Em
março deste ano, o presidente Lula assinou decreto
que regulamentou o Proinfa (Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Elétrica). O programa
vai contar com cerca de R$ 5,5 bilhões de investimentos
do BNDES e representa um passo importante para diversificar
a matriz energética brasileira.
Essa
medida carrega também uma importância ambiental.
Existe hoje um esforço mundial na tentativa de reduzir
a emissão de poluentes. O Brasil, nesse sentido, já
é um exemplo a ser seguido. Atualmente, 90% da eletricidade
gerada no País provém da energia hidráulica,
uma fonte renovável e limpa. Nada mais justo para um
país banhado por tantos rios de planalto, ideais para
a construção de usinas hidrelétricas.
Entretanto, também é necessário diversificar
essa matriz energética e aproveitar o potencial brasileiro
presente em sua riqueza natural, no imenso território
e na incidência de radiação do Sol que
a localização tropical proporciona.
Sistema
de aquecimento em Uberlândia |
Algumas
iniciativas nesse sentido já estão sendo
tomadas muito antes dos temas ambientais fazerem parte
da agenda dos nossos governantes. É o caso do engenheiro
Augustin Woelz, que em 1985 desligou-se |
da
empresa onde trabalhava em São José dos
Campos para investir na área ambiental. Foram anos
de estudo para desenvolver tecnologia para fabricar aquecedores
solares a preços acessíveis sem chegar a
grandes resultados. A história mudou em98, quando
sua empresa foi convidada a participar do Cietec (Centro
Incubador de Empresas Tecnológicas), na USP. "Com
a convivência acadêmica e a troca de informações
com outros projetos, nós conseguimos desenvolver
o aquecedor solar de baixo custo, um projeto idealizado
em 92 e que se materializou apenas no final de 2001",
comemora. |
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Creche
em Goiânia |
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Nesse
ano eles fundaram a Sociedade do Sol, uma ONG (Organização
Não-Governamental) que visa a difundir a tecnologia
do ASBC (Aquecedor Solar de Baixo Custo) na comunidade. O
foco do projeto são as comunidades mais pobres, já
que o custo total do ASBC fica em cerca de R$ 250, para produzir
água quente para o banho de uma família de 4
a 6 pessoas. Um investimento que, segundo o idealizador, retorna
ao usuário em menos de dez meses. "O foco do projeto
é a população de baixa renda, e a gente
tem recebido muitos retornos dessas pessoas", afirma.
Para incentivar a disseminação do projeto, Woelz
não quer patenteá-lo.
De
fato, a caixa de e-mails da ONG está cheia de contatos
de pessoas que usam o ASBC, muitas delas com enorme sucesso.
É o caso do engenheiro Mauro Rocha, de Goiânia,
que há mais de três anos utiliza o ASBC e não
tem do que reclamar. Ele e a irmã criaram uma empresa
que usa o projeto para desenvolver a tecnologia e adequá-la
comercialmente, fato que só pôde acontecer devido
à decisão de Woelz de não patentear o
projeto.
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Em
Goiânia os frutos já estão sendo colhidos.
O barateamento da tecnologia do ASBC permitiu que a Secretaria
de Educação investisse sua instalação
em 53 creches na cidade. "Quando estiverem instalados
os 53 módulos, a economia de energia elétrica
anual será da ordem de R$ 240 mil, dinheiro suficiente
para a construção de uma creche completa",
comemora Rocha. |
Outra
alternativa de fonte de energia é a biomassa. "Biomassa
é qualquer substância, de origem vegetal ou animal,
que pode ser usada como fonte de energia elétrica ou
térmica", explica Orlando Cristiano da Silva,
membro da equipe executiva do Cenbio (Centro Nacional de Referência
em Biomassa), localizado na USP. Além da vantagem ambiental
(ela polui menos que outros combustíveis fósseis
como o petróleo), existe a importância socioeconômica.
"A produção de biomassa envolve mão-de-obra
local, agregando trabalhadores e atenuando problemas de êxodo
rural", explica.
O
próprio Cenbio, em parceria com a Sabesp, desenvolve
um projeto na Estação de Tratamento de Esgoto
de Barueri, a maior da América Latina. Lá, foi
instalada uma microturbina importada dos Estados Unidos que
transforma o biogás eliminado pelo esgoto em energia
elétrica. Apesar de ainda ser um projeto piloto, o
engenheiro responsável, David Freire da Costa, acredita
que é uma iniciativa válida, pois evita que
o metano, um gás extremamente tóxico presente
no biogás, seja jogado na atmosfera. "Transformar
o biogás em energia elétrica é dar um
fim mais nobre a um resíduo que poderia ser eliminado
no ar", afirma.
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Sistema
completo ASBC |
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A
Prefeitura de São Paulo também caminha em direção
ao uso de outras fontes renováveis de energia. No início
do ano, como parte da comemoração dos 450 anos
da cidade, a prefeita Marta Suplicy inaugurou a Central Termelétrica
Biogás do Aterro Sanitário Municipal Bandeirantes,
no bairro de Perus. Utilizado desde 1979, o local recebe sete
toneladas de lixo por dia - metade da produção
da cidade de São Paulo - e é um dos maiores
aterros do mundo. Estima-se que em 2006 ele atinja o seu limite
de 30 milhões de toneladas de lixo, quando será
desativado.
Para criar a maior central de geração de eletricidade
movida a gás de aterros sanitários do mundo,
foi necessário um investimento total que superou a
marca dos R$ 60 milhões, permitindo a redução
de até 8 milhões de toneladas de carbono na
atmosfera, contribuindo para a redução do efeito
estufa e para a economia de energia. A produção
de energia vai suprir a demanda energética das agências
do Unibanco, um dos financiadores do projeto, em todo o Brasil.
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Produção
de energia eólica |
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Enquanto
isso, longe dos lixões de São Paulo, o Nordeste
destaca-se por ser uma área privilegiada em uma determinada
fonte de energia ainda pouco conhecida, a eólica. Nela,
torres de mais de 20 metros de altura com gigantescas hélices
no topo transformam, através de sua rotação,
o vento que incide sobre o Nordeste o ano inteiro em energia
elétrica. São Paulo, por outro lado, está
em desvantagem no que diz respeito à energia eólica,
pois sua área é uma das que menos recebem incidência
de ventos no Brasil. Quando se fala em malefícios dessa
fonte energética, dois pontos costumam ser levantados:
a poluição sonora que a sua estrutura produz
e a poluição visual. Para se ter uma produção
elétrica significativa, é necessário
uma grande área de terra com diversas torres e hélices,
alterando a paisagem natural do ambiente.
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