Em 2007, a cineasta Sandra Kogut lança o seu filme Mutum, uma adaptação da novela Campo Geral, a qual compõe o livro Manuelzão e Miguilim, volume que está inserido no Corpo de Baile de João Guimarães Rosa. A relação entre o cinema e a literatura, ou seja, entre o texto rosiano e o filme de Kogut é o ponto central desta pesquisa. Entendemos a adaptação aqui como sendo uma tradução intersemiótica, conceito assinalado por Roman Jakobson e ressaltado na esfera da arte contemporânea por Júlio Plaza (2003) e Thaïs Flores Nogueira Diniz (1999). A partir deste conceito é possível pensar a tradução para além dos limites da língua, alçando outros âmbitos de linguagens uma vez que diz respeito ao processo de interpretação de um sistema sígnico em outro, ou seja, a tradução criativa de uma linguagem para outra. O processo de criação de novas significações que acontece na tradução foi denominado por Haroldo de Campos (2011) de transcriação. É a partir do pensamento de Campos que procuraremos apresentar de que forma foram constituídos os caminhos tomados por Kogut no processo tradutório. Para interpretar a linguagem literária de Guimarães Rosa, percebemos que a cineasta recorre a soluções visuais e sonoras por meio de uma sensorialidade da imagem, a qual é impulsionada pelo silêncio e a atmosfera que é gerada por este (GIL, 2005; COSTA, 2016). Enxergamos que a ausência de vozes e da palavra, e do apelo da música, em que os personagens se calam por longos períodos, gera um silêncio nas imagens elaboradas pela diretora, embora estas sejam rodeadas dos sons e barulhos ambientais. Sobre as formas do silêncio no movimento dos sentidos, Eni Orlandi (1997) nos guiará. Para abordar sobre o silêncio que há na escrita de Rosa e na narrativa do filme, que busca dizer do inefável, do indizível, Gabriela Reinaldo (2005) nos aponta um caminho. Palavras-chave: Literatura. Cinema. Campo Geral. Mutum. Tradução intersemiótica. Transcriação. Silêncio. Atmosfera.
Instituto de Cultura e Arte, Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Em 1982, o artista plástico Arlindo Daibert elabora uma série de vinte xilogravuras inspiradas no romance Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Adotando uma postura de tradutor, Arlindo Daibert investiga as possibilidades de recriação a partir do ponto de vista da mudança de linguagens. As tensões entre palavra e imagem, escritura e oralidade, tão latentes na obra de Rosa, ganham relevo nas gravuras de Daibert. Nesta pesquisa, buscamos explorar essas relações no sentido de percebê-las em suas confluências. As imagens de Daibert não tem caráter meramente ilustrativo, mas dialogam com a obra rosiana fazendo ecoar outros níveis de leitura e interpretação do texto.
Esta dissertação consiste em um estudo do louco e do poeta como personagens na novela "O recado do morro", de João Guimarães Rosa, publicada originalmente no livro Corpo de baile (1956) e mais tarde realocada no volume No Urubuquaquá, no Pinhém (1965) por desejo do autor, ao lado de outras duas narrativas daquela publicação. A leitura da obra revelou um texto que concilia a um só tempo elementos que se agrupam em relações dicotômicas e maniqueístas na cultura ocidental, em que estejam o elemento racional e sua pretensão de verdade no lado positivo das relações de contrários. Portanto, objetivou-se compreender como os tipos sociais aludidos contribuem para a dissolução das fronteiras culturais por meio da construção do personagem, discurso e imagens que emergem deste. Para isso, leu-se a novela a partir do conceito de escritura, pensado por Roland Barthes, que concebe a literatura moderna enquanto espaço utópico de liberdade dentro dos fatos da linguagem. Estabeleceram-se comparações intertextuais e metatextuais a fim de relacionar referências que justificariam as escolhas literárias do escritor mineiro no intuito de pensar novos sentidos para o texto em discussão. Feito isso, percebeu-se que a loucura e a oralidade, compreendidas respectivamente por Michel Foucault e Paul Zumthor, são elementos que questionam a metafísica ocidental desde a própria forma, tal qual a escritura rosiana, cuja análise alude às ideias de pensadores como Friedrich Nietzsche e Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Em 1956 e 1964, o artista plástico Poty Lazzarotto ilustra as capas Corpo de baile, obra do escritor mineiro João Guimarães Rosa. A articulação entre palavra e imagem, ou melhor, entre o texto rosiano e o desenho de Poty é a questão central desta pesquisa. A partir do conceito de tradução intersemiótica, cunhado por Roman Jakobson e discutido no âmbito da arte contemporânea por Júlio Plaza, é possível pensar a tradução para além dos limites da língua, alcançando outros horizontes de linguagens. O conceito de tradução intersemiótica refere-se ao processo de interpretação de um sistema sígnico em outro, ou seja, a tradução criativa de um sistema de linguagem para outra. Neste estudo, debruçamo-nos sobre a obra Corpo de baile, produzida pela Livraria José Olympio Editora, sobretudo a primeira edição, publicada em 1956, inicialmente em dois volumes; e a terceira edição, em 1964, dividindo a obra desde então em Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, no Pinhém; e Noites do sertão. Sublinhamos as aproximações e afastamentos entre a palavra e a imagem a fim de discutirmos os aspectos plásticos e textuais nessas duas narrativas, tanto escrita quanto imagética. Corpo de baile é composto por sete novelas que convergem entre si, estórias que contam estórias. A partir do deslocamento de personagens e estórias que se cruzam, alguns autores percebem unidade nesta narrativa. Entendemos que a unidade neste texto rosiano ganha dimensão plástica nas imagens de Poty, que propõem novas formas de interpretação e diálogo.
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
Esta dissertação propõe investigar de que modo a linguagem de João Guimarães Rosa representa aspectos culturais através de três personagens da novela “Buriti”: nhô Gualberto Gaspar, iô Liodoro e chefe Zequiel, do volume Noites do Sertão, de Corpo de Baile (1956). A pesquisa justificou-se em função da carência de estudos acerca desses três personagens. Aborda inicialmente o projeto estético-literário do autor, em seguida discute a trama narrativa em seus aspectos formais, procurando compreender como o escritor trabalha com o foco narrativo nesta obra, bem como com a configuração do espaço, as manifestações culturais e faz breve consideração acerca do contexto sócio-histórico. Finalmente, investiga a fazenda Buriti Bom e seus habitantes, em especial, os três personagens referidos. Observa que nesta novela a representação cultural segue três níveis de aprofundamento: em nhô Gualberto é superficial, em Liodoro arraiga-se como a tradição e em chefe Zequiel há um caldeirão cultural, no qual se destaca o amálgama de aspectos a que o autor procede para representar o Brasil de dentro, o sertão, sintetizando traços culturais ligados ao âmbito sertanejo, produzindo assim um retrato crítico do país.
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
João Guimarães Rosa definia-se como um homem do sertão e mostrava-se fortemente ligado à terra. Ao longo de sua monumental obra encontramos densos registros sobre essa ligação. Em 1965, revela em entrevista a Gunter W. Lorenz seu peculiar interesse por animais, diplomacia, religiões e idiomas. A biografia do escritor não se dissocia da obra. Dessa forma, evidencia-se em O burrinho pedrês e Conversa de bois - o tratamento conspícuo dispensado aos bichos. Assim sendo, procederemos a um exame das referidas novelas de Sagarana tendo como escopo a estreita relação do homem com a natureza e, mais detidamente, com os animais. Para tanto, utilizaremos textos teóricos que versem acerca da inserção humana em ambiente natural - entre eles os de Leonardo Boff e Nancy Mangabeira Unger - e literários - mitos gregos e latinos e lendas indígenas. Veremos ainda que as novelas selecionadas para análise apresentam crianças e animais. Esses seres interligam-se e vivenciam a atuação de forças sobre-humanas em suas vidas. Ao longo do trabalho relacionaremos ao tema de nossa pesquisa os desdobramentos da autodefinição de Rosa supramencionada em sua existência (infância em Cordisburgo, vida doméstica no Rio de Janeiro, viagens ao exterior e ao interior de Minas Gerais, passeios) e obra (novelas de Sagarana, sobretudo).
As arquitetônicas sertanejas da ficção de João Guimarães Rosa são as categorias que dimensionam essa ficção como um novo gênero narrativo criado, construído e realizado nos sete livros que a compõem. A finalidade deste trabalho é de apresentar um conjunto de reflexões e discussões para fundamentar a hipótese basilar de releitura da obra rosiana a partir do pensamento teórico-filosófico de Mikhail Bakhtin e de redimensionar a teoria bakhtiniana a partir da literatura de Rosa. A tese se apresenta dividida em duas partes, sendo a primeira de apresentação e discussão da fortuna crítica e das categorias teóricas que servem de anteparo para a segunda parte, a análise da ficção de Guimarães Rosa. Cada discussão está ligada através de reflexões filosóficas e críticas para o estabelecimento e confirmação da hipótese materializada na questão: como a fortuna crítica rosiana pensa o sentido estético e ético da forma literária de João Guimarães Rosa? As respostas são direcionadas e redirecionadas em cada um dos quatro capítulos da primeira parte e demonstradas nos quatro capítulos da segunda parte. Além da teoria bakhtiniana, vários pensadores da Literatura, da Filosofia, da Estética e da Cultura surgem ao longo do trabalho a fim de alicerçar e estabelecer as linhas de argumentação principais da tese: os conceitos de Weltanschauung e de Arquitetônica para definição da ficção rosiana como um novo gênero literário, que está nomeado aqui como narrativa arquitetônica.
Análise das representações da criança e dos processos de aprendizagem e formação nos contos de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Parte-se inicialmente da criação de uma tipologia que sistematiza e categoriza as imagens da infância, as suas intermediações familiares, escolares e sociais, bem como as relações que se estabelecem entre os indivíduos e grupos que se afirmam nas narrativas: pais e filhos, alunos e professores. Os espaços nos quais essas mediações têm lugar (natureza, casa e escola) e os percursos de aprendizagem e formação que norteiam a afirmação da infância são também analisados e articulados com várias teorias acerca da constituição do infantil e das injunções de poder que marcam os confrontos e diálogos entre esses atores sociais. Em uma perspectiva interdisciplinar, os campos teóricos da Educação, História e Literatura imbricam-se por meio do pensamento de autores que refletiram sobre a infância e a formação: Norbert Elias, Philippe Ariès, Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin. Além disso, na constituição das infâncias nos contos selecionados, observa-se a interferência motriz de elementos conceituais que delimitam o campo de atuação dos personagens: o conflito, a viagem, o sacrifício, a linguagem, a imaginação, o riso, a morte e o amor. Constrói-se, assim, com a tese um espaço de reflexão sobre as contribuições do texto literário para os estudos pedagógicos acerca da criança e das suas formas de estar no mundo.
Centro de Humanidades, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Este trabalho realiza um estudo sobre a especificidade da relação entre pai e filha para interrogar se a função paterna teria alguma influência sobre o advento da feminilidade para uma filha. Desta maneira, seu objetivo principal consiste em identificar, a partir da análise do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, os caminhos que viabilizem um novo dizer no que concerne à relação entre a função paterna e a feminilidade e que esteja alicerçado nas elaborações de Sigmund Freud e Jacques Lacan. Ao recorrer tanto ao romance de Guimarães Rosa quanto às elaborações psicanalíticas de Freud e Lacan, a presente investigação constata a abertura epistêmica promovida por estes textos em torno das questões sobre o pai bem como sobre a feminilidade e se insere na continuidade das reflexões sobre o tema. Para tanto, apóia-se nas formas inéditas de dizer viabilizadas pela criação literária, nos avanços teóricos promovidos pela obra freudiana e nas ampliações destas mesmas aquisições teóricas proporcionadas pelas elaborações lacanianas. Especificamente no que diz respeito a estas últimas, o trabalho conta com o alargamento das reflexões sobre a função paterna na contribuição teórica de Lacan ao introduzir o conceito de Nome-do-Pai. Daí o título desta investigação - “Os Nomes-do-Pai no Grande Sertão: Veredas para a feminilidade?” – ser interrogativo, portanto, não-conclusivo, uma vez que não poderia pretender a insensatez de um fechamento das questões aqui abordadas, tampouco da obra literária. Isto, evidentemente, não impede que algo mais seja dito. Portanto, a hipótese levantada neste trabalho consiste em verificar se, no Grande Sertão: Veredas, a relação mantida entre o personagem Diadorim e seu pai, Joca Ramiro, impediu ou viabilizou o acesso daquele à feminilidade. Ao final, o que se conclui é que esta relação favoreceu um acesso muito peculiar de Diadorim ao infinito em que a feminilidade se constitui. Por conseguinte, as veredas da investigação se mantêm em aberto suscitando novas descobertas.
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
Esta dissertação tem como objetivo analisar a obra Tutameia – Terceiras Estórias, de João Guimarães Rosa, a partir de uma perspectiva sobre o engodo da palavra literária, e de como seus meandros tecem e elaboram a escrita. O estudo será mais detalhado a partir de três narrativas previamente escolhidas, intituladas "Hiato", "João Porém, o criador de perus" e "Antiperipleia". E é com base no pensamento do escritor francês Maurice Blanchot, que analisaremos a construção da escrita de Rosa diante de aspectos alicerçados por questões como: a impossibilidade da morte no espaço literário, a busca pela origem da palavra como direcionamento da escrita, a instabilidade e a fragmentação da narrativa, que nos conduz a uma imprecisão, bem como a ausência de ordem que se estabelece no universo literário, a que a escrita se submete, dentre outros aspectos. E é através dessas considerações que teceremos comentários a respeito das falas na construção dessa escrita, em que o espaço habitual da palavra, sempre disposto aos estabelecimentos de soluções críveis e de discursos que procuram ater-se ao verídico, encontra o ficcional, que se associa ao lúdico e ao fingimento, forças oriundas da linguagem literária, a desestabilizar tentativas de veracidade.
Esta dissertação tem como objetivo analisar a obra Tutameia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, a partir das questões da linguagem que giram em torno da escritura literária, relação na qual será pensado o tripé que geralmente ronda a literatura: obra, mundo e autor. O estudo acha-se delineado a partir de três segmentos, o primeiro compreende uma abordagem do espaço literário na concepção de autores como Agamben, Battaile, Blanchot, Heidegger, entre outros; o segundo debruça-se nos quatro prefácios de Tutameia,visualizados como pontes do silêncio que levam em direção ao rio: o pensar se dissolvendo em estórias, peripécias de um fragmento; o terceiro é um convite ao mergulho na escrita rosiana. Para tanto, foram selecionados os seguintes contos: Antiperipleia e Se eu seria personagem. A proposta do estudo, em linhas gerais, é um pensar sobre a literatura, a in-útil no mundo, o fantasma de morte que, impossibilitado de morrer, vem ao homem por ruídos, o eterno jogo de apreensão de um vazio que escapa entre os dedos: condição para o poeta.
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
O trabalho que desenvolvemos conta com três capítulos. Nele, abordamos como objeto de estudo primeiro os prefácios de Tutaméia- Terceiras Estórias, último livro publicado em vida pelo autor João Guimarães Rosa, enquanto paratextos e também enquanto produção literária. Nossa análise perfaz o caminho que os prefácios tomaram dentro da Literatura Brasileira e como chegaram a ser tratados por muitos autores, inclusive por Guimarães Rosa; como literatura – o que foge à sua definição primeira. Pretendemos com este trabalho, dar uma contribuição aos estudos de Teoria Literária no que tange à questão dos paratextos e, ainda, explorar a linguagem literária de Guimarães Rosa – levada para os prefácios que são literários e ao mesmo tempo compõem uma arte poética acreditada pelo autor, trabalhando também a questão de que o artista se valeu de toda sua erudição, principalmente do conhecimento que tinha de várias línguas para compor sua obra.