Neste artigo, são analisados comparativamente o romance de formação paradigmático Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe, e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva teórica de Mikhail Bakhtin.
Autor de contos, novelas e do romance Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa é reconhecido pela engenhosidade de suas narrativas e por um estilo que seria expressão de uma personalidade artística ímpar na literatura brasileira. O poder que suas narrativas têm de surpreender os leitores em suas expectativas convencionais se manifesta de modo singular no último livro do escritor. Neste artigo, pretendemos apresentar e analisar o modo como Tutaméia: terceiras estórias está sistematicamente voltado a desautomatizar o leitor das convenções na apreensão da verossimilhança e como suas estórias e prefácios encenam aquilo que, segundo Bakhtin, seria a característica do romanesco enquanto gênero: o “criticismo”.
No âmbito do universo fáustico que transita do Fausto, de Goethe, a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, o propósito desta comunicação é abordar uma relação historicamente estabelecida entre demonismo e homossexualidade. Destaco algumas obras do cânone mundial em que o tema aparece, desde a Divina Comédia, de Dante, a Orlando, de Virgínia Woolf, para então adentrar na complexidade da relação de afeto entre Riobaldo e Diadorim, abordando alguns episódios do romance de Rosa. Para tanto, conto com o suporte teórico de Mikhail Bakhtin e de Michel Foucault, entre outros. Como ponto de partida, utilizo um aspecto da cena “Inumação”, que antecede e prepara o desfecho da tragédia de Goethe, em que o diabo enamora-se dos mancebos que conduzem a alma de Fausto à salvação. Tal deslize provocado pelo desejo homoerótico contribui para que Mefisto perca definitivamente a aposta com o Altíssimo. Conforme Haroldo de Campos, esse demônio vencido pela luxúria alinha-se à proposição desenvolvida po
Neste artigo, buscamos contextualizar o legado de Mikhail Bakhtin relacionado a
Goethe e apresentar informações sobre a atualização da obra do próprio Bakhtin, a qual teve, em
anos recentes, sua versão completa e definitiva. Também realizamos um pequeno estudo
comparativo do tratamento expressivo dispensados aos números no Fausto de Goethe, em
Gargântua e Pantagruel, de Rabelais, e no conto “O recado do morro”, de Guimarães Rosa, de
uma perspectiva bakhtiniana