Considerando em paralelo os índices de Corpo de baile e de Tutaméia, o presente trabalho pretende colocar o problema da construção do livro na obra de Gu imarães Rosa. A reflexão sobre a relação entre livro, leitor e releitura proposta em Tutaméia através do desdo bramento dos índices e do trabalho sobre as epígrafes de Schopenhauer prolonga e desenvolve o questionamento que estava patente, de forma menos objetivada, em Corpo de baile. Ao mesmo tempo, o investimento na noção de "parábase" em Corpo de baile é transportado para o jogo com os "Prefácios" de Tutaméia. Coloca-se, nessas classificações, o problema da relação do limiar do livro com o livro, mas também a questão do investimento autoral de que esse espaço se reveste. Trata-se de indicações de (re)leitura que prescrevem e refletem os movimentos do leitor como elemento que possibilita a obra, espelhando a estrutura da relação narrador/ interlocutor encenada em vá rios textos de Guimarães Rosa. Através de uma comparação dos dois casos em análise, tentar-se-á delinear uma cartografia da releitura em Guimarães Rosa como forma de tornar "orgânica" (e viva) a forma do livro (e da escrita) enquanto representação de uma realidade perenemente "movente" e não concluída.
A partir da correlação estabelecida por Gianfranco Contini e Giorgio Agamben a propósito da poesia de Pascoli entre uma “língua morta” e onomatopeia, o presente ensaio pretende reler o problema da legibilidade no conto “Meu tio o Iauaretê” de Guimarães Rosa, argu- mentando que a sobreposição indistinta entre tupinismos e onomatopeias que pauta a língua de onça do narrador é o ponto extremo de uma poética da ilegibilidade que atravessa toda a obra de Guimarães Rosa.
Meu primeiro contato com Clara Rowland aconteceu quando, em 2014, pleiteava eu uma bolsa de doutorado sanduíche na Universidade de Lisboa e, como a pretendia como tutora/co-orientadora,
apresentava-lhe um projeto de investigação sobre a escrita da violência em Rosa e que tentava unir este a Derrida, a bolsa não vingou, mas o contato e o projeto, estes, sim. Na entrevista que se segue, conversamos sobre a recepção, ou (não)recepção da literatura de Rosa e da literatura brasileira em Portugal, mas, principalmente, sobre um modo diverso de se ler e receber o texto rosiano. Deixemos, pois, falar o diálogo.