Este artigo examina as obras de João Guimarães Rosa, Mário de Andrade e João Simões Lopes Neto com o objetivo de verificar em que medida pontos de contato identificados na ficção desses autores promovem rearranjos na série literária brasileira. O estudo parte da noção de tradição literária, tal qual formulada por T. S. Eliot e Jorge Luis Borges, e, em seguida, procura mapear a ocorrência de ressonâncias das principais obras de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto na literatura de Guimarães Rosa. Assim procedendo, pretende averiguar como a obra de Guimarães Rosa ressignifica os textos de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto, renovando sua legibilidade e modificando sua posição no campo literário.
Este artigo analisa a permanência de marcas do Regionalismo na prosa da literatura brasileira contemporânea. Considerado ultrapassado pela crítica literária e renegado pelos escritores, o Regionalismo entrou para a história da literatura brasileira como sinônimo de arte de baixa qualidade estética. No entanto, percebe-se que os temas regionais nunca deixaram de ser matéria para a narrativa ficcional brasileira, desde Guimarães Rosa, Erico Verissimo e Josué Guimarães, até Luiz Antonio de Assis Brasil, Antônio Torres e Milton Hatoum. Observa-se que a diferença entre o presente e o passado reside na ênfase dada pelos escritores ao contexto e ao espaço regionais, em um primeiro momento ufanistas em relação às particularidades da terra, e na contemporaneidade preocupados com a problematização dos contrastes culturais. Conclui-se que a literatura brasileira contemporânea deve muito à tradição regionalista, sem que isso implique questionamentos de qualidade estética, e que cabe à crítica investigar os temas e as formas da narrativa como chaves de interpretação para problemas históricos que perduram.
Este trabalho procura analisar como a obra de João Guimarães Rosa se relaciona com a tradição literária do Regionalismo e fratura os discursos críticos consolidados ao longo do tempo a respeito dos pressupostos estéticos que seriam característicos daquela vertente. Para tanto, são examinados dois momentos distintos da literatura do autor: de um lado, seus quatro contos iniciais, originalmente publicados entre 1929 e 1930; de outro, “Pé-duro, chapéu-de-couro”, texto de 1952 largamente ignorado pela crítica literária, mas relevante para a compreensão do universo ficcional gestado pelo autor. Contrariamente às perspectivas críticas historicamente dominantes, busca-se demonstrar como a ficção de Guimarães Rosa encontra seu ápice quando se volta para o espaço regional, dele retira sua matéria e nele situa suas tramas.
Este ensaio analisa a presença e a persistência de certa tradição regionalista nas
letras brasileiras, traçando ligações metodológicas do aporte teórico oriundo das
investigações sobre imaginário e memória coletiva com aquele consolidado por parte
da crítica literária nacional. Busca-se evidenciar de que maneira as aproximações à
obra de arte e os julgamentos de valor produzidos veicularam imagens aceitas e
apreendidas na memória coletiva, as quais se tornaram, não raras vezes, índices
determinantes de leitura, solapando a legitimação do regionalismo
Este ensaio tem como objetivo analisar a novela “Duelo”, de João Guimarães Rosa, integrante da obra
Sagarana, a partir da perspectiva do imaginário social e sua relação com a cultura regional. Busca-se evidenciar como a ruptura da instituição casamento afeta o comportamento social das personagens e conduz o sujeito masculino a um processo de animalização e morte fútil. A partir disso, discute-se, também, o modo como a temática abordada inscreve a produção rosiana no universal, transcendendo as fronteiras do meramente regional.
Este artigo enfoca a recepção crítica da obra de Guimarães Rosa, a partir de 1946 até o início do século XXI, e analisa os argumentos empregados para lidar com a presença da região na literatura do autor. O discurso crítico, desde o lançamento de Sagarana, manifesta uma relação conturbada com as características comumente associadas ao Regionalismo, ora reconhecendo, ora negando sua presença na ficção rosiana. Ao invés de fomentar novas percepções críticas acerca da literatura produzida com base em espaços regionais, a obra de Guimarães Rosa parece ter contribuído, involuntariamente, para a consolidação de matrizes de pensamento que negam ao regional o estatuto literário. O termo Regionalismo é grafado com inicial maiúscula ao longo do texto, uma vez que ele é aqui tomado como indicador de uma vertente literária.
A ficção de João Guimarães Rosa notabiliza-se por sua capacidade de recorrer a sujeitos deslocados e incomuns sob diversos aspectos, construindo tramas nas quais personagens ímpares adquirem protagonismo. Dentre eles, no âmbito deste trabalho, ganha destaque Livíria, mulher cujos nomes anagramá- ticos (Rivília, Irlívia ou ainda Vilíria) parecem velar e, ao mesmo tempo, desvelar
sua importância na narrativa do conto intitulado “Desenredo”. Com isso em vista, procura-se lançar luzes sobre os aspectos que fazem que, por um lado, embora a narração confira a Jó Joaquim os papéis de protagonista da história e de autor do “desenredo”, por outro, é Livíria quem protagoniza não um, mas dois triângulos amorosos, e serve de princípio motor à narrativa, subvertendo a estrutura social de uma pequena comunidade interiorana. Nessa linha, o feminino articula-se não como simples pivô da traição, mas antes como elemento primeiro de um caso de amor dominado pela mulher que possuía “o pé em três estribos”.
Este ensaio objetiva analisar dois momentos específicos de uma das maiores obras da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas: a tentativa frustrada de travessia do Liso do Sussuarão perpetrada pelo bando de Medeiro Vaz e, no final da narrativa, o êxito alcançado na mesma empreitada por Riobaldo e seus comandados. Busca-se evidenciar de que maneira as passagens representam a transformação do lugar em espaço, através da ação humana, e propiciam um diálogo entre o regional e o universal.
Este trabalho objetiva analisar o conto “sorôco, sua mãe, sua filha”, de joão
guimarães rosa, integrante da obra primeiras estórias, a partir da trajetória da personagem rumo à
loucura. Busca-se evidenciar como seu percurso marcado pela agonia acaba por fragmentá-la a
ponto de conduzi-la ao reconhecimento da alteridade. A partir disso, examina-se como a temática
abordada inscreve a produção rosiana no universal, sem sair do particular.
Este trabalho examina a presença do espaço regional na história da literatura brasileira como um problema de fronteiras. Da usual concepção dos limites geopolíticos que dividem territórios físicos à complexa dimensão simbólica envolvida no ato de impor limites, o trânsito entre regiões geográficas e literárias no Brasil encetou percepções que apontam não só para fronteiras entre domínios nacional e estrangeiro, como também entre realidade e ficção. Esta reflexão parte de algumas considerações sobre a capacidade da literatura de fomentar percepções de mundo e analisa brevemente a postura da crítica face ao elemento regional no texto literário. Em seguida, a partir das soluções encontradas por alguns escritores para a representação dos espaços regionais e com base em discussões teóricas sobre a noção de região, busca-se demonstrar como a literatura pode ter conformado a apreciação dos espaços regionais no Brasil.
Este ensaio resulta de uma perspectiva de investigação surgida imediatamente após a conclusão do curso de mestrado e é, portanto, uma posição teórica ainda em desenvolvimento. Nosso objetivo, aqui, é sinalizar um possível caminho para a revisão de alguns posicionamentos críticos relativos ao regionalismo literário desenvolvidos e consolidados pela historiografia. Tomamos os conceitos de região e regionalidade como imprescindíveis para tal e selecionamos como ponto de partida a obra de J. Guimarães Rosa, através da qual buscamos olhar para uma parcela da tradição literária brasileira e analisar alguns dos discursos veiculados pela crítica.
Este ensaio analisa os contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da religiosidade e da regionalidade. Pretende-se demonstrar como a religiosidade contribui para a construção das personagens e dos enredos, revelando traços de regionalidades sertanejas. Para tanto, são examinados nomes de personagens e as relações entre as tramas narrativas e as
representações de regionalidade. As observações fundamentam-se nos estudos de literatura, cultura e regionalidade.