O objetivo deste trabalho é estudar as relações entre os signos textuais e visuais na
construção de uma narrativa do sertão no livro A João Guimarães Rosa (1969) da
fotógrafa Maureen Bisilliat. O livro contém fotografias das paisagens e habitantes do
norte de Minas Gerais acompanhadas de fragmentos do livro Grande Sertão:
veredas de Guimarães Rosa, que atuam como guia para uma ressignificação das
pessoas e locais retratados. Considerando a nação na perspectiva de Stuart Hall
(2001) e Homi Bhabha (1998), como um sistema de representações sociais que
constituem um tecido de múltiplas narrativas e tendo em foco a identidade nacional
brasileira, que tem no sertão uma de suas mais poderosas representações, buscase compreender como a fotografia de Bisilliat interage com os textos de Rosa na
construção de uma narrativa de identidade do sertão. A partir de Philippe Dubois
(2012) e Boris Kossoy (2016), discute-se a fotografia enquanto possuidora de uma
narrativa própria, que em Maureen Bisilliat, contribui para construir uma noção de
identidade sertaneja/nacional. Na análise, os elementos que compõe a narrativa de
sertão em Grande sertão: veredas foram identificados e classificados conforme a
Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2011). Com base na semiótica de Charles
S. Peirce (2010) e no mapa metodológico proposto por Lúcia Santaella (2002)
executou-se a análise dos signos fotográficos em suas dimensões icônicas e, em
posse dos parâmetros estabelecidos pelas análises de conteúdo e semiótica, foi
estabelecida uma relação entre os signos textuais roseanos e os signos
visuais/textuais da obra de Maureen Bisilliat. Observou-se, assim, que a fotógrafa
realiza uma iconização das imagens, a partir dos altos contrastes entre luz e sombra
e do acréscimo do texto de Rosa, que modifica o seu significado. Além disso,
percebeu-se a presença de um discurso sobre o sertão que se assemelha ao
historicamente construído, em que as características negativas deste se relacionam
a seu isolamento e atraso, enquanto as positivas indicam possibilidade da
superação da condição sertaneja.