Neste estudo pretendemos perscrutar, entre a escritura e o escritor, um aspecto da estética rosiana capaz de sintetizar, em alguns momentos, nas conexões das letras, como um ideograma, o caráter polifônico do texto.
Pretendo demonstrar que os conceitos de Gaston Bachelard, forma e matéria contribuem para a compreensão do temperamento literário do Escritor Guimarães Rosa e seus múltiplos narradores.
Faz algum tempo perscrutamos a escritura rosiana em sua tragicidade. Nesse sentido, a maneira como Clément Rosset percebe o silêncio em seu livro A lógica do pior se revelou um excelente dispositivo teórico para pensar o silêncio do sertão. Tomamos a palavra sertão, da maneira ampliada que João Guimarães Rosa o concebeu em sua escritura, isto é, para o escritor mineiro, “sertão é o mundo”. Sendo assim, nossa análise partirá de uma ideia mais geral do silêncio, não desgarrado da vida, sobretudo contemporânea, na sua relação com a técnica, para enfim se debruçar sobre o que queremos divisar no sertão: o silêncio trágico.
Neste trabalho analisamos algumas imagens da água no romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, sob duas perspectivas complementares, ou seja, valer-nos-emos tanto de operadores teóricos buscados tanto ao universo do "símbolo" quanto ao da "metafísica". Sem nos desviarmos do "local", buscaremos descortinar, nas águas do sertão rosiano, uma consonância com as águas do mundo.
Pretendemos analisar o conto “Soroco, sua mãe, sua filha”, do livro Primeira estórias, de João
Guimarães Rosa, e revelar aspectos de uma tragicidade nos moldes propostos por Friedrich
Nietzsche em seu Livro, O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Entendemos que os
acontecimentos narrados no conto rosiano traduzem forças apolíneas e dionisícas que,
sobremaneira, expõe tessituras tramadas entre os gêneros do conto e da tragédia. O conto narra a
estória de Sorôco, um homem do povo que, numa sociedade marcada pelo controle, sem condições
de cuidar de sua mãe e sua filha deve, a contra gosto, entregá-las aos cuidados do hospício de
Barbacena. Os acontecimentos narrados comportam nuances de uma encenação trágica, cujas
urdiduras perfazem o coro que, pela forma como surge no conto, assemelha-se à maneira como
Nietzsche o percebe na tragédia grega.