Este artigo examina o imaginário das nomadologias multiterritoriais nos contos Orientação, de Guimarães Rosa, e Um oriental na vastidão, de Milton Hatoum, concebendo-os como espaços textuais onde estão conjugadas a perspectiva do movimento transcultural e intercultural para figurar cidadanias, transferências e trocas interplanetárias.
Este trabalho propomos um encontro entre o Sertão Mineiro, Moçambique e a Amazônia. Geografias culturais e literárias que têm em comum a expressividade da língua portuguesa em interface com a oralidade, a mobilidade, a memória e os imaginários em permanente fricção e reconfiguração, a partir da relação dos sujeitos com a natureza. No livro de ensaios E se Obama fosse africano?, o moçambicano Mia Couto destaca o que, apenas aparentemente, nos parece uma obviedade. Ele afirma: As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas ‘servem’. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser”. Como seres de linguagem, existimos nela [língua], por ela somos atravessados a todo tempo. Nesse sentido, é que “as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica”. Partindo desse pensamento de Mia Couto sobre a fecundidade das línguas, queremos salientar os choques esultantes de três linhas imaginárias peculiares à ação literária dos autores – o Sertão Mineiro, a África moçambicana e a Amazônia brasileira. Três geografias que embora aparentemente dissonantes, são incrivelmente simétricas no desenho que delas nos dão seus autores, dentre as quais relevamos os renovadores aspectos estilísticos da língua em sua opção pela oralidade, a verticalidade do pensamento, a mobilidade dos personagens e das temáticas, o retorno nostálgico da tradicional forma de contar histórias, através de narradores testemunhas porosos. Para tal, colocamos em fricção uma constelação de saberes e ecologias oriundas das narrativas A menina de lá, de Guimarães Rosa; O rio das quatro luzes, de Mia Couto e Estória de meninos, de Tené Norberto Kaxinauwá. Esses textos serão lidos sob os aportes teórico-metodológicos do comparativismo solidário prospectivo e da teoria pós-colonial.
Esta comunicação - intitulada De sertões, rios e orientes – des(re)territorializações rizomáticas da alteridade latino-americana em Guimarães Rosa, José Maria Arguedas e Milton Hatoum - debruça-se na reflexão sobre a figuração da alteridade latino-americana nos romances Grande sertão: veredas, Os rios profundos e Relato de um certo oriente. Essas narrativas serão examinadas sob os auspícios críticos de Antonio Candido, Tania Franco Carvalhal, Silviano Santiago, Cornejo Polar, Benjamim Abdala Júnior, Angel Rama, Walter Mignolo, Marli Fantini, Luis Alberto Brandão, Myrian Ávila, Zilá Bernd, Maria Zilda Ferreira Cury, Eduardo Coutinho, Édouard Glissant, Homi Bhabha, Gilles Deleuze e Felix Guattari, Edward Said, Mary Louise Pratt e Paul Gilroy. Com o auxílio dessa sintaxe crítica, espera-se: 1) mapear os fluxos comunitários e as paisagens literárias; 2) cartografar os lugares do narrar dos romances, analisando como os narradores mediadores conectam geografias planetárias; 3) topografar as
O presente trabalho analisa os contos Orientação, de Guimarães Rosa, e Um oriental na
vastidão, de Milton Hatoum. Esses textos são compreendidos como lugares onde aparecem
cartografados os encontros interculturais entre personagens chinesas, japonesas e brasileiras no
sertão mineiro e na floresta amazônica em projetados em escala global do imaginário
contemporâneo. Zona de passagem intricada, as vozes heterogêneas do texto rosiano e
hatouniano equilibram-se na desterritorialização do imaginário híbrido, imprimindo o ritmo da
travessia para o outro lado de si, além do deslocamento pela atmosfera das latências do outro,
reposicionada na constelação das mobilidades transmigrantes.