O mito de Fausto narra o pacto de um indivíduo com o demônio, a quem vende a alma em troca de poder, riqueza e juventude. A concretização do pacto depende do crédito na exis-tência do demônio, entidade que se manifesta tardiamente na Antiguidade, mas que se tor-na parte do pensamento cristão a partir da Idade Média. O mito de Fausto expande-se du-rante o período renascentista e depois, consolidando a personagem “pactária” enquanto pa-trimônio da literatura ocidental, de que são exemplo as obras “A Salamanca do Jarau”, de João Simões Lopes Neto, “A teiniaguá”, episódio de O Continente, de Erico Verissimo, e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.
O presente trabalho busca identificar os fragmentos do religioso presente na Obra Grande Sertão: Veredas. Um religioso que faz parte do cotidiano de seus personagens de forma singular, não estruturada, ambígua, clara e obscura. Portanto, a análise não se detém na história de amor triangular entre Riobaldo-Diadorim-Otacília nem em reflexões sobre a vida, a travessia, o sertão. Busca, em vez, extrair de um contexto mais amplo o que tem relação com o religioso, porém intimamente vinculado às questões existenciais e morais.
O presente trabalho enfoca a reelaboração do mito fáustico, realizada por Guimarães Rosa, identificando como tal mito é incorporado à narrativa de Grande Sertões Veredas.
Este artigo trata das múltiplas inspirações temáticas, estilísticas e atmosféricas que chegam a uma perfeita fusão poética em Grande Sertão: Veredas. Rosa concilia as lições do Kunstmärchen (conto popular artístico do século XIX alemão) com as tradições da poesia popular brasileira.