ISSN 2359-5191

08/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 35 - Ciência e Tecnologia - Escola Politécnica
Pesquisa social analisa comportamentos em ambientes de pesquisa
Foi analisada a maneira com que pesquisadores lidam com gestão do conhecimento e computação em nuvem
Ilustração: Giovanna Wolf Tadini

Com a orientação do professor Josemir Coelho Santos, o pesquisador da Escola Politécnica Domingos Gomes desenvolveu sua tese de doutorado na forma de uma pesquisa social. Ele entrou em contato com grupos de pequisa científica dentro e fora da Universidade de São Paulo, fundamentalmente em torno das áreas de computação e engenharias, para verificar como eles lidam com a gestão do conhecimento, se conhecem e sabem de sua importância e se utilizam a tecnologia da computação em nuvem.

Essa “metaciência” - a ciência falando sobre o funcionamento da ciência -, como define o professor Josemir, é o foco de Domingos desde o mestrado. Observando o ambiente de pesquisa da área de óptica, em que eles atuam, o pesquisador percebia que “as pessoas entravam para participar, desenvolviam algum tipo de conhecimento, saíam e muitas vezes se perdia o conhecimento ou ele se dispersava de alguma maneira”. Eles começaram, então, no mestrado, a pensar em ferramentas de gestão que ajudariam a reter conhecimento explícito (armazenar materiais de escrita, slides, vídeos) e, depois, a compartilhar essas informações para criar um modelo de retroalimentação, ou seja, gerar conhecimento a partir de outro conhecimento já exposto. A princípio, no doutorado, a ideia seria aplicar esse método no grupo de pesquisa deles, depois expandir para outros lugares, até atingir a comunidade científica em geral.

Entretanto, o mestrado e a expectativa inicial para o doutorado ocorreram em um contexto em que a tecnologia de computação em nuvem não era tão presente. “Na época do doutorado, a computação em nuvem se tornou uma realidade, a USP investiu nisso pesadamente, e a gente já havia detectado que, para que essas ferramentas pudessem ser mais utilizadas, elas tinham que ser acessíveis de lugares fora do ambiente acadêmico”, diz Josemir. Desta forma, a computação em nuvem, já explorada na área administrativa do Campus, começou a ser pensada como uma ferramenta possível de ser utilizada também nos ambientes de pesquisa. A partir disso, eles chegaram à conclusão que seria mais interessante fazer uma pesquisa social para entender o comportamento dentro dos ambientes de pesquisa, ao invés de investir na aplicação prática de uma ferramenta (inicialmente como teste dentro do grupo), que poderia não conseguir a adesão das pessoas devido à heterogeneidade dos grupos científicos.

O levantamento de informações

Para essa pesquisa social, foram distribuídos 900 questionários e o pesquisador obteve o retorno, considerado elevado, de 400 respostas. Por sentir que não havia clareza nos métodos de pesquisa social na literatura científica, Domingos optou por fazer uma descrição detalhada de sua metodologia, para que ela pudesse ser utilizada como referência mais tarde. No questionário enviado para pesquisadores, havia dez perguntas relacionadas aos hábitos em relação à gestão do conhecimento e outras dez relacionadas ao uso da computação em nuvem.

Domingos chegou a respostas relacionadas a questões culturais e tecnológicas. Muitas vezes, os pesquisadores veem o trabalho científico como uma tarefa muito pessoal, sem se preocupar com o compartilhamento de seus materiais com outras pessoas. Outros, realmente hesitam em compartilhar conhecimento por questão de segurança (apesar de a nuvem poder ser até mais segura que um computador particular, pelos mecanismos de controle). Há aqueles também que questionam os modelos de gestão de conhecimento, por acharem que é uma burocratização do trabalho científico. “Às vezes, dois pesquisadores estão fazendo coisas até similares e há pouca troca de informação”, diz o autor com base nas respostas que obteve. Como uma reflexão pessoal de seu comportamento como pesquisador depois do contato com essa pesquisa, o próprio Domingos contou que, quando a ele foi pedido o arquivo de sua tese com o fim de embasamento para a elaboração desta entrevista, sentiu-se desconfiado ao mandar um “PDF” para uma desconhecida, antes da defesa do doutorado. Momentos depois, pensou “calma, a pesquisa precisa ser divulgada, chegou a hora.”

Em relação à tecnologia, ficou evidente que a maior parte das pessoas usa mais de um computador para a realização de suas atividades científicas e, entre os computadores utilizados, ainda há diferença de configurações. Nesse sentido, a nuvem aparece como uma solução viável, por ser onipresente e configurável. Outra informação importante que foi levantada diz respeito à necessidade de capacitação para a utilização do computador: “a gente poderia imaginar talvez que hoje em dia isso não seria algo tão necessário, porque aparentemente os estudantes universitários e depois os pesquisadores já teriam passado por essa fase de estarem capacitados para utilizar recursos computacionais quaisquer que fossem. Mas a gente viu que isso, na prática, não é verdade”, afirma o orientador. E sobre o costume de utilização da nuvem, alguns pesquisadores disseram que nunca a utilizaram, o que, para Domingos, “é um exemplo de desinformação, já que Gmail ou o Hotmail, por exemplo, são ferramentas de envio de correspondência eletrônica, baseadas na nuvem”.

O objetivo maior da pesquisa foi ampliar a discussão acerca dos comportamentos nos ambientes de pesquisa em relação à gestão do conhecimento e à computação em nuvem. “Eu acho que o fato de a gente ampliar a discussão já é uma contribuição”, afirma o autor. Ele explica que é um estímulo para membros de um grupo de pesquisa ou de uma instituição relacionada à ciência pensarem em políticas para a aplicação dessas tecnologias a fim de reverter hábitos do pesquisador que se volta muito a si mesmo e não reflete sobre a importância do compartilhamento de informações para a comunidade científica.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br