olimpíadas

 

 
por
Kitty Ballieriro
Especial para a Revista Espaço Aberto

Quando o iatista Torben Grael, dono de quatro medalhas olímpicas, entrar como o porta-bandeira brasileiro na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, ele estará à frente da maior delegação nacional já enviada a uma olimpíada. E dos 245 atletas que disputarão 26 das 28 modalidades na Grécia, 123 são homens e 122 mulheres.

Apesar de ser uma delegação numerosa, o total de medalhas que este batalhão de brasileiros bem-intencionados pode conquistar é bem mais modesto. Os mais otimistas apostam em 23, 24 pódios brasileiros. Melhor ser um pouco mais realista. A conceituada revista norte-americana Sports Ilustrated divulgou um estudo sobre as grandes forças do esporte mundial e que serão os principais candidatos a medalhas nos Jogos Olímpicos. Para chegar aos números finais, a publicação levou em conta o ranking e os últimos resultados de todas as modalidades olímpicas. Pelas previsões dos especialistas, o Brasil deve conquistar 12 medalhas: quatro de ouro, três de prata e cinco de bronze - ou seja, menos de 5% dos atletas brasileiros terminarão a competição entre os três primeiros colocados.

foto crédito:Wander Roberto/COB

Daiane dos Santos
Segundo a revista, as medalhas de ouro reservadas para o Brasil serão conquistadas pela equipe masculina de vôlei, pela dupla masculina de vôlei de praia formada por Ricardo e Emanuel, pelo velejador Robert Scheidt e pela ginasta Daiane dos Santos, no exercício de solo. Mais que correto - todos estão no topo. Scheidt é o único
heptacampeão mundial da Classe Laser do mundo, e ganhou tudo este ano. A seleção masculina de vôlei atingiu um grau de excelência difícil de ser igualado por qualquer outra seleção internacional. A dupla do vôlei Ricardo e Emanuel parece ter desenvolvido um tipo especial de telepatia, e jogam por música. E a pequenina Daiane dos Santos é certamente um fenômeno. Muitas ginastas já realizam o "duplo twist carpado", o movimento que ela inventou e que foi batizado com seu sobrenome. Mas em Atenas, a Daiane vai executar o "duplo twist esticado", um movimento ainda mais difícil, e que foi mostrado apenas uma vez - no Rio de Janeiro, numa das etapas da Copa do Mundo de Ginástica. Se der tudo certo, Daiane deverá se tornar a primeira mulher brasileira a ganhar um ouro individual em jogos olímpicos.

Segundo os americanos, as três medalhas de prata para o Brasil devem vir com Carlos Honorato, do judô, com a outra dupla masculina de vôlei de praia, Márcio e Benjamin, e com a jovem revelação na natação, Thiago Pereira. Honorato já ganhou uma prata nos Jogos de Sydney, em 2000, e segue em grande forma. Márcio e Benjamin também não têm encontrado adversários à altura, a não ser seus próprios rivais brasileiros. E Thiago Pereira, aos 17 anos, é um daqueles milagres que acontecem de tempos em tempos no Brasil.

foto crédito:Washington Alves - COB

Volei de praia feminino
Thiago é especialista em todos os estilos, e vai nadar os 200 e os 400 metros medley em Atenas, seguindo os passos do grande Ricardo Prado, ex-recordista mundial dos 400 medley e medalha de prata na Olimpíada de 1984, em Los Angeles. Nos 400, as chances de Thiago são pequenas, mas é provável que ele chegue à final. Já nos 200, ele tem o segundo melhor tempo do mundo este ano, e chega em Atenas com uma certa vantagem: ele não tem de se preocupar com pressões pela vitória, já que vai para sua primeira olimpíada,e pode,ao mesmo tempo,usar e
abusar da ousadia e atrevimento típicos da juventude, e sair encarando e desafiando os favoritos. Daniel Hernandes, Mário Sabino e Edinanci Silva, no judô, a seleção feminina de vôlei e a dupla de vôlei de praia Adriana Behar e Shelda são os atletas brasileiros cotados para ganhar as medalhas de bronze.

O estudo da Sports Illustrated tem tudo para dar certo. Mas eu incluiria mais algumas boas chances para o Brasil. No atletismo, aposto em Jadel Gregório, no salto triplo. Jadel vem mantendo uma consistência excelente em suas marcas desde o final do ano passado, e pode muito bem engrossar a lista dos pódios brasileiros - eu diria que um bronze seria a melhor aposta. Seria fantástico ele conquistar uma medalha no salto triplo, modalidade que já trouxe tantas glórias para o País. Nelson Prudêncio - prata, no México, 1968, e bronze, em Munique, 1972 - João Carlos de Oliveira, o João do Pulo - dois bronzes: Montreal, 1976 e Moscou, 1980 - e os dois ouros do grande Adhemar Ferreira da Silva, em Helsinque, 1952 e Melbourne, 1956, o único bicampeão olímpico brasileiro.

foto crédito:Wander Roberto/COB
 
Janete da seleção de basquete feminino  

As seleções femininas de basquete e de futebol também são boas candidatas a uma medalha de bronze. Ambas são hoje uma mistura de experiência e renovação, tiveram um bom período de preparação, e suas jogadoras estão altamente motivadas a realizar a melhor competição da vida delas. O hipismo, por equipe e no individual, com o sempre talentoso Rodrigo Pessoa, o revezamento 4x100 masculino do atletismo, e o revezamento 4x100 livre masculino, na natação, também merecem atenção.

O recorde brasileiro é de 15 medalhas, em Atlanta, 1996. Lá, o Brasil conquistou 3 medalhas de ouro, 3 de prata e 9 de bronze. Em Sydney, 2000, foram 12 - 6 de prata e 6 de bronze. Se os números para as conquistas brasileiras são modestos, os números que envolvem os jogos de Atenas são grandiosos. Serão 10.500 atletas e 5.500 técnicos e dirigentes de 202 países - três a mais do que nos jogos anteriores. As provas serão assistidas por 2,5 bilhões de pessoas de 250 países. O Comitê Olímpico Internacional faturou US$ 2,2 bilhões com a venda dos direitos de transmissão para TVs do mundo todo. Para cobrir o evento, estarão em Atenas 21.500 jornalistas, sendo 16 mil só de rádio e TV.

O comitê organizador já arrecadou US$ 81 milhões com o licenciamento de produtos, e desde 1997, já foram gastos US$ 12 bilhões em infra-estrutura e marketing. Só o esquema de segurança consumirá US$1,2 bilhão - número quatro vezes maior que o gasto em Sydney/2000. O Complexo Olímpico de Atenas custou US$ 175 milhões e foi projetado pelo famoso arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que também assina o aeroporto de Bilbao, a ponte Alamillo, em Sevilha, e o Museu de Arte de Milwaukee, nos Estados Unidos.
Para a confecção das 3 mil medalhas que serão distribuídas em 301 cerimônias de premiação, foram utilizados 13 kg de ouro, 1 tonelada de prata e 1 tonelada de bronze. E seja qual for a previsão escolhida para o desempenho dos nossos atletas, pelo menos um pouquinho desse brilho todo certamente virá para o Brasil.


Kitty Ballieiro é Editora da ESPN Brasil