O ato de mover-se pelo espaço é marcado por amplos significados que são produzidos por sujeitos para os quais a mobilidade quase sempre representa mais do que um deslocamento físico. Para refletir sobre a produção de sentidos para o deslocamento espacial, propõe-se uma leitura de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa. A imagem central dos “corpos em baile” neste livro remete ao movimento como alternativa de vida, muitas vezes como única opção de sobrevivência, ou como solução que resulta da esperança de mudança de vida no contexto do sertão brasileiro; é também construída por sujeitos em crise, em que a estrada representa seu próprio devir. Este artigo apresenta uma reflexão sobre os mais diversos sentidos produzidos pelos personagens rosianos no que tange a temática da viagem, articulando-os aos conceitos de errância, travessia e peregrinatio. Os personagens das novelas Dão-lalalão (O Devente), Recado do Morro e Estória de Lélio e Lina estimulam uma reflexão sobre o deslocamento como experiência socioespacial e simbólica no contexto do sertão brasileiro. A partir da análise interpretativa das narrativas, o resultado da discussão levantada sugere a viagem como um dos aspectos centrais das estórias e, sobretudo, como condição extremamente arraigada nas relações espaciais e nas noções de ciclos que se sucedem no movimento da vida e da experiência.
O objetivo deste estudo foi investigar alguns contos de Guimarães Rosa sob o contexto inter-disciplinar entre Geografia e Literatura, buscando observar como se encontra representado o espaço-ambiente na perspectiva da relação homem-natureza em alguns fragmentos de contos da obra Primeiras Estórias, do autor. No caso em apreço, trata-se de desenvolver processos interpretativos e argumentativos, com abordagem fenomenológica e crítico-social dos contos de Rosa, em Primeiras estórias. Os contos são repletos de neologismos que atribuem novos significados à relação homem-natureza. Sendo assim, a obra Primeiras Estórias não é diferente. Uma obra cheia de labirintos, no qual as emoções mudam a cada leitura, sem dúvidas trata-se de uma obra de ficção que contribui para o enriquecimento da literatura mundial. O termo “estória” nos contos de Guimarães Rosa envolve-se num encanto que os torna profundamente diferentes de quaisquer outras estórias e de qualquer outros “espaços”.
Esta pesquisa tematiza os estudos sobre a relação entre Geografia e Literatura, a partir da análise das interpretações sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, por meio da qual elaboramos uma reflexão crítica à modernização entendida como formação e generalização das relações sociais capitalistas. Para isso, investigamos algumas interpretações que relacionam a prosa rosiana e a literatura regionalista, apresentando alguns nexos para pensar a noção de região sistematizada na Geografia. Nesse percurso, situamos algumas questões acerca do tratamento recorrente da questão regional no Brasil, aprofundando o estudo da obra de Guimarães Rosa em relação aos debates sobre a formação do país. Discutimos o processo de formação da aparência de autonomia entre as esferas política e econômica, expondo criticamente os discursos sobre a região e a necessidade do planejamento estatal, problematizando também a aparência de autonomia dos campos intelectual e artístico.
O escritor João Guimarães Rosa, além de toda a elaboração estética, do significado mítico-místico e da profunda concepção psicológica de seus personagens, deixa transparecer também em sua obra uma preocupação sobre as questões sociais e ambientais que envolvem o cenário regional, nacional e universal do sertão, que também é o mundo. No projeto literário do autor, o sertão e o Cerrado transcendem seus destinos de moldura narrativa, para se conformarem em personagens co-protagonistas das narrações. Um espaço-palco permeado por uma rica e sofrida história, um mundo muito misturado no coração do país. Apesar de evidenciar um continuum espacial em todas as suas narrativas, existem nuances socioespaciais intercaladas entre os livros do autor. Selecionamos nesta pesquisa três momentos ficcionais e alegóricos deste espaço movimentante: a) o sistema jagunço de Grande Sertão: veredas; b) os gerais em movimento de Corpo de Baile; c) e o mundo maquinal de Primeiras Estórias. As nuances ficcionais são reflexos das transformações dos gerais, desde a decadência do jaguncismo no final do século XIX e início do século XX, passando pelo desenvolvimento getulista nos anos 40 e 50, até a inauguração de Brasília, no início da década de 1960. O autor, contudo, não pode acompanhar as intensas transformações do Cerrado nas décadas subsequentes à sua morte em 1967. As mudanças de matrizes de racionalidades levadas pela modernização para o ambiente artístico de Rosa induziram profundas modificações na dinâmica dos recursos naturais e no sistema de uso da terra. Desta forma, objetivou-se nesta pesquisa, além da análise das obras de Guimarães Rosa, conceber uma experiência sensorial com o sertão rosiano na atualidade para absorver sabedorias in locu e compreender de que maneira se articula este espaço movente. A vivência de campo contribuiu para a escritura de sete episódios/insights, contextualizando os três momentos ficcionais de Grande Sertão: veredas, Corpo de Baile e Primeiras Estórias e suas relações com o sertão presente. Concluiu-se que apesar das pressões externas, a cidade não acaba com o sertão. A matéria vertente integradora do ser-tão cerrado continuará a conduzir sua alma, enquanto for dimensão da vida humana, de existência, onde é percebido, vivido e afetivamente experienciado pelos sertanejos. E é de dentro deste lugar onde deve estar o núcleo de resistência que represente uma resposta veemente às tentativas de homogeneização do espaço. Vimos alguns exemplos de resistências socioambientais, cujas propostas locais partem da inspiração na matriz literária de Guimarães Rosa, capaz de transmitir, iluminar e estimular um olhar artístico para o espaço, tal como lentes para uma percepção cativante da realidade.
Esta dissertação pretende analisar o papel que o rio São Francisco assume na obra Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Para tanto, se faz uma profunda análise do conteúdo geográfico que o autor utiliza não apenas nesta obra, mas também em dois livros de contos, Tutaméia e Primeiras estórias. Sendo o autor natural do interior de Minas Gerais, uma área conhecida como sertão dos gerais, se faz a análise de como aspectos geográficos como relevo, clima, vegetação e hidrografia se manifestam em sua obra, bem como se analisa o papel que o rio São Francisco representa para a região sob os aspectos econômico e histórico. Além disso, é feita também a análise de como o rio São Francisco e a hidrografia, de maneira geral, marcam a vida do homem sertanejo, sobretudo a de Riobaldo, que terá a sua vida toda relacionada à presença da hidrografia, marcando a transição de partes de sua vida, onde menino, às margens do São Francisco, conhece Diadorim e, mais tarde, torna-se jagunço e vive aventuras diversas para, no final, também às margens do São Francisco, abandonar a vida de jagunço e converter-se em fazendeiro.
A associação entre geografia e literatura tem sido retomada nos últimos anos, principalmente ao considerar a literatura como importante recurso geográfico em virtude de seu caráter interdisciplinar. Nessa interface também merecem destaque os temas relacionados ao quadrinômio geodiversidade, geopatrimônio, geoconservação e geoturismo, foco atual de debates ambientais diante da intensa utilização do patrimônio natural abiótico vulnerável a ação antrópica e que comporta importantes registros da história da Terra. Desta forma, buscando desenvolver essa temática no sertão mineiro essa tese tem como objetivo principal uma análise integrada entre a geografia e a literatura por meio das obras de Guimarães Rosa sugerindo a delimitação do Roteiro Geoturístico Sertões de Minas Gerais (SMG) por contemplar um significativo Geopatrimônio e Sítios da Geodiversidade (SG) na área do Circuito Guimarães Rosa (CGR). Para alcançar tal objetivo, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: levantar nas obras de Guimarães Rosa os elementos que representem a paisagem mineira; avaliar os SG mais significativos do ponto de vista geomorfológico, científico, cultural e histórico das obras de Guimarães Rosa; e propor instrumentos de divulgação dos SG do sertão rosiano, especialmente para o geoturismo. Para o proposto, a pesquisa baseou-se em um modelo de avaliação do geopatrimônio para o Roteiro Geoturístico SMG elaborado a partir da adaptação das propostas de Pereira (2006), Pereira (2010) e Ferreira (2017). Por meio desse modelo foi possível inventariar, qualificar e quantificar 20 SG que, ao serem comparados, ilustram o seu potencial de uso. Com os resultados obtidos propõe-se estratégias geoturísticas como rotas e folders interpretativos. As cinco rotas propostas contemplam sempre um SG inventariado além de outros pontos de interesse que trazem informações relevantes acerca dos aspectos geográficos, históricos e culturais regionais. Para auxiliar no percurso das rotas e na interpretação dos demais pontos os folders trazem informações relacionadas à cartografia, história e cultura, além de textos explicativos sobre a temática das geociências. Diante dos resultados obtidos fica evidenciado o potencial geoturístico do Geopatrimônio do Roteiro Geoturístico SMG permitindo a elaboração de novas propostas geoconservacionistas que buscam a promoção, valorização e divulgação do geopatrimônio regional.
O presente trabalho propõe uma reflexão sobre o espaço rural brasileiro a partir da literatura de Guimarães Rosa. Busca-se por esta vereda discutir outros olhares sobre as subalternidades neste espaço, possivelmente emergentes nas escalas de detalhe próprias da literatura.