No presente artigo pretendemos analisar dois contos do sistema literário das literaturas de língua portuguesa, Conversa de Bois de Guimarães Rosa e Estória da Galinha e do ovo de José Luandino Vieira, com o objetivo de apontar a violência e a busca pela liberdade vivenciada pelas crianças nas duas narrativas. A nossa análise sustenta-se no aporte teórico de SCHØLLHAMMER (2013) acerca da violência, em LORENZ (2002) e BOSI (2002) sobre a resistência. Verificamos que os dois autores tem semelhança no trato dado a resistência tanto pelo tema quanto pela escrita e no fato de que as crianças resolvem os conflitos de duas formas: Tiãozinho com o auxílio dos bois em Guimarães Rosa e Beto e Xico com o respeito a tradição sem auxílio de ninguém.
Este artigo pretende refletir acerca das investigações da Crítica Literária, relacionando-se o papel do crítico à experiência pela qual passa o “Menino” – personagem protagonista dos contos As margens da alegria e Os cimos, de Guimarães Rosa. Tal reflexão se desenvolverá sob o viés teórico-metodológico de estudiosos da área, tais como os de Jorge Wanderley (1992), Benedito Nunes (2009), Afrânio Coutinho (2009), Antoine Compagnon (1999), Terry Eagleton (1977) e de Nancy Huston (2010), dentre outros que dão suporte aos temas aqui levantados, seguindo-se uma postura crítico-analítica acerca do liame entre o crítico, a teoria literária e a literatura.
O objetivo deste estudo foi investigar alguns contos de Guimarães Rosa sob o contexto inter-disciplinar entre Geografia e Literatura, buscando observar como se encontra representado o espaço-ambiente na perspectiva da relação homem-natureza em alguns fragmentos de contos da obra Primeiras Estórias, do autor. No caso em apreço, trata-se de desenvolver processos interpretativos e argumentativos, com abordagem fenomenológica e crítico-social dos contos de Rosa, em Primeiras estórias. Os contos são repletos de neologismos que atribuem novos significados à relação homem-natureza. Sendo assim, a obra Primeiras Estórias não é diferente. Uma obra cheia de labirintos, no qual as emoções mudam a cada leitura, sem dúvidas trata-se de uma obra de ficção que contribui para o enriquecimento da literatura mundial. O termo “estória” nos contos de Guimarães Rosa envolve-se num encanto que os torna profundamente diferentes de quaisquer outras estórias e de qualquer outros “espaços”.
Os contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, primeiro e último, respectivamente, do livro Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa são analisados comparativamente objetivando investigar o olhar da personagem infantil em relação ao espaço ao seu redor. Ambos os contos trazem a figura de um Menino que se desloca de casa para um lugar onde uma grande cidade está em fase de construção. Acredita-se que o espaço seja um elemento que possibilita conceber a imersão dessa personagem, enquanto sujeito perceptivo, em um mundo socialmente partilhado. Dessa forma, a análise feita se sustenta em teorias que discutem o espaço ficcional enquanto materialização das experiências humanas, nos contos, mais especificamente, das percepções e experiências da personagem infantil.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
O artigo lança um olhar sobre textos primorosos dos escritores Guimarães Rosa e Miguel Torga, dois dos maiores autores em Língua Portuguesa: os contos “A benfazeja” e “A Maria Lionça”, respectivamente. Nos dois textos, de uma sensibilidade e beleza peculiares, foram identificados os elementos que corroboraram para a construção de personagens femininas tão ricas e complexas, donas de uma força e generosidade que chegam a ser sobre humanas; a íntima relação que estabelecem com a paisagem, o local onde vivem – respectivamente o sertão brasileiro e a região de Trás-os-Montes, em Portugal –; e como os autores conseguiram tornar as duas narrativas, embora arraigadas aos costumes e experiências de suas terras natais, impregnadas de um profundo sentido universal.
O artigo reflete mais diretamente sobre duas das sete narrativas de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa (1956). Com o desdobramento em 3 outros livros que se dá na 3ª edição (1964/65), “O recado do morro” e “Cara-de-Bronze” passam a integrar o “Livro 2” da obra: “No Urubuquàquà, No Pinhém”, também formado pela novela “A Estória de Lélio e Lina”. A proposta coloca em diálogo as mudanças editoriais do livro no tempo, atestadas nas correspondências do escritor, com os enredos e temas das duas narrativas, apontando e analisando um movimento de escrita que ao mesmo tempo é artística e histórica. Nessa perspectiva, concebe-se o sentido histórico delineado em uma composição literária elaborada no uso de outras linguagens artísticas. Assim, menciona-se no artigo a linguagem cinematográfica, elaborando historicidade na narrativa, e corporeidade sonora das imagens, onde se situam as marcas musicais. Pela trama literária, estará marcada o que apontamos como temporalidades múltiplas, que escrev