O objetivo deste trabalho é analisar o conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, observando de que forma acontece a trajetória do herói, bem como sua evolução. Para tanto, atentaremos aos aspectos simbólicos constantes na trama, assim como evidenciaremos a importância da viagem efetuada pelo herói para o seu desfecho.
Esta tese realiza um estudo na obra de Guimarães Rosa, detendo-se, especificamente sobre três contos no livro Sagarana, que são: São Marcos, A hora e vez de Augusto Matraga e Conversa de bois. Seu objetivo toma como categoria específica de análise, o herói, orientando-se segundo duas abordagens. A primeira tem como fundamento o reconhecimento de uma estrutura formal que sustenta as narrativas populares como matriz textual dos contos selecionados. A figura do herói, animada pela série luta-provação-superação, advinda do universo popular, evidencia o mito como ideia especulativa e filosófica sobre a existência. Na base temática da unidade formal de nossos contos identificamos as variantes da sátira menipeia, que remontam diretamente ao folclore carnavalesco (o tempo coletivo que torna possível a vizinhança das coisas e dos fenômenos de onde nós saímos e para onde voltaremos). A particularidade mais relevante do gênero da menipeia que capturamos em nosso recorte é a criação de situações extraordinárias pelos jogos de oximoros, com o intuito de provocar a experimentação de uma ideia filosófica. O caráter temático dos contos de tipo carnavalesco está por sua vez vinculado estreitamente ao sistema histórico-cultural da vida comum do sertanejo. Assim, a segunda abordagem pretende seguir a lógica cultural e simbólica da estrutura sócio-histórica representada, propiciando um trajeto investigativo que vai do imaginário de um grupo bem definido (crenças, código de honra e vingança) às relações sociais e vice-versa. Nosso percurso analítico em torno da obra Sagarana toma como ideia crítica fundamental a noção de que a arte rosiana desencadeia uma reflexividade em que múltiplas correspondências podem surgir a partir de uma constelação de elementos aparentemente díspares. Nos contos selecionados, dedicamo-nos a estudar como os acontecimentos morais e históricos da vida do sertanejo, constituindo a sua visão de mundo, cruzam-se com o caráter cíclico (tempo mítico) que a obra assume interessadamente, realizando a sua unidade artística.
O presente trabalho propõe-se a realizar uma análise de contos integrantes da literatura brasileira contemporânea, a saber: A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; O cobrador, de Rubem Fonseca; e A maldição de Tibério, de Arturo Gouveia. Baseando-nos na categoria da violência, que é comum às narrativas enfocadas, procuramos investigar como esta se instaura como elemento intrínseco, afetando o conteúdo e a forma dos textos. Após o estudo dos contos, mormente a partir da ação dos heróis, traçamos um paralelo, a fim de evidenciar as peculiaridades da configuração da violência engendrada nos referidos. Concluímos que a
compreensão da categoria da violência é fulcral para as narrativas contemporâneas em tela, tanto sob o aspecto temático quanto composicional, o que corrobora,considerando especialmente este último aspecto, a atipicidade estética.
Este estudo se propõe a analisar a caracterização de Riobaldo e
Diadorim, personagens de Grande Sertão: Veredas e seus percursos dentro da
narrativa, buscando identificar traços que possam aproximá-los ou afastá-los
da construção de heróis trágicos no drama clássico. A pesquisa foi realizada
a partir da definição de herói trágico de Aristóteles apresentada em A Poética,
além das considerações de Georg Lukács sobre a formação do romance, e
dos estudos de Pasta Junior acerca da narrativa de Guimarães Rosa.
Inicialmente o estudo foca em realizar uma reflexão sobre as formas
literárias e como estas estão relacionadas com os contextos sociais nos
quais foram produzidas, estabelecendo assim as diferenças imanentes do
drama e do romance; então, se volta para a análise da estrutura de Grande
Sertão: Veredas e suas possíveis semelhanças com a tragédia clássica. Esse
percurso desagua na análise da caracterização dos personagens: Diadorim,
constituído pela ambiguidade, serve de mito complexo para o romance, e é
movido por um desejo de vingança que lhe predestina à morte. Riobaldo,
como narrador e protagonista, estrutura o romance de forma a sublimar
violências do cotidiano, apresentando fatos em chave grandiosa, e cria a
revelação que dá ao leitor a sensação de efeito trágico.
Propõe-se neste estudo que a imagem do herói simbolizada na obra Dom Quixote
(1605/1615) — “verdadeiro patrimônio da humanidade” (VIEIRA, 2002, p. 9) — de Cervantes
(1547-1616), tenha exercido influência sobre a memória da literatura brasileira, incidindo,
sobretudo, na obra de Guimarães Rosa (1908-1967). A grande criação do “príncipe dos
engenhos”, o Cavaleiro da Triste Figura, tal qual um mito do idealismo moderno (WATT, 1997),
continua a influenciar nas mais diversas esferas e regiões, por tratar-se de “imagem eterna”
(MIELIETINSKI, 1987, p. 119) como expressão máxima do idealismo presente no espírito
humano. Guimarães Rosa entrevê grandes possibilidades de leitura acessadas pela obra que
nos propõe “realidade superior e dimensões para mágicos novos sistemas de pensamento”
(ROSA, 1967, p. 3), a partir da risada e meia provocada pelo gênio cervantino. Interessa-nos
revelar como os ricos caminhos de significação abertos pelo cavaleiro manchengo do século
XVII resvalam na ob