Neste trabalho, propomos a reflexão sobre a violência em dois contos: “Uai, eu?”,
de Guimarães Rosa, e “O Evangelho segundo Marcos”, de Jorge Luís Borges. O modo como
a violência aparece nessas duas narrativas é especialmente produtivo. Em comum, os textos
apresentam a temática intermediada pelo discurso inverso (o da paz e do amor). O resultado
dessa operação às avessas é em Guimarães a discussão de concepções estruturantes do Estado
Moderno, a saber, seu aparato legislativo e regulatório. Já em Borges aparece a reflexão sobre
uma “estética da margem”, de onde se pode fazer as mais inusitadas traduções de uma
tradição legada. Nos dois contos, podemos perceber, em relação à violência, uma tradução
equivocada ou uma tradução famigerada (para usar uma palavra rosiana), acionada como
mecanismo de afirmação não só do estético, mas principalmente de identidade. Tais traduções
são chanceladas pela Buenos Aires moderna, fértil de mesclas e bricolagens, e pelo sertão
rosiano, lugar de cruzamentos de tempos e espaços diversos da modernidade brasileira.
Aparece nos dois textos uma compreensão de uma “modernidade periférica”, espaço
produtivo onde se articulam soluções culturais interessantes e singulares a partir das grandes
tradições europeias.
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