Este artigo articula um estudo crítico da narrativa de Grande sertão: veredas a um investimento metacrítico sobre alguns discursos que, historicamente, construíram um certo imaginário do corpo sexuado, desde a biologia do século XVIII à psicanálise freudiana no início do século XX. A hermenêutica que se faz da narrativa investe na potência desconstrutora da análise da localização do personagem Diadorim como corpo-simulacro, que desestabiliza alguns centros estruturais representados nas imagens dos demais corpos circulantes, construídos para gerar um efeito de cenário estático, contra o qual se projeta a dinâmica desta personagem. A construção crítica desta sistemática de representação literária movimenta-se a partir do lugar-olhar do narrador Riobaldo, que estrutura o seu entorno e se estrutura como sujeito a partir de uma certa tecnologia cristã de subjetivação: a confissão.
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA
Esta dissertação figura o percurso de um desejo de articulação entre a metacrítica dos saberes sobre o corpo sexuado a partir do século XVIII até a contemporaneidade e a crítica da narrativa de Guimarães Rosa ? Grande sertão: veredas. Nesse sentido, a trajetória discursiva do corpo se espelha na análise da obra através do diálogo que se instaura entre ciência e poética, a partir do que se defende a tese em favor da possibilidade de leitura da voz narrativa como a voz de um desejo de confissão, que busca tanto a perpetuação do prazer erótico no contar a história, bem como a compreensão da experiência via imagens do corpo.