Superando o otimismo patriótico da condição de “país novo” que produziu uma “consciência amena do atraso”, o romance social das décadas de 1930 e 1940, com destaque para as obras de cunho regional, assumiu um tom de denúncia que, segundo Antonio Candido, precedeu “a tomada de consciência dos economistas e políticos”. Ainda segundo o crítico, não obstante os melhores produtos da ficção brasileira tenham sido urbanos – pois que desprovidos da atitude pitoresca e da ênfase na cor local –, a realidade econômica do subdesenvolvimento “manteria a dimensão regional como objeto vivo”. O realismo social que se esboça em particular no assim chamado “romance do nordeste”, é momento importante que assinala as transformações no tratamento da matéria social brasileira na literatura. Nesse artigo, em diálogo com o texto “Literatura e subdesenvolvimento” de Antonio Candido apresentamos alguns apontamentos acerca do modo como a literatura de cunho regional, em particular de autores como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa expõem a relação contraditória entre atrasado e moderno de modo a oferecer uma perspectiva crítica em relação ao progresso e à formação nacional.
Autor de contos, novelas e do romance Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa é reconhecido pela engenhosidade de suas narrativas e por um estilo que seria expressão de uma personalidade artística ímpar na literatura brasileira. O poder que suas narrativas têm de surpreender os leitores em suas expectativas convencionais se manifesta de modo singular no último livro do escritor. Neste artigo, pretendemos apresentar e analisar o modo como Tutaméia: terceiras estórias está sistematicamente voltado a desautomatizar o leitor das convenções na apreensão da verossimilhança e como suas estórias e prefácios encenam aquilo que, segundo Bakhtin, seria a característica do romanesco enquanto gênero: o “criticismo”.
Esta pesquisa tematiza os estudos sobre a relação entre Geografia e Literatura, a partir da análise das interpretações sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, por meio da qual elaboramos uma reflexão crítica à modernização entendida como formação e generalização das relações sociais capitalistas. Para isso, investigamos algumas interpretações que relacionam a prosa rosiana e a literatura regionalista, apresentando alguns nexos para pensar a noção de região sistematizada na Geografia. Nesse percurso, situamos algumas questões acerca do tratamento recorrente da questão regional no Brasil, aprofundando o estudo da obra de Guimarães Rosa em relação aos debates sobre a formação do país. Discutimos o processo de formação da aparência de autonomia entre as esferas política e econômica, expondo criticamente os discursos sobre a região e a necessidade do planejamento estatal, problematizando também a aparência de autonomia dos campos intelectual e artístico.