ISSN 2359-5191

26/11/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 23 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Atividade humana na Amazônia pode alterar clima nos Andes

São Paulo (AUN - USP) - “Pode o bater de asas de uma borboleta no Brasil causar um tornado no Texas?” A célebre pergunta pode parecer exagerada, mas é cabível e pode ser transposta para diversas escalas. Chega a ser desalentadora quando projetamos esta malha de causas e efeitos para toda a poluição e devastação ecológica gerada pelo homem. Um estudo realizado pelo físico Alexandre Lima Correia, numa parceria entre o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (Ifusp) e a Universidade Joseph Fourier (Grenoble, França) constatou que a precipitação de neve nos Andes Orientais aumentou no século XX, e a ocupação humana da Bacia Amazônica pode ser uma das causadoras.

A confirmação talvez não pareça muito relevante, porém é um indicativo fidedigno de que mudanças climáticas estão acontecendo, e que o homem é o grande responsável por elas. Correia afirma que “o único consenso (entre os especialistas) é que a temperatura média da Terra aumentou em cerca de 1°C ao longo do século XX, e a maior parte deste aumento é devida a atividades humanas”.

Estudos recentes revelam que a precipitação na Amazônia sofreu alterações nos últimos quarenta anos. E boa parte da umidade que vira neve nos Andes chega nos ventos advindos da floresta amazônica, que além de vapor carregam toda sorte de aerossóis (partículas microscópicas em suspensão na atmosfera).

A análise das substâncias presentes na neve andina constitui um aspecto inovador do trabalho, como diz Correia. Nunca antes um testemunho de gelo (o cilindro de gelo extraído do qual se obtêm as amostras) foi mantido congelado até o laboratório, dividido em partes tão pequenas e teve um número tão grande de elementos químicos pesquisados. Foram analisadas as concentrações de um total de 45 deles, garantindo uma ampla base de dados e gráficos. Novamente, foi possível verificar que a atividade humana deixou traços.

Alguns elementos, como o cobre, o zinco e o cádmio, que são típicos de atividades extrativas e industriais, sofrem um aumento gigantesco em suas concentrações a partir dos anos 60. Já a do arsênio, originado principalmente em fundições, sofreu uma explosão entre os anos de 39 e 45, e voltou a crescer na década de 80. Alguns elementos, porém, não se mostraram da forma como era esperada. O potássio, associado a queimadas florestais, não mostrou grandes variações em sua concentração ao longo do período estudado, que vai de 1919 até 1999.

Esse fato alerta para um dos obstáculos naturais do estudo, pois a dificuldade para associar a presença de uma substância com a sua fonte milhares de quilômetros distante é imensa. Correia explica que a matéria que se deposita na neve dos Andes é apenas uma fração de todas as partículas emitidas, que se dispersam e sofrem interferências imprevisíveis ao longo de sua jornada. E mesmo que o estudo seja extremamente rigoroso em alguns aspectos técnicos, esses ruídos ainda se mantêm presentes. É a inexorabilidade do acaso. Mas também pode ser o bater de asas de alguma borboleta num confim perdido.

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