Este trabalho tem por objetivo analisar a condição de proprietários das personagens Paulo Honório e Riobaldo, protagonistas dos romances S. Bernardo e Grande sertão: veredas, escritos por Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa, respectivamente. Vamos investigar o percurso que ambos traçaram para sair da condição de pobreza e serem alçados ao posto de donos de terras, os mecanismos de violência que empregaram e a maneira como lidam com seus dependentes. Tentaremos demonstrar como a formação desses proprietários se deu em um momento no qual o país vivia um processo de modernização conservadora, totalmente dissociado da inclusão social. Dessa forma, eles não hesitarão em empregarem violência, práticas clientelistas e presentear seus dependentes com migalhas, para conseguirem e assegurarem suas propriedades.
Reconstruindo suas rotas, o escritor Guimarães Rosa cantou sua terra e os muitos lugares por onde andou, os quais, por vezes, nem constavam nos mapas do Brasil ou do Estado de Minas Gerais. As memórias e narrativas aqui apresentadas tratam desses lugares, suas paisagens e cenários, narrados por sertanejos que construíram modos de sobrevivência e subjetividades naquela região do Grande Sertão.
O objetivo do presente trabalho é o de avaliar a recepção da tradução catalã do romance Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa, realizada por Xavier Pàmies e publicada pela editora Edicions 62 em 1990. Anteriormente, na Catalunha, havia sido divulgada a obra rosiana a partir da tradução em espanhol de Ángel Crespo, publicada em 1967 pela editora Seix Barral com sede em Barcelona. Assim, examinamos o impacto daquela primeira tradução no conjunto dos países hispano-falantes, no que se inclui a Catalunha integrada no Estado espanhol. Em seguida, apresentamos o tradutor, Xavier Pàmies, e o contexto sócio cultural em que apareceu a tradução para o catalão tentando assim elucidar a difusão que teve na comunidade leitora e intelectual de fala catalã. Por fim, fazemos uma reflexão sobre os termos sertão e veredas, chaves que conformam o enigma do título, mas que apresentam grandes dificuldades para a sua adaptação no âmbito das línguas ibéricas, tanto para o catalão quanto para o espanhol.
Em Grande Sertão: Veredas (1962), o narrador Riobaldo alude a um interlocutor que escuta sua narração. Em Nove Noites (2002), de Bernardo Carvalho, um dos narradores, Manoel Perna, realiza um procedimento semelhante ao endereçar sua narração a um interlocutor que não conhecemos igualmente. Assim, há um ponto de contato entre a narração de ambos os romances do qual advém a formação da identidade individual pelo contato com a alheia. Neste artigo discutiremos este ponto de contato a partir do ‘ponto de sutura’, de Stuart Hall, e apresentaremos os efeitos depreendidos dessas interlocuções a partir de uma base teórica narratológica.
Este artigo busca indicar o autêntico realismo presente em Grande Sertão: Veredas a partir de princípios estéticos elaborados por György Lukács, com ênfase na lógica dialética e na dimensão humanista presentes no único romance de João Guimarães Rosa. A hipótese básica é que o Grande Sertão: Veredas é um retrato de aspectos essenciais da realidade brasileira, sem deixar de captar a singularidade de personagens sertanejos ou de incorporar os movimentos decisivos da modernidade universal, o que o afasta de qualquer quadro metafísico, sempre muito enfatizado pela crítica.
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura
Dos muitos temas que poderiam ser ressaltados a partir da obra, um chamou mais atenção: a temática do tempo. As questões gerais que irão orientar esta tese giram em torno da temática do tempo, bem como em torno daquilo que se relaciona com as questões do tempo na obra Grande Sertão: Veredas. Quais sejam: o que é o tempo, na obra? O que diz o tempo na obra? Como ele se realiza? Em virtude do quê o tempo é tempo em Grande Sertão: Veredas? Como a narrativa se oferece a uma interpretação temporal? Todas essas questões visam explicitar o que vem a ser a vida do homem enquanto destino de existência, destino de liberdade e ação, em uma palavra, destinação. No caso de Riobaldo, seu destino foi permeado pelo medo e pela coragem. Assim, medo e coragem também constituem a temática da temporalidade em Grande sertão: veredas. Tudo isso perfaz a destinação do homem enquanto um acontecimento extraordinário. Resguardar a realização desse acontecimento é tarefa de todo homem e isto é o que pretendemos demonstrar como sendo a travessia de Riobaldo.
Esta dissertação busca investigar o autêntico realismo presente em Grande Sertão: Veredas a partir de princípios estéticos elaborados por György Lukács e por outros filósofos marxistas. Com isso, representa uma originalidade na fortuna crítica sobre o único romance de João Guimarães Rosa, cuja obra em geral é estudada de modo apartado a qualquer noção de realismo. Questionar essa tendência da crítica faz parte do esforço de demonstrar os múltiplos aspectos realistas desse livro. Nesse sen-tido, nossa hipótese básica é que o Grande Sertão: Veredas é capaz de ser um retrato do Brasil ao mesmo tempo em que singulariza personagens sertanejos e incorpora os movimentos decisivos da modernidade universal, determinada pelo avanço do capita-lismo. A fim de comprovar essa hipótese, esse trabalho investiga a lógica dialética presente nas mais diversas camadas do romance, com especial atenção para a conden-sação artística de distintas dimensões temporais e espaciais, vista sob o prisma do de-senvolvimento desigual e combinado e da correlação real e estética das categorias da singularidade, da particularidade e da universalidade. A dissertação dedica um capí-tulo para apontar como a realidade brasileira se incorpora nos personagens e em deta-lhes formais do romance, e outro capítulo para discutir os significados do mito do Fausto para a literatura universal e para o romance de Guimarães Rosa. Por fim, o capítulo conclusivo propõe um neologismo interpretativo que una a história e a estó-ria, e termina com palavras sobre a brutalidade e a violência, que marcam esse ro-mance e o Brasil.