Este artigo busca reconhecer alguns pontos de tangência entre os romances Vidas secas, de Graciliano Ramos, As cidades invisíveis, de Italo Calvino, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, sobretudo no que respeita às relações modalizantes entre literatura e meio ambiente. Em meio à diversidade temática das obras indicadas, subjaz o tema da consciência ambiental, que, nas últimas décadas, vem recebendo a crescente adesão não apenas de ambientalistas, mas também de intelectuais, políticos, escritores. O foco na degradação ambiental, no alerta implícito acerca das precárias condições de vida futura em nosso planeta revela um dos nucleares e contundentes problemas a desafiar a agenda contemporânea. Nesse sentido, revela-se paradigmático o “lugar-sertão” rosiano, que, ao difundir seu território, seus valores e denúncias, patenteia uma concepção ambiental inovadora e reticular, em estreito diálogo com as atuais pesquisas interdisciplinares sobre o tema, as quais deveriam doravante guardar, em seu horizonte de expectativa, os paradigmas, as perspectivas e os equacionamentos que alicerçam as artes em geral e a literatura em particular.
O presente artigo procura estabelecer alguns possíveis pontos de contato possíveis entre
literatura e matemática a partir de uma leitura dos textos O barão nas árvores, de Italo Calvino, e
“A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da aplicação do conceito de
literatura potencial e de escrita axiomática do grupo francês OULIPO. Procurou-se, assim, aplicar o
conceito oulipiano de literatura potencial como operador de leitura dos referidos textos,
identificando em seu processo de escritura o axioma como princípio fundamental.
O objetivo deste trabalho é verificar o processo de renovação da literatura por meio do trabalho de Italo Calvino em I nostri antenati e João Guimarães Rosa em Primeiras estórias. A base da comparação será estruturada através de um diálogo intertextual entre as obras. O projeto de ressignificação das obras enquanto conjunto somado à visitação ao passado da tradição literária norteia a análise das narrativas, configurando as consonâncias poéticas investigadas nessa pesquisa. A aparente ruptura com a estética da década de 50 promove o movimento convergente das duas obras e instiga a inovação dos valores atribuídos à estética dita pós-moderna.