédio dessa mesma população arbórea, revelam dimensão de impacto igualmente notável. Finalmente, um preço atribuído por unidade volumétrica de cada contaminante considerado permitiu estimar o valor desse serviço ecossistêmico específico.

Dificuldades e possibilidades de gestão

De acordo com o pesquisador, políticas públicas precisam, então, fortalecer esse papel da cobertura vegetal nas cidades, uma vez provada sua influência para a qualidade de vida dos cidadãos das metrópoles. A adoção de tecnologias e ferramentas dedicadas à melhoria do meio ambiente urbano, assim, adquire importância crescente para a concepção de estratégias de gestão e para a promoção de saúde ambiental nas cidades.

“O Pagamento por Serviços Ecossistêmicos é uma abordagem promissora que visa a proteção dos benefícios ao ambiente ofertados pela cobertura vegetal urbana, através de incentivos que compensem os proprietários das áreas geradoras destes benefícios a adotarem práticas que as protejam”, esclarece Tolffo.  

Em última análise, porém, o estudo sugere que ainda existem barreiras na relação entre o morador das áreas urbanas e a sustentabilidade do meio ao redor, no qual ele se incorpora. Para o pesquisador, superá-las, de modo que a humanidade reconheça que ainda depende dos serviços da natureza, é um desafio permanente aos formuladores de políticas públicas e aos próprios cidadãos.

“Lamentavelmente, árvores chegam até mesmo a serem vistas como transtornos para algumas pessoas, devido à ocupação dos espaços das calçadas, ao conflito entre sua presença e a fiação elétrica aérea, ou por conta dos resíduos de folhas e galhos caídos. São também as primeiras sacrificadas pela especulação imobiliária”, finaliza.

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