A partir de uma discussão sobre a morte, o artigo analisa algumas imagens inspiradas na literatura de Guimarães Rosa que estão presentes em outras linguagens artísticas. São apresentadas as leituras dos textos rosianos realizadas pela fotógrafa Maureen Bisilliat e pelos cineastas Marcello Tassara, Roberto Santos e Glauber Rocha.
Este artigo trata-se de um exercício de aproximação entre duas obras da literatura brasileira – Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa – e as fotografias que Pierre Verger e Marcel Gautherot registraram em viagens pelo interior do Brasil nas décadas de 1940 e 1950. O objetivo consiste em elaborar uma interpretação histórica sobre formas escritas e visuais acerca dos sertões brasileiros.
Esta tese realizou uma análise das relações existentes entre literatura e fotografia, tendo como objeto de estudo a obra literária Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa, traduzida em fotografias de Maureen Bisilliat na obra A João Guimarães Rosa (1969). Apesar de a fotografia ensaiar passos na interação com a literatura desde o seu surgimento em 1849, os movimentos de vanguarda é que propiciaram questionamentos sobre o fazer artístico não só na fotografia, bem como da própria arte em geral. O diálogo entre essas linguagens enfatizou-se sobretudo na escola surrealista, considerada como um marco de inovação e pioneirismo artístico nessa inter-relação. Essa interação propiciou um breve conhecimento de alguns nomes da literatura que dialogaram com a fotografia em suas obras, escritores amantes da fotografia, alguns considerados também fotógrafos. Neste trabalho ocorre uma tradução intersemiótica, ou ainda, uma transposição criativa. A imagem fotográfica não serve apenas para ilustrar as palavras do escritor. Ela dialoga com o texto, e essa construção não se dá de maneira aleatória nem direta. A pesquisa demonstrou que o processo criativo de ambos os artistas é o mesmo na diversidade de suas estéticas. Os dois expressam suas especificidades, mas, ao mesmo tempo, revelam equivalências, seja por convergências ou por divergências, viabilizadas por intermédio de imagens metaforizadas do ambiente sertanejo e em seus habitantes. No romance, foi necessária a fragmentação, em forma de legendas, por parte da fotógrafa para dialogar com as imagens, ao menos num primeiro momento. A feminilidade latente na obra é desvendada através da teoria literária, que apresenta um rica fortuna crítica acerca do feminino em Grande Sertão: Veredas. O ensaio fotográfico é acionado ao tempo que se percebe as personagens aflorando nas imagens literárias em suas legendas, além de diversos elementos que emergem, como as imagens relacionadas com o universo durandiano: o elemento feminino, pertencente ao regime noturno. Maureen Bisilliat faz acreditar na possibilidade de ressignificação da obra rosiana, das relações entre a realidade e a ficção, dualidade tão presente desde o surrealismo, que comunga com o Imaginário de Gilbert Durand.
O objetivo deste trabalho é estudar as relações entre os signos textuais e visuais na
construção de uma narrativa do sertão no livro A João Guimarães Rosa (1969) da
fotógrafa Maureen Bisilliat. O livro contém fotografias das paisagens e habitantes do
norte de Minas Gerais acompanhadas de fragmentos do livro Grande Sertão:
veredas de Guimarães Rosa, que atuam como guia para uma ressignificação das
pessoas e locais retratados. Considerando a nação na perspectiva de Stuart Hall
(2001) e Homi Bhabha (1998), como um sistema de representações sociais que
constituem um tecido de múltiplas narrativas e tendo em foco a identidade nacional
brasileira, que tem no sertão uma de suas mais poderosas representações, buscase compreender como a fotografia de Bisilliat interage com os textos de Rosa na
construção de uma narrativa de identidade do sertão. A partir de Philippe Dubois
(2012) e Boris Kossoy (2016), discute-se a fotografia enquanto possuidora de uma
narrativa própria, que em Maureen Bisilliat, contribui para construir uma noção de
identidade sertaneja/nacional. Na análise, os elementos que compõe a narrativa de
sertão em Grande sertão: veredas foram identificados e classificados conforme a
Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2011). Com base na semiótica de Charles
S. Peirce (2010) e no mapa metodológico proposto por Lúcia Santaella (2002)
executou-se a análise dos signos fotográficos em suas dimensões icônicas e, em
posse dos parâmetros estabelecidos pelas análises de conteúdo e semiótica, foi
estabelecida uma relação entre os signos textuais roseanos e os signos
visuais/textuais da obra de Maureen Bisilliat. Observou-se, assim, que a fotógrafa
realiza uma iconização das imagens, a partir dos altos contrastes entre luz e sombra
e do acréscimo do texto de Rosa, que modifica o seu significado. Além disso,
percebeu-se a presença de um discurso sobre o sertão que se assemelha ao
historicamente construído, em que as características negativas deste se relacionam
a seu isolamento e atraso, enquanto as positivas indicam possibilidade da
superação da condição sertaneja.