Este trabalho visa explorar o complexo sistema percorrido pelo ser puro e intransitivo da linguagem literária apontado por Michel Foucault, a qual comanda os fluxos poéticos de Guimarães Rosa em Ave, Palavra, por meio da análise de certos procedimentos de criação linguística e elaboração estilística presentes em toda sua composição; destina-se também a investigar o lirismo que mana do verbo essencial, o qual se dobra sobre si mesmo, ocultando as várias faces da palavra original e a insólita intenção da escrita roseana de reverenciar a arte poética, visto que Ave, Palavra comporta uma ação lírica articulada no espaço soberano da obra.
Partindo de uma entrevista concedida por Guimarães Rosa ao crítico alemão Günter Lorenz, este artigo pretende analisar a poética do escritor brasileiro, baseando-se na relação entre o autor e sua obra. As declarações de Rosa sobre a criação literária e o papel do escritor serão confrontadas com suas narrativas, especialmente “Campo Geral” e “Cara-de-Bronze”, pertencentes ao ciclo de novelas de Corpo de Baile. A discussão terá como base o polêmico tema da “morte do autor”, revisitando os ensaios de Roland Barthes e Michel Foucault sobre o assunto, cujo radicalismo será matizado por
Dominique Maingueneau, que propõe uma solução mais próxima do pensamento de Guimarães Rosa: uma poética formada pela confluência entre o autor e sua obra.
No âmbito do universo fáustico que transita do Fausto, de Goethe, a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, o propósito desta comunicação é abordar uma relação historicamente estabelecida entre demonismo e homossexualidade. Destaco algumas obras do cânone mundial em que o tema aparece, desde a Divina Comédia, de Dante, a Orlando, de Virgínia Woolf, para então adentrar na complexidade da relação de afeto entre Riobaldo e Diadorim, abordando alguns episódios do romance de Rosa. Para tanto, conto com o suporte teórico de Mikhail Bakhtin e de Michel Foucault, entre outros. Como ponto de partida, utilizo um aspecto da cena “Inumação”, que antecede e prepara o desfecho da tragédia de Goethe, em que o diabo enamora-se dos mancebos que conduzem a alma de Fausto à salvação. Tal deslize provocado pelo desejo homoerótico contribui para que Mefisto perca definitivamente a aposta com o Altíssimo. Conforme Haroldo de Campos, esse demônio vencido pela luxúria alinha-se à proposição desenvolvida po