Em um país continental como o Brasil, o território contribui na formação de variadas identidades ligadas aos diferentes espaços que compõem a realidade nacional. A tradição literária, ao conferir tratamento estético a tais formações identitárias, elaboram mitos que estruturam o imaginário social referente à noção de brasilidade. Dentre os mitos assim produzidos, o do sertanejo é central tanto para questão da identidade nacional como para o desenvolvimento da tradição literária. Este trabalho aborda a evolução desse signo a partir da análise de obras características de diferentes momentos do sistema literário brasileiro: Os Sertões, de Euclides da Cunha; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; O rio e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto e Essa Terra, de Antônio Torres. A pesquisa revelou que a representação literária fratura a categoria sertanejo em dois gêneros segundo os diferentes roteiros migratórios que eles realizam: o “sertanejo errante” e o “sertanejo retirante”.
O objetivo deste ensaio é investigar, através da análise dos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e de alguns poemas de João Cabral de Melo Neto, o modo como esses autores abordam as ambigüidades do processo de modernização urbana no Brasil, ao elegerem a cidade de Brasília como ponto de partida para uma reflexão sobre as especificidades da interface moderno/arcaico na cultura brasileira.
Este ensaio estabelece diálogos entre o discurso artístico-literário dos escritores diplomatas João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes e o discurso das modernidades tardias no Brasil. Os textos analisados, publicados em meados do século 20, voltam-se para os espaços periféricos e para o homem comum, seu saber, sua inventividade.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
Esta tese estabelece diálogos entre o discurso artístico-literário dos escritores-diplomatas João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes e o discurso das modernidades tardias no Brasil. Os textos analisados, publicados em meados do século XX, voltam-se para espaços periféricos, a que denominamos 'sertão' - áreas excluídas do projeto de modernização do país - e para o homem comum, seu saber, sua inventividade, seu comportamento nem sempre redutíveis aos dispositivos de enquadramento social. Neste trabalho, a escrita diplomática, de caráter oficial, torna-se escritura: discurso permeado pelo pensamento transdisciplinar, pela imaginação estética e pelo cuidado ético. A análise comparada de autores com propostas artísticas e conceituais tão diferentes propicia o surgimento de sentidos pouco evidentes nas obras.
Quando foi inaugurada, a cidade de Brasília visava a marcar um espaço de convergência do Brasil em torno de um ponto situado em seu interior. A cidade, ícone maior do projeto desenvolvimentista de JK, trazia a imagem do arrojo técnico, da vanguarda, do progresso brasileiro. Acreditamos ser próprio do trabalho intelectual trazer à discussão elementos que tornam o espaço não tão tranquilizador. João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa registraram impressões relativas à nova capital federal. Suas criações contribuem para questionar, a partir de imagens heterotópicas, valores relativos ao mito unidade nacional. Por outro lado, os autores apostam na modernidade, sobretudo estética,
como modo de superar estruturas arcaicas.
Pesquisas em acervos onde se encontram textos produzidos por João Cabral de
Melo Neto e João Guimarães Rosa revelam a existência de importantes
articulações entre o posicionamento dos escritores-diplomatas em relação aos
parâmetros técnico-científicos da modernidade hegemônica. Os autores
questionam o empreendimento moderno, no que tange à mecanização
racionalista do mundo, à destruição da natureza e à visão do humano como
“homemmáquina”. Estudos em arquivos literários contribuem para uma maior
percepção a respeito do lugar ocupado pelo poeta e pelo escritor na
configuração da paisagem intelectual de meados do século XX. Ofícios,
diários, cartas, entrevistas encontrados em acervos revelam interseções entre o
caráter estético e ético da escritura e alargam a noção do objeto literário. O
homem comum mostra-se capaz de desestabilizar dispositivos do controle e de
propor espaços mais libertos de existência.