Este ensaio pretende analisar o livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa, e sua transposição para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com adaptação de Alcione Araújo. Tomaremos como foco central do trabalho a noção de comum. Buscaremos verificar como este conceito, tratado por pensadores contemporâneos, aparece nas obras analisadas. O ensaio almeja investigar aspectos da linguagem literária e fílmica e avaliar a relação das personagens com a vida comunitária. Podemos perceber, no livro e no filme, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos modelos predominantes na modernidade ocidental. Ideias sobre compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem da análise dos textos. Mas o trabalho também mostrará o conceito de comum como a dificuldade de se empreender experiências comunitárias, tentando abrir o leque de interpretações sobre a questão. O livro e o filme trazem as ideias do diálogo e do perdão como pontos importantes, sugerindo novas formas de vida social.
O conto “A menina de lá”, de Guimarães Rosa, aparentemente, nos evoca uma leitura recorrente em relação à obra rosiana: um estudo centrado na presença de elementos mágicos no texto. Entretanto, acreditamos que o conto deixa à mostra como uma situação comum pode ser construída como extraordinária tanto por parte dos personagens quanto por parte do narrador da história. Na narrativa, há uma mescla de elementos religiosos e de fábulas que são acionados para entender a fala e as ações da protagonista Maria, chamada de Nhinhinha. Os personagens do conto apostam numa chave de entendimento do comportamento da menina - ela faria milagres-, embora percebamos que todos os episódios vistos como milagrosos, na realidade, poderiam ser pensados também como eventos comuns, se atentarmos à própria mescla de fábulas e religião a que o imaginário infantil está exposto. Guimarães Rosa explora, nesse conto, a potência dos eventos comuns e as diferentes formas de lidar com eles.
Este ensaio visa empreender uma análise do livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa e de sua adaptação para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com roteiro de Pedro Bial e adaptação de Alcione Araújo, tomando como foco central a ideia do comum. Buscaremos verificar como esse conceito, tratado por pensadores contemporâneos, apresenta-se nos textos do corpus. Além de investigar características da própria linguagem literária e fílmica, o ensaio pretende avaliar o modo como, nos contos e em sua adaptação para o longa-metragem, ocorre a relação do homem com a vida comunitária, cotidiana. Podemos perceber, no trabalho de Rosa, retomado por Bial, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos imperativos da modernidade. Ideias de compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem na análise dos textos. Mas o trabalho tratará a noção do comum também como dificuldade de se empreender o viver junto, abrindo assim o lequ